sexta-feira, 31 de maio de 2013

Rescaldos da greve

       
      A greve acabou. Entre mortos, feridos, gritos e gemidos, salvaram-se todos. Uma semana de passeatas, carreatas, fogos, piquetes, negociações, conversas, discussões, provocações. Agora, finalmente, a calma voltou ao município. Por enquanto.
        Antes de se perguntar quais foram os ganhos da greve é preciso saber: a maior vitória da greve foi a sua existência. Agora, algo mudou. As relações de forças se reequilibraram. Os funcionários mostraram sua voz e as suas caras. Nosso Excelentíssimo Sr. Prefeito, o maior nome político da cidade, eleito, re-eleito e depois eleito de novo, teve que se reunir com o sindicato, com escriturário, com motoristas, com lixeiro, com auxiliar de serviços gerais para explicar os seus porquês. Se isso não é uma vitória, o que será?
         Mas, afinal, por que a greve começou?
        Esta foi uma greve preventiva. Mais do que a insatisfação pelos 7%, pelos 50 reais de aumento do ticket, essa greve foi um recado dos funcionários ao atual prefeito. Afinal, todos recordam da política salarial empregada nos seus 8 anos de mandato. Isso, somado a falta de isonomia aplicada na bonificação de 40% exclusiva aos médicos, gerou um grande sentimento de insatisfação por parte dos funcionários. Foi esse sentimento que alimentou a greve mais do que qualquer liderança de sindicato ou outras figuras que tomaram a frente no movimento.
         Mas por que a greve acabou?
       A greve acabou por que o sindicato, por meio de seu advogado, fez uma leitura da situação e achou que parar naquele momento seria um vitória. Quais foram os reais motivos dele? Impossível saber. Mas é fato que havia um grupo de funcionários que tomaria a voz e também exporia um pensamento semelhante ao feito pelo advogado, prova de que sua leitura não foi equivocada. De uma forma ou de outra, a proposta foi posta em votação e a decisão foi unânime pela volta ao trabalho.
         Os erros da greve:
        Foi louvável a coragem dos funcionários em enfrentar o prefeito, escancarando sua incoerência no tratamento com os funcionários. O churrasco na praça foi delicioso, as músicas que animaram o piquete, impagáveis. Os Galos da Madrugada farão parte do imaginário popular de agora em diante. Também foi histórica a coragem dos funcionários da coleta de lixo em mostrar para a população que o lixo que você põe na lixeira na frente da tua casa não vai embora sozinho pro lixão. Existe um ser humano que faz esse “serviço sujo” (no sentido limpo, é claro). Mas é fato que a greve teve seus erros. O principal foi a falta de agudez: greve deve ser maciça e curta. Greves longas cansam e acabam por jogar a população contra os grevistas. Por isso, é necessária a adesão da maioria dos funcionários. Desse modo, é possível vitórias maiores. Essa adesão, que fique clara, não pode ser feito na marra. Cada um tem a liberdade de entrar ou não na greve. Outros erros foram por conta do sindicato [Olha, estamos criticando o sindicato, queremos uma boquinha nele também, né, N.N.]. É preciso que o sindicato tenha mais unidade para que suas lideranças não sejam facilmente jogadas contra si próprias como foi feito nessa greve. Atitude não falta aos seus filiados, mas é preciso algumas lideranças intelectuais mais fortes. A voz do sindicato não pode ficar na mão de qualquer um que se proponha a tomar o microfone. É preciso ordem, pois a causa é séria. Cadê a planfetagem? Cadê a conscientização das causas da greve para os outros funcionários e para a população? Lições que ficam para as próximas lutas.
        Os erros da prefeitura:
       Nenhum diretor de departamento ou de escola vai apoiar claramente a greve. É estupidez pensar o contrário. Contudo, é imoral e ilegal qualquer tipo de coação feita contra os funcionários que pretendam aderir a greve. É absurda a atitude de quem tenta constranger aqueles que lutam por seus direitos. Retaliações futuras também são inadimissíveis. Tirar a cobertura do toldo da praça onde os ogrevistas ficavam... isso foi... cômico, embora trágico.
      Enfim. A greve deu o seu recado. Aos guerreiros, parabéns. Aos que não aderiram, pensem bem quando gastarem aqueles 60 reais a mais de ticket. Eles não existiriam sem a greve. Mas sem ressentimentos. São todos companheiros e unidos serão sempre mais fortes. Um beijo no coração de todos, um bundalelê para a N.N. A luta continua.


