A multidão
ensandecida grita: Mata!
Paus, pedras,
espinhos, socos, cusparadas...
O sangue
derramado nos justificou, afinal só o sangue derramado aplaca a ira de “deus”.
É necessário
que este ser impuro seja sacrificado, para que nossa alma impura seja limpa...
Mas, qual o
crime o cometido para que essa criatura de Deus seja castigada de tal maneira?
Acredita-se
que seja adorador do demônio!
Nossa, então
vamos extirpa-la do nosso meio...
E assim morreu
Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos. De Jesus estava internada, em estado
gravíssimo, na UTI do hospital Santo Amaro desde Sábado (03) e veio a falecer
ao terceiro dia do seu espancamento, na segunda-feira (05).
A multidão, ao
saber de um boato espalhado pela internet de que a mesma havia sequestrado uma
criança para realizar rituais de magia negra, resolveu agir, afinal, quando o
Estado é omisso, é compreensível que o povo resolva fazer justiça.
Porém, após a
justiça feita, viu-se que a dita justiça foi injusta, pois a mulher acusada de
bruxaria tinha apenas cometido o crime de ser parecida com um retrato falado
divulgado por um jornal. Ah, mas então vamos reparar o erro
cometido...Infelizmente, para morte não há como se remediar.
O mal de se
deixar o julgamento a cargo da multidão é que mesma não tem conhecimento total
dos fatos e, por isso, tende a julgar pela emoção do momento.
Meu medo é que
um dia saia um boato sobre mim, sobre meus familiares, amigos e que a próxima
Fabiana seja próxima a mim. Meu pavor é que alguém que me é querido seja
confundido com aquele que o povo ache que mereça a sua justiça. Fico assustado
em pensar que a dor que sofreu os familiares dos Amarildos, Claudias, Fabianas
entre outros tantos que não chegam ao nosso conhecimento, pode um dia ser a
minha dor.
Se um dia eu for
esbofeteado pela mão pesada desta “justiça”, que não é cega, nem muda, nem
surda, o que terei que fazer? Fazer justiça?
Silvio Coutinho
O pior de tudo é q parece q o único problema q está sendo noticiado e comentado é o pequeno engano, e não o espancamento em sí. Se fosse a mulher certa estava tudo certo... Viva os Sheherazades!
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