segunda-feira, 7 de julho de 2014

ANIMAIS SILVESTRES CONFINADOS


O município de Castilho-SP é tido por muitos como excepcional em suas características naturais, com áreas que são comparadas ao Pantanal, por seu tipo de biodiversidade. Os turistas que chegam à cidade se deparam com construções cujas arquiteturas procuram ressaltar esse patrimônio natural do município. Os telefones públicos temáticos de peixes, garças, tucanos, capivaras, araras, etc, são outro exemplo de que estamos em uma região onde a natureza ainda tem (ou tinha) algum espaço.
Nos últimos dias, em meio ao clima de Copa do Mundo, foram divulgadas noticias da presença inesperada de animais silvestres em ambientes que não condizem com seu habitat.
Na última semana de junho uma onça parda foi encontrada morta na rodovia de acesso à barragem de Jupiá, próximo ao posto policial. Tudo indica que tenha sido atropelada por um veículo de grande porte, devido ao tipo de ferimento encontrado no animal.

Figura 1 - Onça Parda, morta próxima ao aterro da barragem Jupiá
Fonte: www.paparazzinews.com.br

Já na última sexta-feira, um macaco Bugio foi visto em eucaliptos localizados ao fundo da Escola Mauro Roberto, no bairro Laranjeiras, chamando a atenção de moradores que solicitaram ao corpo de bombeiros o resgate do animal.

figura 2 - Macaco Bogio, visto na área urbana de Castilho-SP
Fonte: www.donnegaimagens.com.br

Não é novidade este tipo de noticia, em 2012, por exemplo, um casal de Jaguatirica foi capturado no conjunto habitacional ‘Vila dos Operadores’.
Figura 3 - Jaguatirica fotografada na Vila dos Operadores

Parecem fatos sem relação, mas se somarmos estes recentes acontecimentos a outros que vêm ocorrendo veremos que algo preocupante está acontecendo com a natureza da região.
Há alguns anos passou a ser comum a presença araras, tucanos e maritacas voando pela cidade. Apesar da beleza e encantamento que proporcionam é algo novo e incomum a presença de aves deste tipo em cidades.
Tudo indica que não se trata de uma superpopulação destes animais, mas sim da falta de espaços de sobrevivência no campo. É comum araras, tucanos e maritacas atacarem árvores frutíferas da população que mora na cidade, o que mostra que estas aves estão tendo problemas em encontrar alimentos em seu habitat natural.
Figura 4 - Araras no Centro de Castilho-SP
Fonte: arquivo pessoal
Coincidência ou não a presença destes animais nas cidades se tornaram mais corriqueiras depois que a região de Castilho-SP e também de Três Lagoas-MS passaram a ser ocupadas por extensas plantações de cana de açúcar e de eucalipto.
Diferente da pecuária, que ainda permitia a locomoção de muitos animais e ainda alguma sobra de vegetação nativa, que muitas vezes eram mantidas para sombreamento do gado, as plantações de cana e eucalipto costumam dizimar a maior parte de vegetação nativa que por ventura atrapalhe a passagem de tratores, máquinas ou que tomem espaços.
Os casos citados mostram que estes animais estão sendo confinados à áreas de sobrevivência cada vez menores. Ninguém é contra a criação de emprego, mas o mínimo que poderia se exigir é o aumento de áreas de preservação ambiental, onde estes animais pudessem minimamente ter um refugio. 
Entretanto, a criatura chamada ‘capitalismo’ (aquela que se tornou maior que seu criador) obriga retorno maximizado, e a bancada ruralista em Brasília fez por onde fosse aprovado o novo código florestal que permite, por exemplo, a redução de áreas de preservação perto de cursos d’água, o que mostra que a tendência é que esta situação piore.
Como não há, por enquanto, nada que mude esta marcha, este artigo vale, em plena Copa do Mundo, como um registro de quem não quis deixar estes casos passarem em branco.
E lembrem-se, toda vez que virem as araras, maritacas e tucanos na cidade, admirem, pois são lindas aves, mas muito provavelmente devem estar com fome.


Dóri Edson Lopes