“Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar”
O cinismo de certas
personificações do capital parece não ter limites, nem mesmo em meio à
tragédia. Quem conhece o mínimo de história sabe que o tipo de “solução”
estapafúrdia proposta Naguib Sawiris de comprar uma ilha da Grécia ou da Itália para servir de casa aos milhares de homens, mulheres e crianças que fogem da Síria e de outros conflitos, não tem nada de inovador.
Trata-se da mesma lenga-lenga que deseja “resolver” os problemas graves “dos afogados do mundo” sem tocar nas causas imanentes, justamente porque um ataque às causas colocaria em pauta questões relacionadas aos problemas estruturais de um sistema que, se no passado trouxe certos benefícios (e aqui é bom lembrar a discrepância na divisão dessas benesses), nos últimos quarenta anos tem minado praticamente todas as conquistas daqueles que, ao longo de suas vidas, “nadaram/nadam” em meio à degradação e a precarização. Ou seja, aqueles que lutaram/lutam para não morrerem nas praias da barbárie da vida cotidiana.
O campo de refugiados de Za'atari, segundo maior do mundo
Trata-se da mesma lenga-lenga que deseja “resolver” os problemas graves “dos afogados do mundo” sem tocar nas causas imanentes, justamente porque um ataque às causas colocaria em pauta questões relacionadas aos problemas estruturais de um sistema que, se no passado trouxe certos benefícios (e aqui é bom lembrar a discrepância na divisão dessas benesses), nos últimos quarenta anos tem minado praticamente todas as conquistas daqueles que, ao longo de suas vidas, “nadaram/nadam” em meio à degradação e a precarização. Ou seja, aqueles que lutaram/lutam para não morrerem nas praias da barbárie da vida cotidiana.
A ideia de um capitalismo
cujas personificações aparecem como indivíduos bem intencionados e solidários
é, no mínimo, uma falácia perversa. Isso porque desconhece completamente o papel
destas mesmas personificações dentro da (des)ordem sistêmica mundial. Ignora a
cota de responsabilidade destes mesmos “bem aventurados” que, agora, em meio à
comoção mundial, surgem como “heróis” dos deserdados do mundo. Agora pretendem
“ajudar o povo” com mesmos os recursos que foram de antemão surrupiados da
grande maioria!
Concomitantemente, tais ideias
ocultam o papel “funcional” dessa gente na “lógica” capitalista. Uma lógica em
que a “mobilidade arrasadora” joga os seres humanos de um lado a outro sem
considerar as consequências negativas, impondo à estes, o que na geografia
alguns costumam denominar de des-re-territorialização. Um neologismo barato que
tenta dar nova explicação, dentre outras coisas, para o eterno movimento
potencialmente destrutivo imposto pelo capital (desde sua gênese), à maioria
dos indivíduos que são varridos de um lado a outro conforme as demandas e
exigências da acumulação e expansão de capital. A correlação desigual entre
capital e trabalho, nesse processo, caminha pari passu à dinâmica da luta de
classes. E nesse sentido, o papel das classes capitalistas e suas devidas
personificações não pode ser ignorado, isso tanto nos planos nacional, como
internacional. É bom lembrar que a mobilidade do trabalho está ligada à mobilidade
arrasadora do capital!
Por
isso, “foco-soluções” como a desse Naguib Sawiris, assim como muitas outras que
já foram idealizadas, quando postas em prática, estão fadadas ao fracasso, pois
mesmo quando “funcionam”, elas têm um efêmero prazo de validade, já que
necessariamente não estão atreladas a um processo amplo e contínuo de mudanças
estruturais/sistêmicas, ao contrário, pretendem “desafogar” temporariamente o
sistema de suas contradições (Maiores informações, vide Brasil!)
Assim, não é nada espantoso que a adoção deste tipo de “ideia inovadora” por parte dos “caridosos” homens e mulheres de bem (dispostos a “compartilhar” as suas fortunas) e abraçada rapidamente por alguns desavisados, transformarem-se, como de costume, em práticas extremamente rentáveis. As ONGs são um bom exemplo nesse sentido.
Assim, não é nada espantoso que a adoção deste tipo de “ideia inovadora” por parte dos “caridosos” homens e mulheres de bem (dispostos a “compartilhar” as suas fortunas) e abraçada rapidamente por alguns desavisados, transformarem-se, como de costume, em práticas extremamente rentáveis. As ONGs são um bom exemplo nesse sentido.
Não por acaso, Sawiris
sinaliza para o fato da necessidade de “investimento em infraestrutura".
De modo que haveria "abrigos temporários para as pessoas e elas poderiam
ser empregadas para construir habitações, escolas, universidades,
hospitais". Mas, correndo o risco de pedantismo, algumas questões surgem a
priori. Por exemplo, de onde viriam tais investimentos? De onde viriam os meios
de produção para esses novos empregados construíssem essa sua nova
sociedade-ilha? Quem fará tal controle do que será produzido e distribuído
nessas ilhas? Quem se apropriará do mais-valor (se é que ele existirá nessas
ilhas de fantasia)? Como será feita a realocação dessas pessoas, quem o fará ?
Serão consultadas antes de serem simplesmente jogadas nas ilhas? Enfim, estas
são só algumas das inúmeras questões que surgem e que nem sequer são formuladas
pelos apologistas
No fundo, o que o bom
samaritano Naguib (ingênuo devido o seu coração solidário) faz ( sem saber?) é
abrir caminho para a possível criação de “Ilhas de investimento” em meio aos
“oceanos” de degradação humana e natural.
Tais ideias só conseguem comover os corações e mentes daqueles que de alguma maneira já estão devidamente “adaptados” e “amoldados” a um modo de pensar estritamente monetário. Para eles e elas, as “$oluções” devem ser pensadas sempre dentro dos limites da própria ordem, jamais para além dela. São como certos cães que, ao correrem atrás do próprio rabo, imaginam que conseguirão alcançá-lo! Para estes senhores e senhoras, basta uma mão caridosa aqui e ali (por parte dos ricos) e tudo se resolverá gradualmente, mesmo que, nesse meio tempo, isto signifique ter que desviar dos cadáveres que se avolumam tanto na terra como no mar!
Tais ideias só conseguem comover os corações e mentes daqueles que de alguma maneira já estão devidamente “adaptados” e “amoldados” a um modo de pensar estritamente monetário. Para eles e elas, as “$oluções” devem ser pensadas sempre dentro dos limites da própria ordem, jamais para além dela. São como certos cães que, ao correrem atrás do próprio rabo, imaginam que conseguirão alcançá-lo! Para estes senhores e senhoras, basta uma mão caridosa aqui e ali (por parte dos ricos) e tudo se resolverá gradualmente, mesmo que, nesse meio tempo, isto signifique ter que desviar dos cadáveres que se avolumam tanto na terra como no mar!
André Amorim 07/09/2015
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