“As 13 colônias do Norte tiveram; pode-se bem
dizer; a dita da desgraça. Sua experiência histórica mostrou a tremenda
importância de não nascer importante. Porque no norte da América não tinha
ouro; nem prata; nem civilizações indígenas com densas concentrações de
população já organizada para o trabalho; nem solos tropicais de fertilidade
fabulosa na faixa costeira que os peregrinos ingleses colonizaram. A natureza
tinha-se mostrado avara; e também a história: faltavam metais e mão-de-obra
escrava para arrancar metais do ventre da terra. Foi uma sorte. No resto; desde
Maryland até Nova Escócia; passando pela Nova Inglaterra; as colônias do Norte
produziam; em virtude do clima e pelas características dos solos; exatamente o
mesmo que a agricultura britânica; ou seja; não ofereciam à metrópole uma
produção complementar. Muito diferente era a situação das Antilhas e das
colônias ibéricas de terra firme. Das terras tropicais brotavam o açúcar; o
algodão; o anil; a terebintina; uma pequena ilha do Caribe era mais importante
para a Inglaterra; do ponto de vista econômico; do que as 13 colônias matrizes
dos Estados Unidos.” (GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. p. 146.)
O
texto acima é parte de um importante livro que, dentre outras coisas, faz um
relato histórico de como se deu o processo de ocupação e desenvolvimento
econômico no continente americano. Neste trabalho o autor busca evidenciar
através das condições históricas e materiais os determinantes que fizeram com
que alguns países se tornassem muito mais ricos e desenvolvidos que outros,
vide o caso dos EUA e Canadá frente aos demais países do referido continente.
Assim,
Galeano (1986) com sua teoria de “A importância de não ser importante”, mostra
que muito do poder econômico atual dos americanos está relacionado às condições
naturais encontradas pelos ingleses quando da colonização da América do Norte.
Logo,
ao sul deste país encontrava-se um clima mais ameno típico de uma maior
proximidade com os trópicos; solos férteis e concentração de minérios, tudo
isto fez com que esta região exercesse o papel de exportador de matéria prima
para as indústrias da Inglaterra. Ali se desenvolveu a concentração de terras,
o trabalho escravo e atividades agrícolas de monocultura como as plantações de
cana-de-açúcar, algodão, milho, exploração de minérios, etc.
Já
no norte o fato de não terem encontrado riquezas naturais que pudessem ser
exploradas de imediato, propiciou o desinteresse dos ingleses em explorar
aquela região, adotando uma política apenas de ocupação territorial. Para isso
os ingleses incentivaram a colonização através da distribuição de terras. Não
houve a formação de latifúndio, desenvolveu-se ali a agricultura familiar, a
produção diversificada e o trabalho assalariado, o que estimulou o consumo
interno. Tudo isto trouxe o comércio e o desenvolvimento de indústrias locais.
Mais
tarde, o país ficaria dividido entre um Sul dominado por uma oligarquia
fundiária exploradora de renda da terra e escravocrata e de outro lado um Norte
industrial tipicamente capitalista, dominado pela burguesia. Os interesses em
ampliar o mercado consumidor e a oferta de matéria prima levariam a burguesia
do norte a promover uma guerra interna pelo fim do latifúndio e do trabalho
escravo.
O
processo de colonização do Brasil se assemelha com o que houve no Sul dos EUA.
Os portugueses encontraram aqui farta riquezas naturais que foram exploradas
conforme os interesses da Coroa. Uma exploração ao modelo da implantada na
região sul do território americano, com concentração de terras, exploração de trabalho
escravo e pouca diversidade produtiva, cujo objetivo principal era o de apenas
fornecer especiarias como madeira, café, açúcar, ouro, dentre outros, para o
comércio e as indústrias da Europa, sendo que na maior parte do tempo esta
produção não teve a função de estimular o desenvolvimento da indústria local.
Desta
forma, Galeano (1986) vai contrapor às especulações e teorias deterministas que
viam o atraso econômico de alguns países como algo inerente à raça ou a cultura
de cada povo. Argumentos comuns ainda nos dias de hoje, como, por exemplo, o de
que se o Brasil é atrasado em relação a outros países isto se deve ao fato de
sermos um povo “ignorante e de cultura oportunista”.
Esta
é uma realidade que pode muito bem ser aplicada a Castilho-SP, onde também se
desenvolveu o atraso promovido pelo latifúndio, com concentração de terras,
monocultura e exploração de renda (uma das principais formas deste tipo de
exploração nesta região é o aluguel para uso da terra ou simplesmente a
especulação, ou seja, cerca-se uma área e aguarda-se o melhor momento para
vendê-la).
As
oportunidades no campo ficaram restritas e o êxodo rural fez com que a
sobrevivência de uma população inteira dependesse dos poucos detentores de
terras. Foi desta forma que alguns destes ganharam status de herói pioneiro, e
que como mostra a historia recente castilhense, tantos outros se promoveram
politicamente oferecendo empregos de capataz ou de bóia fria aos famintos sem
oportunidades.
Portanto,
a realidade política deste município, onde muitos buscam amparo no poder
público para a situação de pouco emprego e precarização do trabalho em
indústrias da região se devem, em grande medida, a todo este processo de
acumulo de terras, o que fez produzir considerado exército de reserva de
mão-de-obra.
As
riquezas naturais que eram pra ser um instrumento de desenvolvimento acabaram
por ser objeto de escravização e de atraso para a grande maioria. Trata-se de
uma conjuntura que deve ser vista como o resultado da luta de classes.
O
apoio à reforma agrária, o incentivo à produção diversificada, além da luta por
melhores condições de trabalho em indústrias de Castilho e região, são caminhos
a diminuir a dependência ao poder público e a amenizar o poder do atraso.
Dóri Edson Lopes
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