Não é fácil analisar a cena
política castilhense. Cidade pequena, política emaranhada em relações pessoais,
quase uma disputa familiar. Contexto complexo e desanimador para qualquer um
que entenda microscopicamente de política. Fato que se observa não só na atual
gestão, mas, também, e, talvez, principalmente, na oposição que se faz a ela.
Movimentos populares que mínguam por
falta de interesse, sindicato dos servidores públicos desarticulado e rendido,
classe de trabalhadores, como a dos professores, inerte diante dos desmandos da
atual gestão, figuras políticas (que não alcançaram o poder) atuando
mediocremente, sem medo de expor sua “militância” da raiva pelo interesse
pessoal. Ah, nem vou falar das especulações sobre futuros candidatos a
prefeito, pois só de pensar já me corre um terrível calafrio, digno de um conto
de Edgar Allan Poe...
Charge de Rodrigo Costa |
A gestão de Joni não surpreende,
ao menos a mim. Em um dos textos mais acessados deste blog (O retorno do faraó castilhense) eu exponho minhas expectativas com base nos dois mandatos
anteriores. Em 8 anos, Joni se mostrou um excelente empreiteiro, porém, um
péssimo gestor. Para comprovar, basta listar as diversas obras realizadas por
ele, sua utilidade e, principalmente, a qualidade. Só o Centro de Eventos, que
rachou antes de ser inaugurado e que, por incrível que pareça, só agora está
sendo realmente útil, ao abrigar famílias que esperam por uma solução para
habitação, já é uma prova contundente disso.
A mais nova empreitada de
Buzachero que mais me estarrece é a do faraônico prolongamento da Av.
Presidente Vargas para o bairro Laranjeiras, em que está previsto a
revitalização da pracinha e da antiga estação ferroviária, um investimento de
quase R$ 3 milhões. Para quem, como eu, que tem uma memória razoavelmente boa,
é fácil lembrar de que foi na gestão do atual prefeito que, na reforma da Praça
da Matriz (aliás, outro assunto já comentando aqui e bastante lido), “comeu”
uma das mãos da avenida para fazer quiosques (que hoje, em sua maioria, estão
abandonados e sem manutenção), dificultando o acesso de ambulâncias ao
hospital, fato que rendeu boatos de um questionamento do Ministério Público.
Agora, em seu terceiro mandato, quer aplicar essa grana em um contorno, fazendo
da antiga estação uma “rotatória” para o bairro Laranjeiras que, para ser mais
absurdo (como se já não fosse suficiente o fato de haver duas passagens a
poucos metros dali), desembocará em uma rua simples, estreita. Sendo assim,
teremos uma avenida de mão dupla até a praça, que vira simples e de contramão,
mas que depois se duplica novamente, fazendo o contorno na estação e cruzando a
linha férrea para se tornar simples. Uma obra que nem um faraó explicaria.
Ao incluir a estação nessa “revitalização”
a história se complica. É sabido de todos que este blog integra um movimento
popular que clama pelo tombamento da antiga estação como patrimônio histórico e
cultural do município e que já realizamos dois grandes eventos culturais no
local, com repercussão regional, para chamar a atenção para a importância desse
prédio e da necessidade de criação de um conselho municipal que discuta o
tombamento, a restauração e a melhor
forma de utilização do espaço com a sociedade. Além disso, temos articulado com
vereadores a necessidade de criação e votação de um projeto na câmara. Queremos
que isso seja discutido com a sociedade, não imposto (como está sendo) e
estamos dispostos a colaborar na discussão. COLABORAR não significa fazer todo
o projeto e dar para um determinado vereador só assinar, como já nos foi
proposto por um determinado assessor. Sendo assim, não aceitamos a ideia de que a estação será "revitalizada" bregamente como os demais prédios públicos de nossa cidade, pintada de laranja, azul, com bolinhas amarelas...
Esses e muitos outros fatos (como o da creche Maria José Vieira Telles, em que preferiu construir uma nova no bairro Laranjeiras e, aparentemente, abandonar a primeira em que a gestão passada (cria
de Joni) gastou uma boa grana na reforma do telhado e hoje está ao léu, com
notícias até de vandalismo e furto de material) evidenciam não só uma gestão
ruim e faraônica, mas um governo de face narcisista e/ou autoritária.
Foto de 2013. Estado do prédio da creche Maria José Vieira Telles. |
Lembro-me de uma pessoa ligada ao
primeiro mandato me dizer que Joni teria mandado pintar os prédios públicos com
aquelas combinações de cores horrorosas para que, quando ele saísse, todos
soubessem que aquilo era obra feita por ele. Na hora, pensei: “que cara narcisista!”.
Mas isso ultrapassa as cores dos prédios.
Recentemente, Joni promoveu um
grande troca-troca de diretores, como a cultura, educação, esporte, saúde. Na
cultura, que antes tinha o reconhecido músico Fordinho, hoje, não há ninguém “oficialmente”,
só boatos de uma “voluntária”. Na educação, trouxe uma badalada gestora, com a
promessa de por os professores “na linha” e elevar o nível educacional de
Castilho, mas ela não durou muito e, hoje, segundo informações, estaria em uma posição lateral, como uma espécie de conselheira, consultora, ou algo assim. No esporte, promoveu a mais surpreendente das
nomeações, colocou o Professor Toninho, profissional reconhecidamente competente
e oposicionista a ele, mas que, um ano depois, foi subitamente exonerado do
cargo por motivos bem mal explicados e trocado por um “coordenador” de
esportes, cargo inferior a um diretor. Na saúde, trouxe outra profissional reconhecida na região para, pouco tempo depois, retirá-la do cargo. E assim foi em outros setores, com demissões, troca de cargo e pedidos para sair, como Obras, Licitações, Almoxarifado...
