Não é um conto. Sabe, “conto”, aquele gênero
literário, obra de ficção. Mas “conto”, o verbo em primeira pessoa. Eu conto.
Vou contar algo que vi, realmente. Bem que poderia ter sido ficção.
Era sábado, 19 de janeiro de 2013, 20 horas.
Estava em uma reunião na casa de um amigo, no bairro Nova Yorque. Conversávamos
(em português) sobre a metafísica cristã quando, de repente, alguém bate
palmas. Não eram as palmas famintas de um pedinte ou as palmas traiçoeiras de
um ladrão, mas palmas de socorro.
Abrimos o portão. Era uma senhora. Não estava
bem. Era pálida. Minto. Estava pálida. Tremia. Gaguejava. Queria água. Queria
entrar. Queria o telefone. Queria um carro. Queria o hospital. Peguei as chaves.
Voamos, os três, para o José fortuna. Quem foi José Fortuna? Foi? Fomos.
Enquanto eu acelerava, meu amigo tentava
conhecer a senhora. Queria acalmá-la. Ela tinha se mudado, com o filho adulto,
naquela semana. Não conhecia ninguém. Nos conheceu. O filho estava visitando a
filha em Mirandópolis. Ela não tinha celular para chamar um moto-táxi. Por que
não usou o orelhão? Não há moto-táxi em Castilho. Onde estão os orelhões?
Chegamos. O hospital foi reformado. Credo,
que verde mais feio. Quantas crianças morreram aqui mesmo? Nossa, bastante
gente esperando. Ao menos os bancos são suficientes. Ela está passando mal,
podem atendê-la na frente? Entre. Naquela sala para medir a pressão. Já havia
outra senhora.
Enquanto eu observava se a senhora que trouxemos
estava bem, meu amigo conversava com um cara no corredor. “Rapaz, o negão ta aí
dentro com o médico faz meia hora”, dizia ele. “Falou pro médico que machucou
jogando bola, mas ele machucou foi caindo com a minha moto”, continuava. “Esse
bicho joga bola, hein?”, lembrou meu amigo. “Mas toma uma pinga lascada”,
retrucou o cara. E acrescentou: “deve estar tomando uns 100 pontos, só
pode...”.
Já fazia mais de 30 minutos que esperávamos
pelo médico e também pelo negão, que costurava a boca. Chegou um rapaz com uma
criança. Que bonitinha, nem parecia doente. O negão sai com um sorriso etílico.
10 pontos no queixo. A senhora que trouxemos estava mais calma. Fez amizade com
outra senhora que estava na mesma sala, esperando...
Vi o médico. Era novo. Cabelo estilo Neymar.
Ele sai da sala em que estava costurando a boca do negão e vai para a sala de
atendimento. 46 minutos de espera, sem atendimento. A senhora que estava na
sala de pressão, não a nossa, a outra, foi atendida. 5 minutos. Ela sai. Agora
a criancinha. 4 minutos, ela sai. Agora a nossa senhora. Nossa senhora!
Meu amigo entra junto. Eu vou para a
recepção. Nossa, a sala está bem mais cheia.
Lá, ele relata ao médico os sintomas que ela
apresentava quando nos pediu ajuda. Ele
observa, faz algumas perguntas e diz que ela pode ir embora. 2 minutos.
Meu
amigo se desespera. Informa que ela é só e que se voltasse para a casa agora e
passasse mal novamente poderia até morrer.O filho foi ver a filha. O médico
observa. Aceita a intervenção. Pede que a senhora fique mais um pouco. Lá na
sala onde ela conheceu a outra senhora. Em observação.
No fim, eu penso: Quem é José Fortuna?
É verde, com cheiro de novo e apenas um
médico. A senhora ficou bem.
Samuel Carlos Melo
Realmente dura realidade um investimento faraonico, mas com um atendimento que deixa muito a desejar, será que valeu a pena a relação custo benefício? Isto é Brasil, isto é Castilho!
ResponderExcluirInvestimento faraônico? os únicos que eu conheço em castilho são:
Excluirportal, praça, fecularia, secadora de graõs
pois é mudam se as aparências mas o atendimento é o mesmo,qnd estava ai de férias minha filha ficou doente,fiz a besteira de levar ela no hospital,o médico examinou ela sentado na cadeira de traz da sua mesa,nem a capacidade de levantar ele teve,o estetoscópio nem chegava direito na menina,se esticou ao máximo,e o pior cai na besteira de passar pelo convenio R$7,40 descontados do pagamento do meu marido....
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