quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Conto: Uma noite no hospital de Castilho


Não é um conto. Sabe, “conto”, aquele gênero literário, obra de ficção. Mas “conto”, o verbo em primeira pessoa. Eu conto. Vou contar algo que vi, realmente. Bem que poderia ter sido ficção.

Era sábado, 19 de janeiro de 2013, 20 horas. Estava em uma reunião na casa de um amigo, no bairro Nova Yorque. Conversávamos (em português) sobre a metafísica cristã quando, de repente, alguém bate palmas. Não eram as palmas famintas de um pedinte ou as palmas traiçoeiras de um ladrão, mas palmas de socorro.

Abrimos o portão. Era uma senhora. Não estava bem. Era pálida. Minto. Estava pálida. Tremia. Gaguejava. Queria água. Queria entrar. Queria o telefone. Queria um carro. Queria o hospital. Peguei as chaves. Voamos, os três, para o José fortuna. Quem foi José Fortuna? Foi? Fomos.

Enquanto eu acelerava, meu amigo tentava conhecer a senhora. Queria acalmá-la. Ela tinha se mudado, com o filho adulto, naquela semana. Não conhecia ninguém. Nos conheceu. O filho estava visitando a filha em Mirandópolis. Ela não tinha celular para chamar um moto-táxi. Por que não usou o orelhão? Não há moto-táxi em Castilho. Onde estão os orelhões?


Chegamos. O hospital foi reformado. Credo, que verde mais feio. Quantas crianças morreram aqui mesmo? Nossa, bastante gente esperando. Ao menos os bancos são suficientes. Ela está passando mal, podem atendê-la na frente? Entre. Naquela sala para medir a pressão. Já havia outra senhora.

 Enquanto eu observava se a senhora que trouxemos estava bem, meu amigo conversava com um cara no corredor. “Rapaz, o negão ta aí dentro com o médico faz meia hora”, dizia ele. “Falou pro médico que machucou jogando bola, mas ele machucou foi caindo com a minha moto”, continuava. “Esse bicho joga bola, hein?”, lembrou meu amigo. “Mas toma uma pinga lascada”, retrucou o cara. E acrescentou: “deve estar tomando uns 100 pontos, só pode...”.

Já fazia mais de 30 minutos que esperávamos pelo médico e também pelo negão, que costurava a boca. Chegou um rapaz com uma criança. Que bonitinha, nem parecia doente. O negão sai com um sorriso etílico. 10 pontos no queixo. A senhora que trouxemos estava mais calma. Fez amizade com outra senhora que estava na mesma sala, esperando...

Vi o médico. Era novo. Cabelo estilo Neymar. Ele sai da sala em que estava costurando a boca do negão e vai para a sala de atendimento. 46 minutos de espera, sem atendimento. A senhora que estava na sala de pressão, não a nossa, a outra, foi atendida. 5 minutos. Ela sai. Agora a criancinha. 4 minutos, ela sai. Agora a nossa senhora. Nossa senhora!

Meu amigo entra junto. Eu vou para a recepção. Nossa, a sala está bem mais cheia.

Lá, ele relata ao médico os sintomas que ela apresentava quando nos pediu ajuda.  Ele observa, faz algumas perguntas e diz que ela pode ir embora. 2 minutos.

 Meu amigo se desespera. Informa que ela é só e que se voltasse para a casa agora e passasse mal novamente poderia até morrer.O filho foi ver a filha. O médico observa. Aceita a intervenção. Pede que a senhora fique mais um pouco. Lá na sala onde ela conheceu a outra senhora. Em observação.

No fim, eu penso: Quem é José Fortuna?

É verde, com cheiro de novo e apenas um médico. A senhora ficou bem.


Samuel Carlos Melo

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Carnaval





Vem chegando o carnaval. Dizem alguns que se trata do verdadeiro réveillon nacional e que a partir daí as coisas começarão realmente a funcionar. Dizem também que é a festa do povo, o ápice da felicidade e da liberdade, a maior comemoração popular do planeta, a festa da carne. É, é muita coisa esse tal de carnaval.
Particularmente, não vejo todo esse glamour, toda essa pompa. Calma, não vou demonizar a festa também. Tenho boas lembranças das matinês no CTC. Com todo esse corpanzil que Deus me deu, cheguei a ir fantasiado de He-man (pena não ter a foto pra postar). Como é bom ser criança!
Mas não posso me furtar a comentar a putaria que rola pelas micaretas desse pedaço de terra chamado Brasil. Talvez aqui na pequena Castilho o pudor caipira e o fato de todos conhecerem a todos reprimam os instintos sexuais e a orgia, mas num lugar onde “ninguém é de ninguém”, onde “quem está na chuva é pra se molhar”, as coisas desandam. Fora isso, temos o consumo excessivo de álcool por quem nem deveria ingeri-lo e as drogas. Estas também batem recorde de vendas, mas o governo não lucra com isso. Só vê o resultado quando, dum morro qualquer, duma periferia, vem um tiro de uma arma que deveria ser de uso restrito derruba mais um policial.


