Todo ano é a mesma coisa. Durante
os meses de maio a outubro os incêndios em canaviais transformam a atmosfera
das cidades do interior de São Paulo.
O sol brilha opaco, o céu fica cinza
e o ar seco dessa época ganha a companhia indesejada do gás carbônico. Nesse conjunto
de fatores a respiração fica comprometida. A tosse é o primeiro sintoma, que atinge
mais severamente os mais velhos e as crianças. Os hospitais ficam cheios. Formam-se
filas no setor de inalação, onde as pessoas procuram aliviar as consequências de
tanta fumaça no ar.
Existem alguns protocolos
assinados pelos representantes das Usinas de Álcool e o governo do Estado de
São Paulo que determinam o controle das queimadas nos canaviais. No caso de
Castilho-SP e região, cuja declividade é baixa, este acordo prevê quase que a
proibição da queima deste monocultivo[1]. Entretanto, elas
continuam acontecendo.
Figura
1 – Incêndio de canavial no dia 02 de agosto assusta castilhenses.
Figura
2 – Novo incêndio de grandes proporções no dia 04 de agosto, mais uma vez pôde ser visto da
cidade de Castilho-SP.
Fonte:
arquivo pessoal de Marco Apolinário.
Os responsáveis pelos
canaviais argumentam que se trata de incêndios involuntários. Alegam que são
acontecimentos corriqueiros para esta época do ano, onde a falta de chuvas e as
bitucas de cigarro atiradas dos carros de cidadãos comuns é que ateiam fogo nas
plantações. Ou ainda argumentam que muitas vezes tudo é culpa de algum vândalo descontente
com alguma usina de álcool.
Mas, é preciso esclarecer. Se
estes incêndios são fruto do desleixo de algum fumante, por que a imensa
maioria deles acontece justamente em canaviais? Por que não nas pastagens secas desta época? Ou ainda, por que a maior parte destes incêndios
se dão em canaviais já prontos para o corte, visto que para qualquer vândalo inteligente
seria mais coerente por fogo em canaviais ainda baixos, assim o prejuízo do
usineiro seria maior?
Alguns fatores podem
explicar este problema. Existem dois modos de plantio de cana-de-açucar: um
deles são as plantações dos próprios proprietários da terra, que no tempo certo
vende a produção ao usineiro, a outra forma se dá através dos arrendamentos das
terras às usinas de álcool.
A principal suspeita é que
alguns fazendeiros, na ânsia por vender logo a sua plantação de cana,
queimam-na para antecipar a colheita. Já nos casos das fazendas arrendadas, a
queimada seria feita por algumas empresas que preferem "limpar" o canavial, pois, mesmo
sendo mecanizado o corte, a cana queimada facilita e agiliza a colheita, torna
mais rápida a passagem das máquinas.
Ou seja, tudo indica que se
trata de casos de pura busca desenfreada por maiores lucros. A poluição que não
sai dos escapamentos dos carros que são movidos a álcool, é compensada pelo
inferno das queimadas de cana de açúcar.
Enquanto os coniventes
governos e os consentidos ministérios públicos não tomam ações eficientes a
população sofre com o ar pesado dessa época do ano. Enquanto os que lucram com
estes canaviais não forem responsabilizados por estes danos ambientais nos
restará lamentar a perda dos tempos em que Castilho-SP e região tinha na
qualidade do ar um dos seus atributos elogiáveis.
Dóri Edson Lopes
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