segunda-feira, 25 de março de 2013

Marco Feliciano e a super-democracia


     Marco Feliciano é um idiota. Mas pera lá, idiota é você, Juliano, que trabalha todo dia para ganhar salário mínimo, você me responde. Não, o fato de haver gente mais idiota do que ele para enriquecê-lo não me faz pensar de modo diferente: Marco Feliciano é um idiota. Silas Malafaia, inimigo meu bem antes de se tornar uma estrela da pseudo-cristã-psdbista-direita do Brasil, é um oponente perigoso, ardil. Marco Feliciano é só um idiota, incapaz de fazer uma leitura bíblica que vá além de um apanhado de bazófias. A Bíblia que, por sinal, é um livro fundamental para quem quer entender o mundo, mas perigoso para quem tem a capacidade de leitura para, vá lá, interpretar uma música do Naldo ou da Fernanda Brum. Dá no mesmo pra mim.
      Marco Feliciano não me mete medo, afinal, não sei se já disse aqui, Marco Feliciano é só um idiota. Eu me preocupo mais com as dezenas de milhares de pessoas que, democraticamente, (me lembra aquela delícia da Raquel Sherazade) o elegeram. Disto não há dúvida: Marco Feliciano foi eleito democraticamente e não tem, enquanto deputado, obrigação de representar ninguém além dos eleitores que o elegeram. Ele poderia continuar se reelegendo como deputado até o fim dos tempos, no problem. Mas foi quando tiveram a infeliz ideia de colocá-lo para presidir a Comissão dos direitos humanos e da minorias que a porca torceu o rabo. COMO um sujeito que diz que a Aids é o câncer gay e que a África é um continente amaldiçoado chega a um posto desses é simples: política. O PSC apoiou a Dilma e “merecia” uma contra-partida. Agora o PORQUÊ dessa escolha, para mim, só é explicável por uma hipótese: Não bastam para os políticos nos roubarem e serem umas nulidades no congresso. Eles têm que fazer tudo isso com ironia, rindo de nossa cara. Irônica foi a dancinha daquela deputada, em pleno plenário, diante da absolvição de um comparsa. Irônica é a volta do Renan Calheiros ao mesmo cargo do qual ele foi deposto. E irônica é a escolha desse idiota para uma comissão a qual ele não tem nada afim.
      Bem, democracia se combate com mais democracia, e, ao contrário do que esbraveja a delicinha da Sherazade, as manifestações e apupos sofridos pelo Marco Feliciano no congresso e nas mídias sociais não são anti-democráticas, são super-democráticas. Isso mesmo, super-democráticas. Explico: a democracia [demo = povo + kratos = poder], nascida na Grécia antiga, era um coisa pra grego ver, afinal, nas reuniões em praça pública em que se decidia o destino da nação só participavam os cidadãos gregos, excluídos portanto as mulheres, escravos, ou seja, as minorias. Então, hoje, quando essas minorias vão ao congresso fazer barulho, estão representando exatamente os marginais que, na velha democracia, nunca tiveram voz. Isso é super-democracia, Sherazade, minha ternura.
     Se a nomeação de Marco Feliciano mostra o que a democracia e a política tem de menor, as manifestações contra essa barbaridade são demostrações do que é se fazer democracia e política de verdade. Diz você: mas o Feliciano é peixe pequeno, e o Renan? Ora, a presidência do Senado de Renan Calheiros é algo que fere não os homossexuais, as mulheres, ou os negros. É algo que envergonha nós todos. Não é algo pra umas dezenas de manifestantes, é coisa para colocar 1 milhão de pessoas na porta do Congresso. Mas você, eu ou a Raquel Sherazade fomos lá fazer algo? Não? Então deixem os que foram, pelos motivos que foram, fazer o barulho deles. Confesso que dá uma certa vergonha alheia ver o “pobre” Marco Feliciano sendo obrigado a deixar a comissão diante das manifestações, apupos, algazarra. Não é fácil ser motivo de troça nem numa roda de amigos, imagine diante dos olhos de todo um país. Se sinto pena do pastor? Bem, meu velho, nesse meu egoísmo galopante a compaixão é algo que anda em falta. A pouca que tenho guardo pra mim ou, vez ou outra, pra algum miserável que cruza meu caminho. Pra alguém que tem coragem de tirar dinheiro de um paraplégico meu o estoque está esgotado.

                                                                                            JULIANO CARDOSO


Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto, Juliano! Na ironia fina que respinga em papagaios como a "ternurinha" da Sherazade, o no trato sincero e consciente da questão, você consegue deixar uma coisa clara: esse problema é todos nós, com ou sem estigmas!

    Luciano

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