Houve um longínquo tempo, o qual me considerei
cristão.
Lia a bíblia em uma velocidade impressionante,
estudava, examinava, assistia pregações de diversos pastores, com diversas
linhas de pensamento, redigia sermões com a facilidade de quem tinha anos de seminário,
era elogiado, meu ego era inflado por todos os lados.
Mas acontecimentos futuros vieram a “tirar” minha
fé, e acabei me “desviando”, conceito comum utilizado para descrever quem para
de frequentar a igreja.
Ainda assim, os conceitos que aprendi lendo e
estudando a bíblia, principalmente no Novo Testamento, olhando para a vida de
Jesus, ainda permaneceram na minha memória.
Amor ao próximo, empatia, não retribuição do mal
pelo mal (dar a outra face) ,caridade para com o necessitado, que na época era
representado pelo órfão viúva e estrangeiro, entre outros temas centrais que
Jesus ensinou, permaneceram vivos no meu consciente, de maneira que me esforço,
mesmo sem conseguir na maioria das vezes, em praticar tais ensinamentos.
Esse ano, passamos talvez, pela mais polarizada
eleição da história, uma eleição marcada por dois lados distintos: os
seguidores de Jair Bolsonaro e os que não pensam em hipótese nenhuma votar no
candidato a presidente.
Campanhas de apoio e de repúdio a candidatura do
deputado à presidência tem se espalhado pela internet e pelas ruas, mostrando
uma face que estava adormecida ate então no Brasil.
As declarações dadas pelo deputado, que já falou
que defendia a tortura, que “o erro da ditadura foi ter torturado e não
matado”, que “deveria ter matado mais”, que “se fosse presidente daria golpe no
congresso”, que “mataria trinta mil e que se morresse inocentes, tudo bem, toda
guerra morre inocentes”, que defende o direito do cidadão portar uma arma”,
“metralhar petistas” “que se um filho fica meio gayzinho, é só dar uma surra
que ele muda”, que “imigrantes são a escoria do mundo”, que “as minorias
deveriam se curvar as maiorias”, entre outras aberrações ditas em alto e bom
som, pelo deputado pelo Rio de Janeiro.
Essa firmeza, surpreendentemente, gerou uma
simpatia pelo público cristão, de modo que o mesmo passou a ser cultuado como o
único capaz de tirar o Brasil do caos em que se encontra.
Eu, com os ensinamentos que ainda permanecem em
mim, confesso, fiquei estarrecido com tal movimento, pois as bandeiras do
deputado contrariam totalmente as bandeiras defendidas por Jesus. Amor,
fraternidade, comunhão, caridade, empatia, altruísmo, humildade, onde estão
esses temas na fala do deputado?
Jesus foi estrangeiro no Egito, Jesus foi morto sob
tortura, Jesus foi humilhado e perseguido por ser minoria, Cristãos foram
mortos aos montes pelo império romano por não se submeterem a fé de Roma.
E mesmo assim, muitos cristãos tem declarado
abertamente apoio a este candidato que para eles é o candidato que reflete seus
anseios e responde as suas frustrações.
Eis que no meio do processo eleitoral, surge um
candidato que nunca ouvi falar, neopentecostal, com um discurso “de
conspiração, falando sobre nova ordem mundial, iluminattis, entre outras coisas,
que o fizeram virar piada em rede nacional.
Porem, ao desenrolar da campanha, o mesmo se
mostrou mais claramente, e demonstrou um valor cristão que nunca vi em Jair
Bolsonaro.
Cabo Daciolo, como é conhecido, demonstrou um
patriotismo, sendo contra a venda das riquezas do povo brasileiro as nações
estrangeiras, um amor ao próximo, mesmo que esse não mereça esse amor, ao dizer
que bandido bom não é bandido morto, e que iria recuperar esses criminosos e
devolve-los a sociedade, um discurso anti armamentista, dizendo que a única
arma que a pessoa precisa é a bíblia (fato que retirou da própria bíblia), uma
empatia, ao dissertar sobre as pessoas em situação difícil, que moram nas ruas
e estão na miséria, dizendo que iria “abraçar” esse povo que foi rejeitado por
séculos pela nação, entre outras coisas que não esperava ouvir do candidato.
Daciolo me deixou de queixo caído, me surpreendeu
positivamente, e foi à primeira vez na vida que vi com bons olhos um candidato
dito cristão, ingressar na politica.
Ao ver este homem falando e defendendo suas ideias,
me fez não compreender mais ainda o fato dos cristãos deixarem de apoiá-lo,
para apoiar alguém como Jair Bolsonaro, alguém com uma aura totalmente nazista,
que se mostra um perigo a sociedade.
É uma pena Daciolo não ir ao segundo turno, pois
tem conteúdo e apresenta um lado humano muito grande sob a capa
conspiracionista.
Daciolo, mesmo não sendo muito fã do modo
pentecostal, você me representa, torço para que você siga crescendo, pois
precisamos de pessoas como você!
Silvinho Coutinho