Uma coisa que me deixou um tanto perplexo desta vez foi o fato de alguns prefeitos terem desistido de investir uma parte da grana em carnavais e repassado a verba pra saúde. Mais perplexo fiquei quando vi alguns comentários dizendo que a atitude não passava de politicagem e má administração do erário. Como um promoter, o prefeito deveria ter contratado os shows, ajeitado o recinto e demais acessórios do evento com dinheiro público e depois cobrar entrada para que os munícipes pudessem pular o carnaval. Lucro certo! Você compra a carne, a cerveja, dá a casa e depois paga pra entrar e comer. Bis in idem! Ademais (não fui pesquisar), mas acredito que a finalidade da administração não seja fazer shows ou qualquer outra atividade privada lucrativa e depois repassar a grana pra saúde, educação, etc. Tem cheiro de ilegalidade!
No mais, é uma época de muita alegria, de muito entusiasmo e muita diversão. Todos aguardam ansiosos pelo feriado. Uns pra pular e festar, outros pra descansar, outros pra viajar e ver a família. Eu vou passar estudando pra ver se em 2014 consigo viajar, quem sabe, pra algum lugar qualquer do Rio Grande do Norte! Talvez apenas passar um tempo sossegado balançando numa rede...

Márcio Antoniasi

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

a letalidade de nossa estupidez


              
             Difícil começar o texto de hoje sem ser óbvio, afinal, falarei do óbvio: a tragédia de Santa Maria. Os jornais na TV e na internet vão pelo caminho de sempre: excesso de informação supérflua e sensacionalismo. As mídias sociais jogam nas nossas caras a idiotice humana. Na verdade, como passei parte do domingo off, só fiquei sabendo do ocorrido no final da tarde. Entrando no facebook, me deparei com um converseiro mole sem fim.
                Não sei sobre o que falar sobre o ocorrido. Quando vi os perfis dos mortos, suas fotos e histórias me lembrei de uma outra tragédia, a do Morro do Bumba, no Rio de Janeiro. Isso porque, terrível distinção, até na morte a situação social faz diferença, afinal, os mortos do Bumba não tinham perfis. Parece-me que até hoje tem famílias que não conseguiram enterrar seus mortos porque não foi possível encontrar os corpos nos entulhos. Também não se pode precisar o número exato de mortos (a versão oficial fala em pouco mais de 250) porque algumas famílias podem ter desaparecido por completo, sem ter ninguém para reclamar o desaparecimento. Terrível.
                Também me lembrei do Tsunami de 2004 que matou cerca de 223 mil pessoas. Ao fazer a relação do tsunami com o caso de Santa Maria, cheguei à conclusão de como a estupidez humana é letal, mesmo quando comparada as piores fenômenos da natureza. Ora, a hecatombe ocorrida no Oceano Índico matou quase mil vezes mais do que a tragédia de RS, no entanto, se formos fazer uma mórbida relação de custo benefício, nossa estupidez vence fácil. Ora, para matar as 200 mil pessoas, a natureza precisou movimentar forças apocalípticas. O terremoto que gerou o tsunami alcançou 9,1 na escala Richter, o que, segundo os especialistas, chegou a mover o eixo da Terra. Coloque isso numa balança e do outro lado do fiel coloque uma boate mal feita e um idiota brincando com um sinalizador. E o que temos? Nossa idiotia é muito mais letal.
                Um terremoto é inevitável, uma tsunami também. Mas fazer acessos para as pessoas saírem de um recinto em caso de emergência é simples demais.  Sufocar numa caixa de alvenaria com uma única e insuficiente porta para escapar é um jeito muito bobo de duas centenas de pessoas morrerem. Bobo, mas previsível, basta que o acaso ocorra. E não precisa ser um terremoto, basta um imbecil para começar o tumulto ou o incêndio.
                Agora é hora dos pais, filhos, maridos, mulheres chorarem seus mortos.
                Nossa estupidez é mais letal que qualquer catástrofe natural.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

BENS PÚBLICOS O PORQUÊ DO DESCASO?





