Na
primavera de 1963, o jovem desconhecido americano Martin Luther King pregava
nos degraus do Lincoln Memorial no estado de Washington, onde a maioria dos
ouvintes era simpatizante da causa. No discurso, sonhava com um país livre de
qualquer forma de segregação racial, com igualdade e justiça para todos. Foi a
partir desses discursos que a maior potência econômica mundial iniciou uma gênese
de pensamento político que influenciou todo mundo. Os ventos
que aspiravam igualdade e justiça chegam ao Brasil, logo, a discussão sobre
cotas se inicia no século XXl, quando algumas universidades aderem ao sistema
estadunidense de cotas raciais.
O “democrático”
carnaval em Salvador, onde no centro os pagantes curtem a folia, enquanto que
em volta os não pagantes trabalham ou ficam de fora olhando a festa.
O Brasil, assim como os EUA, é um país multicultural, que possui uma expressiva população afrodescendente, portanto, a política de cotas deve ser pensada como uma luta de classe. Muitos
consideram as cotas como uma forma de preconceito, utilizando o argumento de que elas discriminam uma pessoa pela cor de sua pele ao dar mais possibilidades a alguns para ingressar no ensino superior.
Mas, espera aí! Considerar que há igualdade de oportunidades a todos sem
diferença racial após 300 anos de escravidão não é uma tentativa de esconder todas
as dificuldades que os negros enfrentam todos os dias sem nenhum auxilio?
Falar sobre cotas é um assunto que incomoda as pessoas, pelo fato de
entenderem que há igualdade entre ricos e pobres neste país, que todos são
tratados da mesma maneira e que possuem as mesmas oportunidades. Dentro deste
pensamento de igualdade surgem diversos discursos preconceituosos sobre a
classe pobre.
É notável a ausência dos
negros nas universidades. Muitos, por
problemas econômicos familiares, sequer terminaram o ensino básico,
deixando os estudos iniciais para trabalhar e complementar a renda familiar.
Partindo deste pressuposto, entende-se o motivo pelo qual os negros não ocupam
cargos relevantes no Estado brasileiro.
Se analisarmos a população brasileira segundo
os dados do IBGE, veremos que a maioria da população deste país é preta! (termo
usado pelo IBGE). Sendo assim, afinal, onde estão os negros? Deixemos
a cor da pele de lado e falemos de pobreza, na qual os dados do IPEA (Instituto
de Pesquisas Econômicas Aplicadas) revelam que 45,47% da população pobre é
negra, e 22% branca. Outro dado relevante é a taxa analfabetos com 15 anos ou
mais, 18% negra e 8% branca. Aprofundando nos dados, encontramos no PCO (Partido
da causa operária) dados em que a maioria da população carcerária é negra 73,83%
e destes 66% não concluíram nem o ensino fundamental. Enfim, os achamos!
A figura
do Ministro Joaquim Barbosa surge em ambos os discursos como “olha lá o cara era negro e pobre e
conseguiu! Sem cotas!” Mas, quantos Joaquim Barbosas existem? É
insignificante a participação de afrodescendentes em determinados cargos ou
mesmo classes profissionais, atuando em sua maioria em cargos subalternos,
coerentes com seu contexto histórico. Com o fim da escravidão e a lei de terras
de 1850, em que instituía no Brasil a propriedade privada de terras, os negros
se encontravam sem emprego e sem um pedaço de terra para constituir seu modo de
vida, assim, a maioria se instalou em favelas nas cidades em busca de
oportunidades. Desta consideração histórica, encontramos uma vertente para a
desigualdade social entre negros e brancos que há nos dias de hoje, separados por
classes.
O intuito
aqui não é colocar os negros como vítimas e brancos como culpados, mas, sim, como
sujeitos que carregam uma maldita herança histórica de exploração, que resultou
em uma separação destes em classes sociais diferentes. O Estado brasileiro tem
uma dívida histórica com a população negra, pelo descaso com a cultura
afrodescendente, sem nenhum acompanhamento ou auxílio. Neste sentido, as cotas
tem se colocado como o início, uma tentativa de suprir, em parte, esta dívida e
contribuir para diminuição da desigualdade social brasileira.
Danilo Souza
http://lemad.fflch.usp.br/node/228
Concordo quando afirma que, o Estado brasileiro tem uma dívida mas não somente com os afrodescendentes, tem sim uma dívida com toda a população, colocada a margem de uma sociedade que visa somente lucros para uma minoria. Portanto, devemos lutar não somente por cotas que beneficiem, mas sim, por uma escola pública que oportunize o direito a todos de uma forma justa e coerente. Quando tivermos um povo esclarecido de seus direitos e deveres, não será mais necessário a existência de cotas.
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