Confesso que estou
confuso. De um lado, minha paixão pelo futebol, inversamente proporcional às
minhas habilidades em campo. De outro, minha consciência crítica em relação a
todos os problemas que envolve(ra)m a realização da Copa do Mundo da FIFA em
nosso país. Tenho lido bastante, escutado bastante e falado pouco. Observo os
jogos, as redes sociais, as mesas de bar, o pau quebrando nos protestos... Tudo
muito confuso, extremo.
Futebolísticamente
falando, a Copa parece ser melhor que as últimas desse século, bons jogos, boa
média de gols, seleções niveladas... Revoltado com os desmandos da FIFA e
gastos excessivos do governo, eu pensei em não assistir as partidas, mas não
consigo, culturalmente, esse esporte está entranhado em mim e os parasitas que
organizaram esse evento sabem disso, por isso nos assaltaram sem medo...
Canalhas! Covardes! Estou confuso...
Aliás, nem tudo é tão confuso
como eu. Há, ao menos, dois lados nítidos: o da FIFA/ Governo e o dos
movimentos que protestam na rua. Mas é possível notar, também, outro lado, que
não se faz nítido, que escorre entre os outros como um vazamento no
encanamento, daqueles que vão apodrecendo e só se percebe quando a parede ou o
chão desaba.
Esse mesmo lado acha o
funk um atentado à moral e aos bons costumes da família brasileira, mas “protestou”
e mandou a presidente Dilma tomar no cu na abertura da Copa. Detalhe: estavam
lá, na festinha organizada por ela. Mas, é claro, eles tem o direito, compraram
seus modestos ingressos de 900 reais com muito trabalho e honestidade,
diferente desse povo vagabundo que enriquece com o bolsa família... Eles, os
que pagam seus ingressos, têm o direito de revolta.
Esse lado “menos nítido”
é complicado de entender. Ficaram bravos quando foram criticados pela falta de
educação com a Dilma, dizendo que têm o direito de “protestar”, mas acham um
absurdo esses protestos na rua, esses atentados contra a propriedade, esse
transtorno nos metrôs, nas ruas. Acham que a polícia está sendo mole demais...
Para eles, o protesto tem que ser ordeiro, nas urnas... Aécio Neves. Meu nariz
está coçando nesse momento, perdão.
Esses dias eu li alguém
nomeando esse lado de “Elite Branca”. Não entendi. Liguei a TV e reparei que
quase não há negros nos estádios (até mesmo nos jogos das seleções africanas,
eles são minoria). Estranho... Será que deixaram para comprar os ingressos na
última hora? Será que os negros não gostam tanto de futebol assim? Já sei,
gastaram toda a fortuna do bolsa família no carnaval... Eita povinho sem
controle! Além de receber essa dinheirama de graça, sem merecimento (segundo eles, no Brasil todos temos as mesmas
oportunidades, independente de cor, basta estudar, trabalhar e não buscar “vantagens”)
não sabem como gastar direito! Afinal, carnaval no Brasil tem todos os anos, Copa
não.
Estou confuso. Vou
parar de escrever e me preparar para o jogo das 13 horas.
Samuel Carlos Melo