quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

"Sauna de aula" e educação de qualidade

Galera, mais como ta calor, ein? Parece que estamos fazendo estágio para o inferno...
Crendeuspai, ta amarrado, eu não vou pra lá, não, vou pro céu, sou um cidadão de bem que está contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social, quero saber desse lance de pisar em braseiro, não!
Chego em casa já corro e ligo o ar condicionado, com o coração na mão em saber que minha mãezinha vai ter que pagar a conta de luz, mas, fazer o que, ninguém vê as alegrias que eu como filho dou a ela.  Agora, sem ironia, verdade seja dita, eu também ajudo bastante aqui!
Esse papo todo de calor do inferno e ar condicionado, me fez lembrar uma discussão recorrente, que tal qual o vírus da dengue, todo santo verão, somos obrigados a debater sobre a questão do ar condicionado em sala de aula. Uns vêem como luxo, frescura, outros, como um artigo necessário para garantir uma melhor eficiência na disseminação do conhecimento, e ai o clima esquenta.
Vivemos em uma região com um clima extremamente quente, onde os termômetros não raramente ultrapassam os 30 graus Celsius. Em ambientes quentes como o nosso, o corpo humano trabalha para garantir a manutenção da temperatura corporal a níveis benéficos para que o mesmo seja capaz de realizar as reações necessárias ao bom funcionamento fisiológico. Ocorre a aceleração dos batimentos cardíacos para que sangue flua mais rápido no sistema circulatório, através da vaso dilatação, migrando dos órgãos internos para a pele,  gerando aumento do consumo de oxigênio, causando aumento da frequência respiratória, aumento da produção de suor, pelas glândulas sudoríparas, entre outras coisas necessárias para garantir a homeostasia corporal, ou seja, o processo de regulação corporal que mantém constante seu equilíbrio.
http://www.cidadenovafm.com/noticias/brasil/80925
O fato é que toda essa atividade gera aumento da agitação, incomodo, menor capacidade de atenção, cansaço, stress, entre outras coisas. Junte toda essa ebulição de sensações negativas em uma sala de aula lotada de criança com os hormônios começando a aflorar, cheias de energia pra gastar. Essa equação resulta em ambiente ruim, e um professor menos produtivo, com menor animo, mais propenso ao absenteísmo (falta no trabalho), oferecendo um serviço não tão bom quanto poderia.
Temos que ter em mente que o professor é um trabalhador, humano, com suas limitações humanas, que precisa ser motivado para realizar bem um trabalho.
Segundo Frederick Herzberg, em seu livro “A motivação para trabalhar”, existem dois fatores chaves para garantir uma maior eficiência produtiva no trabalhador, seja ele de qualquer setor, os Fatores Motivacionais e os Fatores Higiênicos.
Para Herzberg, fatores motivacionais são aqueles ligados ao próprio trabalho em si, a atividade e a satisfação em realizar tal atividade. Um professor que trabalha duro para alfabetizar um aluno e vê o mesmo no fim do ano conseguindo ler, é altamente gratificante e pode ser usado como um exemplo de fator motivacional.
Já os Fatores Higiênicos são definidos como os quais não geram motivação, mas os quais sua ausência gera desmotivação. Temos como exemplo de fatores de higiênicos, baixo salário, ambiente sujo, dificuldade de acesso, entre outros, como um ambiente muito quente ou muito frio. Professor  nenhum vai chegar em uma sala e dizer “Nossa, essa sala com ar condicionado me faz ter vontade de enfrentar uma sala com 40 alunos”, mas os mesmos 40 alunos em uma “sauna de aula” vai fazê-lo desempenhar sua função com menos eficiência do que em uma sala climatizada, pois ele estará menos incomodado com o ambiente e seus alunos também se sentirão melhores naquele espaço, ganhando mais tempo e eficiência na disseminação do saber.
Assim, eu sou um defensor veemente da boa climatização das salas de aulas e demais salas do serviço público (deixa eu puxar sardinha pro meu lado, porque minha sala também é quente, viu?!), não somente com ar condicionado, mas com o plantio de arvores nas dependências das escolas e seus arredores, proporcionando sombra, amenizando assim também a temperatura excessiva.
Sei que não seriam poucos os recursos necessários para climatizar todas as classes do município, sei também que a atual gestão tem menos de 60 dias de trabalho e sei muito bem que o vereador Waguinho devolveu a gestão anterior mais de quinhentos e quarenta mil reais e “sugeriu” que o dinheiro fosse usado para a compra de ar condicionados, mas não foi atendido. Inclusive, critiquei bastante quando ocorreu o fato acima citado, e propus em alguns comentários na época que os vereadores estudassem a possibilidade de criar uma lei que definisse e regulasse onde o dinheiro devolvido pela câmara deveria ser aplicado, mas, não sei se houve a analise de tal possibilidade que creio eu seria benéfica ao município.
O fato é que cabe agora a atual administração obter meios para conseguir atender essa demanda que não é um gasto, mas sim um investimento nos alunos e profissionais da educação, que certamente trará resultados positivos no futuro.
Inclusive, a atual secretaria da educação foi uma das que lutaram para que fosse implantado ar condicionado nas salas de aula, ou “saunas de aula” como a mesma se referiu em uma publicação no passado, o que nos da mais esperança que a atual gestão possa atender vir a atender essa demanda social.
No site do Portal de compras do FNDE, (http://www.fnde.gov.br/portaldecompras/index.php/produtos/ar-condicionado)  há uma ferramenta que permite que se compre entre outros itens, ar condicionados, através de um único processo de compra, ganhando assim, através da maior escala, em preço e padronização dos produtos adquiridos.
Mesmo assim, é claro que  custo, como disse anteriormente, será elevado, mesmo utilizando meios para barateá-lo, mas, por que não pensar em formas de “dividir” esse custo com toda a sociedade interessada, como pais, professores, diretores, funcionários e empresas?
Por que ao invés da festa do pescador ser de graça, mobilizar a sociedade através da escola, pra conscientizar a população da real necessidade de tal artigo, cobrar um preço justo e utilizar o dinheiro dos ingressos e do percentual das vendas e dos alugueis das barracas para custear parte do custo? Da mesma forma podem-se fazer arraiais, festas do milho, ou qualquer outra festa popular, visando arrecadar recursos para tal ação? Claro que isso deve ser feito de forma transparente, com comissão formada não somente por cargos próximos a administração, mas por partes interessadas da sociedade, com prestação de conta, com toda a clareza para criar confiabilidade.
É claro que isso é só uma sugestão, deve ter muito mais gente capaz que eu auxiliando a gestão, que podem encontrar soluções talvez até mais eficientes, mas, não custa opinar.
Espero que algo seja feito, pois a causa é nobre, educação e saúde são os maiores fatores de geração de riqueza das cidades, estados e nações. Quem melhora a qualidade da estrutura educacional, melhora a forma como a educação é desenvolvida. 
Enquanto escrevia esse texto, o Gilson Souza falou em seu vídeo ao vivo que administração pretende colocar no orçamento do ano que vem a instalação de ar condicionado nas salas de aula do município. Que assim seja!
Bem, mas já escrevi demais, agora, deixe me aproveitar meu ar condicionado que ta muito bom aqui e se não fosse ele, talvez eu nem estaria aqui no quarto escrevendo esse texto nesse dia tão quente!

Silvinho Coutinho