Todos aqui do blog já tínhamos desistido de
escrever qualquer coisa esse fim de ano. A fartura natalina deixou-nos todos
empanzinados e malemolentes. Estava tudo correndo na maior tranqüilidade, até
que a cidade foi pega de calça curta com a notícia de uma Sessão Extraordinária
na Câmara de Vereadores. O que de tão urgente teria acontecido pra que a semana
natal-ano novo fosse interrompida por nossos sempre muito atuantes edis?
Não demorou pro facebook e os sites locais e
regionais soltarem a notícia de que a presidência da casa legislativa
castilhense passou por uma substancial e inesperada mudança. Assim, aos 47 do
segundo tempo, sem alarde, à surdina, o mandato do presidente passou de dois
pra um ano, sem a prerrogativa da reeleição. Uma diminuição significativa nos
poderes e a garantia de finais de ano intensos na busca da cobiçada chave do
cofre.
Interessante o fato de alguns vereadores,
outrora contra, terem mudado de opinião com tanta celeridade e com um discurso
afinadíssimo, apesar da discrepância argumentativa com relação a algum senso
moral. Esse episódio deixa em mim duas impressões.
A primeira (e mais óbvia) é a de que os três
remanescentes do atual mandato são e estão espertos. Sabendo que a parcial
ojeriza popular fez com que os novos vereadores formassem uma “aliança” em
favor de uma presidência igualmente renovada, eles se adiantaram e, pelo poder
legalmente conferido a eles, mudaram a legislação, de modo que há, agora,
virtualmente, uma maior possibilidade de conseguirem voltar ao poder. Fica
patente o desejo voraz pela cadeira! Não pensemos, eleitores, que a coisa vai
correr pacificamente. Conchavos, reuniões particulares, visitas noturnas, grana,
e toda essa imundície que já conhecemos. O que muda é que agora teremos essa
mesma ladainha todo final de ano, com o script imutável forjado em anos e anos
de politicagem torpe.
A segunda não era tão visível, mas era
imaginável. No afã de satisfazer seus eleitores e de mostrar serviço desde
cedo, atendendo a sede popular por uma moralidade administrativa no
Legislativo, os novos vereadores saíram mostrando suas cartas, apregoando aos
quatro cantos da cidade que a presidência será do grupo do prefeito. Inocentes,
esqueceram-se de que os Três ainda têm a caneta na mão e uma disposição
hercúlea para manter o poder bem aconchegado embaixo dos braços. Resultado: um duro
golpe e a certeza de agitadas disputas futuras.
Tudo muito estranho, tudo muito rápido e, ao
mesmo tempo, tudo muito auto-explicativo. Quatro anos de mandato, uma eleição já
decidida, mas, ainda, mais três a serem disputadas com unhas e dentes. Em um
ano muita coisa muda, muita água passa por debaixo da ponte, como diz um desses
ditados. E o jogo fica em aberto. A mim fica a certeza de que a moralidade administrativa
está cada vez mais distante e utópica. Quando penso nela, vem-me logo à mente a
imagem de uma criança correndo atrás da lua, achando que ela se encontra bem
próxima, alcançável.
Márcio Antoniasi