Durante as férias li dois livros que de alguma forma conversam entre si (ou não, tirem suas próprias conclusões): Homo Ludens,
do filósofo Johan Huizinga e As portas da percepção de Aldous Huxley. O
primeiro li para aprofundamento do referencial teórico da minha dissertação que
versa sobre o tema de jogos e o segundo por interesse em ler algo diferente dos
livros acadêmicos que leio ultimamente.
A obra de Huizinga é extremamente relevante quanto
ao tema jogos, pois o autor está convicto de que é no jogo e pelo jogo que a
civilização surge e se desenvolve. Ao apresentar o desenvolvimento das
civilizações primitivas ele apresenta as competições como um fator importante
para tal. No decorrer do livro, o filósofo apresenta características do jogo
presentes na cultura, direito, guerra, arte e filosofia.
No livro de Huxley, o escritor apresenta um ensaio
sobre o efeito da ingestão de drogas alucinógenas. Segundo ele o ser humano
recorrentemente se faz uso de vários outros tipos de drogas como o cigarro, o
álcool (drogas lícitas) para fugirem do seu próprio eu e de tudo ao redor. Mas ao contrário desses tipos de drogas, a
mescalina - droga que ele ingere sob controle médico - não causa terríveis
consequências ao ser humano e às pessoas mais próximas. A mescalina e outros
alucinógenos seriam então um paraíso artificial do qual as pessoas se
refugiariam.
Tá, e o que uma coisa tem a ver com a outra?
Em determinada altura, Huxley traz que a arte e a
religião, os carnavais e as saturnais, a
dança e apreciação da oratória tem servido, segundo H. G. Wells, como Portas na
Muralha, ou seja, aquilo que Huizinga apresenta como um elemento do jogo: a
realidade fictícia, sendo esta não atrelada à vida cotidiana.
Se Huxley afirma que é quase impossível que a
humanidade passe sem paraísos artificiais pela vida e Huizinga diz que uma das
características mais importantes do jogo é sua separação espacial da vida
cotidiana, podemos perceber alguma relação entre os dois temas.
Quer ver um exemplo? Como bem sabemos, esse ano é ano
de copa, e mais, será sediado em nosso país. Se quando os jogos da seleção brasileira
ocorrem em outros países nosso país para, imagine aqui! Outro exemplo: o
carnaval. O Brasil novamente se centra totalmente por vários dias nessa festa tradicional.
E a conclusão disso é que o ser humano precisa de
algo lícito ou não para se desvencilhar da vida corriqueira: trabalho, contas,
obrigações etc. Pensando aqui agora, percebo que não só por meio dos jogos, festas,
cultos religiosos ou até mesmo a leitura de um livro, pode trazer também exatamente isso.
Referências:
HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 6 ed. São Paulo:
Perspectiva, 2010.
HUXLEY, Aldous. As portas da percepção: Cèu e Inferno. 2 ed. São Paulo: Globo, 2002.