Há uns dias terminei de assistir no
Netflix a segunda temporada da série Narcos. Pra quem não
conhece, a série retrata a vida do talvez mais famoso traficante de drogas da
história, o colombiano Pablo Emílio Escobar Gavíria, ou Pablo Escobar como era
mais conhecido.
Nessa temporada, Pablo, interpretado pelo
excelente ator brasileiro Wagner Moura, vê seu império desmoronar aos poucos,
travando uma guerra sangrenta com rivais do mundo do tráfico de drogas, no
caso, o Cartel de Cali, e o Grupo de Buscas da Polícia Colombiana, em conjunto
com forças do DEA (Departamento Anti Drogas dos Estados Unidos).
Com cada vez menos dinheiro, e com um
número cada vez menor de sicários (assassinos particulares), por muitos serem
mortos ou presos, Pablo Escobar, aquele que no passado foi considerado pela
Forbes o sétimo homem mais rico do mundo, eleito para assembléia parlamentar da
Colômbia, que tinha inúmeros seguidores em sua cidade Medellin, se vê morrendo
sozinho, em um telhado, tendo como companhia apenas seu ultimo “companheiro’’,
o motorista “Limon”.
“Limon”, na série, é um motorista de
táxi que por conhecer um dos principais sicários de Pablo, acaba por se tornar
o seu motorista, levando o escondido no porta-malas pelas ruas de Medellin,
para que a polícia não o prendesse.
Pode se ver no personagem a admiração, um
misto de amor e temor que transcende nos olhos e no comportamento de Limon,
admiração essa que nasceu em uma Medellin abandonada pelo poder público, onde
um traficante constrói casas (a mãe de Limon mora em uma casa construída e
doada por Escobar), hospitais, escolas e dividi uma pequena parte de sua imensa
fortuna com essa gente miserável, que sofre de uma carência de cuidado, que é
desprezada por quem diz lutar por eles, no caso, os políticos convencionais.
Limon, um jovem até então sem antecedentes
criminais, ao conviver com essa realidade se transforma em um tipo de “monstro”
capaz das piores atrocidades em nome da lealdade para com aquele que para ele
representa a figura de um pai.
Limon morre, mas morre atirando, se
oferecendo em sacrifício ao seu “santo”, como muitos outros antes dele,
vertendo seu ao chão como oferta, impura e desagradável a sociedade.
Castilho, minha “meretriz favorita”, tem
em sua história um que de Medellin. Uma sociedade pobre, por anos esquecida e
abandonada à própria sorte. Um povo que se acostumou a alimentar-se das
migalhas que caiam das mesa dos poderosos e, tendo isso por suficiente, se
prendeu a uma devoção inconsciente, irracional, passional. Gente disposta a dar
o sangue para defender a honra de seu "benfeitor".
Politicamente falando, Castilho possui muitos "Limons", de várias idades, credos e cores. Alguns,
pobres, sem uma oportunidade clara de melhoria de vida, aceitam vender sua
liberdade de pensamento por qualquer bocado de pão. Outros, nem tão pobres, mas
acostumados ao assistencialismo, não conseguem enxergar uma cidade onde a
prefeitura ou os políticos não banquem toda sorte de "ajuda".
Preferem vender a alma ao diabo e conseguir uns favores que no fim custam caro,
do que apoiar alguém que crie melhorias reais para a sociedade como um todo.
Aceitam que o político enriqueça as custas dos cofres públicos, mas não aceitam
um político que não pague uma conta de luz, ou ajude em uma festa de fim de
ano, pois isso sim é um absurdo imperdoável! Não importa de onde vem o dinheiro, desde que tenhamos nossa parte...
Castilho possui seus “Escobares”,
dispostos a qualquer coisa para atingir seus objetivos. Sem escrúpulos,
utilizam-se de seu poder financeiro e do discurso para comprar a lealdade, a
mente, o fanatismo. Criam seu exercito de soldados dispostos a lutar uma guerra
que não é sua, para atender aos interesses que não são seus, motivados por uma
paixão cega e destrutiva.
Como o de Medellin, os Escobares castilhenses
utilizam qualquer meio que está em suas mãos para fortalecer seu discurso
contra os inimigos, não se preocupando com o tamanho do estrago que irão
causar. Se necessário perseguem, amedrontam, difamam, utilizam pessoas próximas
que não podem se defender, simplesmente para atingir o alvo, acabar com
qualquer ameaça nem que para isso causem dor a famílias inteiras. Utilizam seus
preciosos recursos humanos, para reproduzir seus discursos de ódio, suas ideias
e atrocidades, a fim de que no final saiam vitoriosos, enquanto seus vassalos
se estapeiam por uma porção de comida.
Eu, graças a Deus, a minha mãe, a minha
avó, ao meu pai, e meus amigos, não nasci pra ser "Limon". Não
consigo ter essa devoção a quem faz menos do que deveria e poderia fazer. Não
me contento com sobras e não confio nesses "Messias" que tudo podem, como
se políticas públicas saíssem do papel como num passe de mágica.
Fujo de pessoas com síndrome de Deus, que
são fechados em si mesmo, vistos por si mesmo e por seus seguidores como
onipotentes, mas que a meu ver são apenas prepotentes, mentirosos e
enganadores. Tais pessoas propõem o absurdo como se bastasse sua vontade para
ser colocado em prática, como se dissesse "Haja Luz" e a luz
surgisse.
Eu prezo por propostas que melhorem o
coletivo, que criem condições para que cada um exerça sua liberdade, não
precisando se sujeitar a “boa vontade” de ninguém.
Assistência deve ser dada, pelo tempo
necessário, atendendo a quem realmente precisa, servindo como base para que
outras ações possam, a médio prazo, libertar a pessoa da tutela do estado. É
preciso primeiro dar o peixe, para que a pessoa se alimente, tenha força para
que essa depois possa pescar, mas, como a mesma irá pescar se não tiver vara,
linha, anzol e isca? É preciso criar meios para que ela não precise receber o peixe pra sempre..
Espero que um dia, nossa cidade seja um
local onde ninguém mais precise "olhar" para os pobres, pois não
exista mais ninguém que precise ser "assistido". Onde pessoas tenham bons
empregos, não precisando se humilhar em época de eleição para tentar conseguir
um “carguinho”. Que a cidade dê acesso a uma educação de qualidade, que de
condições para um crescimento profissional no futuro, para que não fiquem a
mercê de nossos "Escobares".
Mas, e você? Quer ser pra sempre
dependente? Se já tem seu "benfeitor" é sinal que busca a sela, a
tutela e as migalhas, agora, se como eu, odeia depender de alguém, e ter que
depois se prestar a vontade dele, faça um favor a si mesmo, vote em quem tem
propostas racionais, reais e possíveis, pois são essas que tem uma impacto
maior e melhor no futuro, pois do contrário, ainda conviveremos muito tempo com
essa política do cabresto moderno.
Mas, se depois de tudo isso, ainda escolher
por um candidato que de dinheiro, edredom, material de construção, cesta básica
e afins, manteremos nossa amizade, pois ao meu ver, você é livre até pra se
aprisionar em um pasto pequeno, sem grama verde, esperando a mão do criador te
dar uma porção pequena de feno...
Silvio Coutinho
Bravooo!
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