Difícil começar o texto de hoje
sem ser óbvio, afinal, falarei do óbvio: a tragédia de Santa Maria. Os jornais
na TV e na internet vão pelo caminho de sempre: excesso de informação supérflua
e sensacionalismo. As mídias sociais jogam nas nossas caras a idiotice humana.
Na verdade, como passei parte do domingo off, só fiquei sabendo do ocorrido no
final da tarde. Entrando no facebook, me deparei com um converseiro mole sem
fim.
Não
sei sobre o que falar sobre o ocorrido. Quando vi os perfis dos mortos, suas
fotos e histórias me lembrei de uma outra tragédia, a do Morro do Bumba, no Rio
de Janeiro. Isso porque, terrível distinção, até na morte a situação social faz
diferença, afinal, os mortos do Bumba não tinham perfis. Parece-me que até hoje
tem famílias que não conseguiram enterrar seus mortos porque não foi possível
encontrar os corpos nos entulhos. Também não se pode precisar o número exato de
mortos (a versão oficial fala em pouco mais de 250) porque algumas famílias
podem ter desaparecido por completo, sem ter ninguém para reclamar o
desaparecimento. Terrível.
Também
me lembrei do Tsunami de 2004 que matou cerca de 223 mil pessoas. Ao fazer a
relação do tsunami com o caso de Santa Maria, cheguei à conclusão de como a
estupidez humana é letal, mesmo quando comparada as piores fenômenos da
natureza. Ora, a hecatombe ocorrida no Oceano Índico matou quase mil vezes mais
do que a tragédia de RS, no entanto, se formos fazer uma mórbida relação de
custo benefício, nossa estupidez vence fácil. Ora, para matar as 200 mil pessoas,
a natureza precisou movimentar forças apocalípticas. O terremoto que gerou o
tsunami alcançou 9,1 na escala Richter, o que, segundo os especialistas, chegou
a mover o eixo da Terra. Coloque isso numa balança e do outro lado do fiel
coloque uma boate mal feita e um idiota brincando com um sinalizador. E o que
temos? Nossa idiotia é muito mais letal.
Um
terremoto é inevitável, uma tsunami também. Mas fazer acessos para as pessoas saírem
de um recinto em caso de emergência é simples demais. Sufocar numa caixa de alvenaria com uma única
e insuficiente porta para escapar é um jeito muito bobo de duas centenas de
pessoas morrerem. Bobo, mas previsível, basta que o acaso ocorra. E não precisa
ser um terremoto, basta um imbecil para começar o tumulto ou o incêndio.
Agora
é hora dos pais, filhos, maridos, mulheres chorarem seus mortos.
Nossa
estupidez é mais letal que qualquer catástrofe natural.
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