Quero me referir a NOSSA CIDADE, no que diz respeito ao nosso patrimônio publico municipal podemos iniciar nossa fala a respeito dos veículos que compõem nossa frota nos diversos departamentos, haja vista que em 1997 nós tivemos uma reforma de um bom numero de veículos, mas isto não foi o suficiente para atender as nossas necessidades. E aí ano após ano fomos renovando nossa frota com veículos novos. Com isto vêm as minhas perguntas: Como estes veículos são guardados? Com que periodicidade eles passam por revisão? Será que estes veículos são usados como se fosse nossos? Pois adquirir todos estes bens custa caro para o município e precisamos estar atentos de como eles estão sendo utilizados, pois a manutenção é algo que vai aumentando o custo a cada ano em que se adquire novos veículos. Vejo, por exemplo: os veículos da Central de Ambulância sem garagens adequadas, os Ônibus Escolares e as Maquinas do Obras sem garagens cobertas para todos e por ai vai. Então como solucionar estes problemas? Pois quando adquirimos um carro novo, não o deixamos na rua em frente de nossas casas e logo tratamos também de fazer um seguro do veiculo.

Outro bem publico que merece os nossos olhares são os prédios, vocês já observaram como eles estão abandonados e alguns sendo utilizados em situação precária, até quando conviveremos com este descaso. Tenho consciência que nem todos os usuários destes bens têm esta preocupação de zelar pelo o que é publico. Com isto por melhor que seja a administração realmente não iremos ver a cidade dotada de prédios públicos bem estruturados e organizados, pois precisamos nos conscientizar, e apagar a idéia do que já que é publico eu posso usar de qualquer forma; isto encarece para nós munícipes, pois todas as vezes que o administrador tiver que fazer revitalização destes bens ele deixará também de fazer novos benefícios para a comunidade. Quero salientar que este processo de deteriorizaçao não é de hoje e vem evoluindo ano após ano.

Precisamos enquanto funcionário publico ou munícipe sabermos utilizar aquilo que é publico da melhor maneira possível, como se fosse um bem particular. Pois quando objetivamos e conseguimos comprar um bem de consumo temos todo o zelo para com aquilo que adquirimos. Não quero aqui estereotipar ninguém, mas temos que ser consciente de tudo que fazemos em nossas vidas. Será que em cada setor publico municipal temos esta preocupação? Onde a maioria compartilha da mesma idéia. Preservar tudo que é publico? Quero compartilhar com vocês algumas imagens de NOSSA CIDADE para poder enfatizar o porquê deste texto, precisamos nos educar permanentemente. Pense nesta possibilidade!

PROFESSOR TONINHO.
 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A importância de não ser importante e o atraso em Castilho-SP



“As 13 colônias do Norte tiveram; pode-se bem dizer; a dita da desgraça. Sua experiência histórica mostrou a tremenda importância de não nascer importante. Porque no norte da América não tinha ouro; nem prata; nem civilizações indígenas com densas concentrações de população já organizada para o trabalho; nem solos tropicais de fertilidade fabulosa na faixa costeira que os peregrinos ingleses colonizaram. A natureza tinha-se mostrado avara; e também a história: faltavam metais e mão-de-obra escrava para arrancar metais do ventre da terra. Foi uma sorte. No resto; desde Maryland até Nova Escócia; passando pela Nova Inglaterra; as colônias do Norte produziam; em virtude do clima e pelas características dos solos; exatamente o mesmo que a agricultura britânica; ou seja; não ofereciam à metrópole uma produção complementar. Muito dife­rente era a situação das Antilhas e das colônias ibé­ricas de terra firme. Das terras tropicais brotavam o açúcar; o algodão; o anil; a terebintina; uma pequena ilha do Caribe era mais importante para a Inglaterra; do ponto de vista econômico; do que as 13 colônias matrizes dos Estados Unidos.” (GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. p. 146.)