Muitos são os boatos, poucas as informações concretas. Entretanto, é possível fazer uma síntese desse remelexo a partir do que se ouve e do que realmente se sabe da atual gestão: Joni é um centralizador. Característica que não surpreende, não só pelo seu histórico de 10 anos no comando da cidade, mas, também, pela linha de seu partido, o PSDB. Por mais distante que sejam as realidades, isso pode ser analisado a partir de um cotejo com a gestão do atual prefeito de nossa capital, Fernando Haddad, do PT.
Em SP, Haddad tem promovido uma política de descentralização administrativa nas subprefeituras da capital, nomeando subprefeitos com perfil técnico e dando autonomia às subprefeituras para a formação, por meio de eleição, de conselhos populares consultivos que atuarão, entre outras coisas, na fiscalização dos chefes e identificação e apresentação das demandas regionais da metrópole. Além disso, com o fortalecimento da autonomia das subprefeituras, estas passam, por exemplo, a poder emitir alvarás para a construção de residências e prédios comerciais, o que encurta o caminho, desburocratizando e, consequentemente, agilizando as demandas locais, além de desafogar um pouco a própria prefeitura.
Esta ação do petista é uma tentativa de aumentar a participação da sociedade paulistana na condução de cidade. Pode parecer algo mínimo, porém, se compararmos com a atitude dos governos tucanos (e seus amiguinhos) anteriores, perceberemos um forte choque de ideologias. Kassab (PSD, uma espécie de Frankenstein formado por dissidentes de PFL, DEM, PSDB e PPS) militarizou as subprefeituras, colocando no comando coronéis da reserva da Polícia Militar (frio na espinha...).
Voltando a Castilho, podemos notar que essas trocas feitas pelo atual prefeito seguem uma linha autoritária, buscando centralizar o máximo possível o poder e os holofotes nele. Nessa linha, nenhuma ação é boa se não vir direto de seu gabinete ou fizer referências a ele. Assim, é mais adequado ter um "coordenador" de esportes do que um diretor, ainda mais se ele tiver sido da oposição, ou ter uma "voluntária" na cultura do que um diretor com experiência na área, ou, também, uma "consultora" na educação. Ninguém tem total autonomia e os rumos da cidade concentram-se em uma única mão, a mesma que, também, demite.
Talvez Joni tenha lido Maquiavel e, como bom um apreciador de regimes autoritários, entendido a lição de que "principados" governado por príncipes e barões são mais fáceis de serem conquistados e dito: "Opa! O meu não! No máximo, terei uns assistentes...".
Muitos são os boatos, poucas as informações concretas. Entretanto, é possível fazer uma síntese desse remelexo a partir do que se ouve e do que realmente se sabe da atual gestão: Joni é um centralizador. Característica que não surpreende, não só pelo seu histórico de 10 anos no comando da cidade, mas, também, pela linha de seu partido, o PSDB. Por mais distante que sejam as realidades, isso pode ser analisado a partir de um cotejo com a gestão do atual prefeito de nossa capital, Fernando Haddad, do PT.
Em SP, Haddad tem promovido uma política de descentralização administrativa nas subprefeituras da capital, nomeando subprefeitos com perfil técnico e dando autonomia às subprefeituras para a formação, por meio de eleição, de conselhos populares consultivos que atuarão, entre outras coisas, na fiscalização dos chefes e identificação e apresentação das demandas regionais da metrópole. Além disso, com o fortalecimento da autonomia das subprefeituras, estas passam, por exemplo, a poder emitir alvarás para a construção de residências e prédios comerciais, o que encurta o caminho, desburocratizando e, consequentemente, agilizando as demandas locais, além de desafogar um pouco a própria prefeitura.
Esta ação do petista é uma tentativa de aumentar a participação da sociedade paulistana na condução de cidade. Pode parecer algo mínimo, porém, se compararmos com a atitude dos governos tucanos (e seus amiguinhos) anteriores, perceberemos um forte choque de ideologias. Kassab (PSD, uma espécie de Frankenstein formado por dissidentes de PFL, DEM, PSDB e PPS) militarizou as subprefeituras, colocando no comando coronéis da reserva da Polícia Militar (frio na espinha...).
Voltando a Castilho, podemos notar que essas trocas feitas pelo atual prefeito seguem uma linha autoritária, buscando centralizar o máximo possível o poder e os holofotes nele. Nessa linha, nenhuma ação é boa se não vir direto de seu gabinete ou fizer referências a ele. Assim, é mais adequado ter um "coordenador" de esportes do que um diretor, ainda mais se ele tiver sido da oposição, ou ter uma "voluntária" na cultura do que um diretor com experiência na área, ou, também, uma "consultora" na educação. Ninguém tem total autonomia e os rumos da cidade concentram-se em uma única mão, a mesma que, também, demite.
Talvez Joni tenha lido Maquiavel e, como bom um apreciador de regimes autoritários, entendido a lição de que "principados" governado por príncipes e barões são mais fáceis de serem conquistados e dito: "Opa! O meu não! No máximo, terei uns assistentes...".
Samuel Carlos Melo