Hoje pela manhã, enquanto tentava acordar
assistindo TV, ouvi de uma apresentadora de uma programa da Globo, cujo nome
não me recordo, dizer que as músicas da cantora britânica Adele são pra quem sofre
de “ressaca amorosa”, que são "inspiradas num grande amor que se
foi".
Ora bolas, a mim me parece que todo esse charme no
vocabulário não passa de um eufemismo, transformando o que no Brasil seria
chamado sem mais rodeios de música de corno em algo mais palatável e
sofisticado. É transformar cachorro-quente em Mcdonald.
Em terras tupiniquins, a tal "ressaca
amorosa" se encontra aos montes no sertanejo, seja no das antigas ou nesse
que se convencionou chamar de universitário. Aqui ela se torna coisa de povão!
Não sei de onde vem isso de achar que o que vem de
fora é chique, wonderful, que a cultura com sotaque inglês tem gostinho de
picanha. Mas de uma coisa eu sei: isso é recorrente.
Já li diversas vezes sobre nosso complexo de
inferioridade, ouvi Pelé dizer que antes da Copa de 1958 tínhamos complexo de
vira-latas, entretanto, apesar de saber que existe sim alguma coisa estranha,
não achei nada de palpável pra explicar. Bom, explicar não é bem minha
intenção, apenas refletir.
No futebol atual, por exemplo, nossa "ressaca
amorosa" tem sido o Barcelona, admirador confesso do futebol bem jogado
brasileiro. Aqui, nada de mais; lá, coisa de alienígena.
Na música, o famoso e grudento "ai se eu te
pego", de Michel Teló, é alvo de severas críticas e gozações. Quem ouve e
gosta (ouvir todos ouvimos) é tratado como retardado. Mas tem um certo Black
Eyed Peas que repete incansavelmente a poética "boom boom pow, gotta
get-get" e leva todo mundo à loucura.
Há sem sombra de dúvidas um peso geográfico muito
grande pairando sobre a cultura nacional. É qualidade que vem do extrínseco,
não do cerne da própria arte. Enquanto isso Adele ecoa por todos os cantos com sua
dor de cotovelo traduzida em "never mind I'll find someone like you".
AÔ, CORAÇÃO APAIXONADO!!!
Márcio Antoniasi
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