O texto acima é parte de um importante livro que, dentre outras coisas, faz um relato histórico de como se deu o processo de ocupação e desenvolvimento econômico no continente americano. Neste trabalho o autor busca evidenciar através das condições históricas e materiais os determinantes que fizeram com que alguns países se tornassem muito mais ricos e desenvolvidos que outros, vide o caso dos EUA e Canadá frente aos demais países do referido continente.
Assim, Galeano (1986) com sua teoria de “A importância de não ser importante”, mostra que muito do poder econômico atual dos americanos está relacionado às condições naturais encontradas pelos ingleses quando da colonização da América do Norte.
Logo, ao sul deste país encontrava-se um clima mais ameno típico de uma maior proximidade com os trópicos; solos férteis e concentração de minérios, tudo isto fez com que esta região exercesse o papel de exportador de matéria prima para as indústrias da Inglaterra. Ali se desenvolveu a concentração de terras, o trabalho escravo e atividades agrícolas de monocultura como as plantações de cana-de-açúcar, algodão, milho, exploração de minérios, etc.
Já no norte o fato de não terem encontrado riquezas naturais que pudessem ser exploradas de imediato, propiciou o desinteresse dos ingleses em explorar aquela região, adotando uma política apenas de ocupação territorial. Para isso os ingleses incentivaram a colonização através da distribuição de terras. Não houve a formação de latifúndio, desenvolveu-se ali a agricultura familiar, a produção diversificada e o trabalho assalariado, o que estimulou o consumo interno. Tudo isto trouxe o comércio e o desenvolvimento de indústrias locais.
Mais tarde, o país ficaria dividido entre um Sul dominado por uma oligarquia fundiária exploradora de renda da terra e escravocrata e de outro lado um Norte industrial tipicamente capitalista, dominado pela burguesia. Os interesses em ampliar o mercado consumidor e a oferta de matéria prima levariam a burguesia do norte a promover uma guerra interna pelo fim do latifúndio e do trabalho escravo.
O processo de colonização do Brasil se assemelha com o que houve no Sul dos EUA. Os portugueses encontraram aqui farta riquezas naturais que foram exploradas conforme os interesses da Coroa. Uma exploração ao modelo da implantada na região sul do território americano, com concentração de terras, exploração de trabalho escravo e pouca diversidade produtiva, cujo objetivo principal era o de apenas fornecer especiarias como madeira, café, açúcar, ouro, dentre outros, para o comércio e as indústrias da Europa, sendo que na maior parte do tempo esta produção não teve a função de estimular o desenvolvimento da indústria local.
Desta forma, Galeano (1986) vai contrapor às especulações e teorias deterministas que viam o atraso econômico de alguns países como algo inerente à raça ou a cultura de cada povo. Argumentos comuns ainda nos dias de hoje, como, por exemplo, o de que se o Brasil é atrasado em relação a outros países isto se deve ao fato de sermos um povo “ignorante e de cultura oportunista”.
Esta é uma realidade que pode muito bem ser aplicada a Castilho-SP, onde também se desenvolveu o atraso promovido pelo latifúndio, com concentração de terras, monocultura e exploração de renda (uma das principais formas deste tipo de exploração nesta região é o aluguel para uso da terra ou simplesmente a especulação, ou seja, cerca-se uma área e aguarda-se o melhor momento para vendê-la).
As oportunidades no campo ficaram restritas e o êxodo rural fez com que a sobrevivência de uma população inteira dependesse dos poucos detentores de terras. Foi desta forma que alguns destes ganharam status de herói pioneiro, e que como mostra a historia recente castilhense, tantos outros se promoveram politicamente oferecendo empregos de capataz ou de bóia fria aos famintos sem oportunidades.
Portanto, a realidade política deste município, onde muitos buscam amparo no poder público para a situação de pouco emprego e precarização do trabalho em indústrias da região se devem, em grande medida, a todo este processo de acumulo de terras, o que fez produzir considerado exército de reserva de mão-de-obra.
As riquezas naturais que eram pra ser um instrumento de desenvolvimento acabaram por ser objeto de escravização e de atraso para a grande maioria. Trata-se de uma conjuntura que deve ser vista como o resultado da luta de classes.
O apoio à reforma agrária, o incentivo à produção diversificada, além da luta por melhores condições de trabalho em indústrias de Castilho e região, são caminhos a diminuir a dependência ao poder público e a amenizar o poder do atraso.
Dóri Edson Lopes

