sábado, 2 de março de 2013

I Have a Dream!



Na primavera de 1963, o jovem desconhecido americano Martin Luther King pregava nos degraus do Lincoln Memorial no estado de Washington, onde a maioria dos ouvintes era simpatizante da causa. No discurso, sonhava com um país livre de qualquer forma de segregação racial, com igualdade e justiça para todos. Foi a partir desses discursos que a maior potência econômica mundial iniciou uma gênese de pensamento político que influenciou todo mundo. Os ventos que aspiravam igualdade e justiça chegam ao Brasil, logo, a discussão sobre cotas se inicia no século XXl, quando algumas universidades aderem ao sistema estadunidense de cotas raciais. 

         O “democrático” carnaval em Salvador, onde no centro os pagantes curtem a folia, enquanto que em volta os não pagantes trabalham ou ficam de fora olhando a festa.

O Brasil, assim como os EUA, é um país multicultural, que possui uma expressiva população afrodescendente, portanto, a política de cotas deve ser pensada como uma luta de classe. Muitos consideram as cotas como uma forma de preconceito, utilizando o argumento de que elas discriminam uma pessoa pela cor de sua pele ao dar mais possibilidades a alguns para ingressar no ensino superior. Mas, espera aí! Considerar que há igualdade de oportunidades a todos sem diferença racial após 300 anos de escravidão não é uma tentativa de esconder todas as dificuldades que os negros enfrentam todos os dias sem nenhum auxilio? 
Falar sobre cotas é um assunto que incomoda as pessoas, pelo fato de entenderem que há igualdade entre ricos e pobres neste país, que todos são tratados da mesma maneira e que possuem as mesmas oportunidades. Dentro deste pensamento de igualdade surgem diversos discursos preconceituosos sobre a classe pobre.

É notável a ausência dos negros nas universidades. Muitos, por problemas econômicos familiares, sequer terminaram o ensino básico, deixando os estudos iniciais para trabalhar e complementar a renda familiar. Partindo deste pressuposto, entende-se o motivo pelo qual os negros não ocupam cargos relevantes no Estado brasileiro. 

Se analisarmos a população brasileira segundo os dados do IBGE, veremos que a maioria da população deste país é preta! (termo usado pelo IBGE). Sendo assim, afinal, onde estão os negros? Deixemos a cor da pele de lado e falemos de pobreza, na qual os dados do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) revelam que 45,47% da população pobre é negra, e 22% branca. Outro dado relevante é a taxa analfabetos com 15 anos ou mais, 18% negra e 8% branca. Aprofundando nos dados, encontramos no PCO (Partido da causa operária) dados em que a maioria da população carcerária é negra 73,83% e destes 66% não concluíram nem o ensino fundamental. Enfim, os achamos!
A figura do Ministro Joaquim Barbosa surge em ambos os discursos como “olha lá o cara era negro e pobre e conseguiu! Sem cotas!” Mas, quantos Joaquim Barbosas existem? É insignificante a participação de afrodescendentes em determinados cargos ou mesmo classes profissionais, atuando em sua maioria em cargos subalternos, coerentes com seu contexto histórico. Com o fim da escravidão e a lei de terras de 1850, em que instituía no Brasil a propriedade privada de terras, os negros se encontravam sem emprego e sem um pedaço de terra para constituir seu modo de vida, assim, a maioria se instalou em favelas nas cidades em busca de oportunidades. Desta consideração histórica, encontramos uma vertente para a desigualdade social entre negros e brancos que há nos dias de hoje, separados por classes.
O intuito aqui não é colocar os negros como vítimas e brancos como culpados, mas, sim, como sujeitos que carregam uma maldita herança histórica de exploração, que resultou em uma separação destes em classes sociais diferentes. O Estado brasileiro tem uma dívida histórica com a população negra, pelo descaso com a cultura afrodescendente, sem nenhum acompanhamento ou auxílio. Neste sentido, as cotas tem se colocado como o início, uma tentativa de suprir, em parte, esta dívida e contribuir para diminuição da desigualdade social brasileira.
                                                                                            Danilo Souza

http://lemad.fflch.usp.br/node/228


Um comentário:

  1. Concordo quando afirma que, o Estado brasileiro tem uma dívida mas não somente com os afrodescendentes, tem sim uma dívida com toda a população, colocada a margem de uma sociedade que visa somente lucros para uma minoria. Portanto, devemos lutar não somente por cotas que beneficiem, mas sim, por uma escola pública que oportunize o direito a todos de uma forma justa e coerente. Quando tivermos um povo esclarecido de seus direitos e deveres, não será mais necessário a existência de cotas.

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