sábado, 19 de janeiro de 2013

AMORES TÓXICOS



Estava eu zumbizando pela internet quando me deparo com uma matéria sobre relações destrutivas e que tinha como exemplo a relação da cantora Rihanna e rapper Cris Brown, um casal que dá mais notícia por se travarem na porrada e depois reatarem do que pela música que fazem.  A matéria, assinada por Giovanny Gerolla, traz comentários de especialistas que afirmam que esse tipo de relacionamento é uma espécie estratégia criada para compensar a sensação de abandono, em que o indivíduo se torna dominador e tenta obrigar o outro a ficar mais próximo e dependente que puder, ou, por outro lado, o indivíduo busca esse tipo de parceiro dominador para contornar a sua carência. Enfim, não vou dissertar mais sobre isso, talvez outro dia. Mas, ao ler essa matéria, lembrei-me de um conto que escrevi há 3 anos e publiquei em meu blog pessoal. Não lembro, especificamente, o episódio que me motivou a escrever, mas sei que estava relacionado a um caso de amor tóxico como esse de Rihanna e Brown. Deixo, então, esse conto para embalar o sábado de alguém que viva ou está prestes a viver um amor assim, violento e destrutivo: 


Amarelo. No fundo do barraco, sentada no chão de terra, ela brincava, contrariada, com uma boneca defeituosa. “Mamãe, caiu uma perna dela, compra outra pra mim?”. “Não tenho dinheiro”. Onde já se viu uma princesa sem uma perna? Como caminharia majestosamente por um lindo castelo encantado?
Vermelho. A Boneca estava perfeita. Príncipes não lhe faltaram. Apenas castelos, jóias e encanto. Fácil se compensaria. “Você só tem 14 anos! Como será sua vida agora?”. “O inquérito que apura as causas do acidente com o Mercedes-Benz S 280 que se espatifou a quase 200 quilômetros por hora no pilar de um túnel paralelo ao Rio Sena em Paris, matando a princesa Diana, o namorado e o motorista, chegava a 350 páginas no final da semana passada”.
Branco. “De acordo com a Polícia Militar, a criança foi encontrada boiando por um rapaz de 22 anos. Ele tirou a menina da água, enrolou-a em um cobertor e a levou para um hospital da região”. Sorridente, a criança olhava para o céu.

Meu blog: litteraletras.zip.net


Matéria que li: 
http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2013/01/18/rihanna-nao-consegue-se-desligar-de-uma-relacao-destrutiva-entenda.htm

Samuel Carlos Melo

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Dois pesos, duas medidas




Hoje pela manhã, enquanto tentava acordar assistindo TV, ouvi de uma apresentadora de uma programa da Globo, cujo nome não me recordo, dizer que as músicas da cantora britânica Adele são pra quem sofre de “ressaca amorosa”, que são "inspiradas num grande amor que se foi".
Ora bolas, a mim me parece que todo esse charme no vocabulário não passa de um eufemismo, transformando o que no Brasil seria chamado sem mais rodeios de música de corno em algo mais palatável e sofisticado. É transformar cachorro-quente em Mcdonald.
Em terras tupiniquins, a tal "ressaca amorosa" se encontra aos montes no sertanejo, seja no das antigas ou nesse que se convencionou chamar de universitário. Aqui ela se torna coisa de povão!
Não sei de onde vem isso de achar que o que vem de fora é chique, wonderful, que a cultura com sotaque inglês tem gostinho de picanha. Mas de uma coisa eu sei: isso é recorrente.
Já li diversas vezes sobre nosso complexo de inferioridade, ouvi Pelé dizer que antes da Copa de 1958 tínhamos complexo de vira-latas, entretanto, apesar de saber que existe sim alguma coisa estranha, não achei nada de palpável pra explicar. Bom, explicar não é bem minha intenção, apenas refletir.
No futebol atual, por exemplo, nossa "ressaca amorosa" tem sido o Barcelona, admirador confesso do futebol bem jogado brasileiro. Aqui, nada de mais; lá, coisa de alienígena.
Na música, o famoso e grudento "ai se eu te pego", de Michel Teló, é alvo de severas críticas e gozações. Quem ouve e gosta (ouvir todos ouvimos) é tratado como retardado. Mas tem um certo Black Eyed Peas que repete incansavelmente a poética  "boom boom pow, gotta get-get" e leva todo mundo à loucura.
Há sem sombra de dúvidas um peso geográfico muito grande pairando sobre a cultura nacional. É qualidade que vem do extrínseco, não do cerne da própria arte. Enquanto isso Adele ecoa por todos os cantos com sua dor de cotovelo traduzida em "never mind I'll find someone like you".
AÔ, CORAÇÃO APAIXONADO!!!



                                                                                                                          Márcio Antoniasi