       Um adendo: um diretor de alto escalão da prefeitura usou a comunidade O que eu odeio em Castilho, do facebook, para perguntar o porquê de a greve ter acabado. Interessante. Interessante. Interessante. A pergunta dele, se foi sincera, demonstra no mínimo inocência, afinal, é óbvio que a greve acabou porque os funcionários aceitaram a contra-proposta. O que há de estranho nisso se a proposta era a mais coerente às possibilidades da prefeitura como o mesmo funcionário tanto defendeu nessa mesma comunidade? Se a pergunta dele foi irônica há duas leituras possíveis. A primeira é pura maldade, afinal, ele estaria espezinhando no fato de os funcionários terem se contentado com os 7%. Zuando na cara dos infelizes que não conseguiram ganhar um tiquinho a mais de salário. Talvez 7% para ele seja alguma coisa, pra quem ganha milão por mês, nem tanto. A segunda leitura é ainda pior. Afinal, fica impossível negar que essa pergunta jogada no ar assim deixa um sentido de que haveria motivos escusos por trás do fim da greve. Ora, desconfiar que a greve acabou por isso não é desconfiar apenas das lideranças do sindicato, é desconfiar das atitudes do próprio prefeito, pois ele era o principal interessado em que a greve acabasse. Talvez eu esteja exagerando. Talvez seja apenas uma pergunta boba, feita por um bobo. Todos nós, bobinhos. Há um ditado que diz: o Brasil não é um país para principiantes. Castilho, pelo jeito, não foge à regra.

                                                                                                    Opositores

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Prefeito usa de artifícios covardes


Nesta segunda-feira (27/5), a greve dos Servidores Públicos Municipais entrou em seu quinto dia e revelou um pouco da estratégia do prefeito municipal para barrar o movimento grevista.
Durante todo o dia as pessoas aguardaram em frente ao paço municipal a contra-proposta prometida pelo prefeito. A reunião marcada com os vereadores e sem a presença do Sindicato, por imposição do prefeito, teve início por volta das 14:00 horas e a expectativa era de um reajuste de, ao menos, 10% no salário dos funcionários.
No entanto, a contra proposta apresentada insistiu no reajuste inicial de 7% no salário e mais 110 reais no ticket alimentação, em vez de 50 reais como havia sido proposto de início.
Apesar de todos considerarem uma vitória, mesmo que parcial, houve grande repúdio à proposta apresentada, tendo em vista que os valores do ticket alimentação não são descontados para fins de aposentadoria, ou seja, no caso de um funcionário requerer aposentadoria, este não terá em suas deduções o valor recebido em tickets alimentação.
Além disso, ao contrário do que o prefeito diz, esta proposta de 7% causa uma perda real para o salário do funcionalismo público, tendo em vista que o reajuste do salário mínimo do ano passado para este ano foi de 9%. Assim, continuando esta política salarial para os próximos anos, a tendência é que em pouco tempo muitos funcionários estarão recebendo um salário mínimo novamente, como era nos mandatos passados do atual prefeito.
As pessoas que participam do movimento grevista têm esta consciência e por isso relutam em aceitar tal proposta. Esta greve é um movimento preventivo, tendo em vista o histórico de arrocho salarial do atual prefeito. 

Começa a distribuição de cargos?
Logo após a apresentação da contra-proposta de reajuste salarial o que se viu foi um entre e sai na Prefeitura de lideranças do movimento grevista.
Ao invés de tratar o assunto diretamente com o Sindicato, que é o representante legal destes trabalhadores, o Prefeito prefere chamar em particular algumas lideranças para dentro do gabinete. Todos os presentes se revoltaram com a atitude do prefeito, pois há suspeita de que estaria tentando cooptar algumas pessoas com cargos e gratificações em troca da traição à greve.
Em um dos casos, o Prefeito teve a capacidade de sair até a frente da prefeitura e chamar uma das lideranças da greve para uma conversa em separado, um cochicho a dois, em frente a todos os funcionários em greve. Uma atitude de total desrespeito para com as pessoas que ali estavam e ansiavam por uma resposta naquele momento.
Se confirmar esta estratégia rasteira, tudo indica que a questão não é falta de recursos e sim de birra política, pois se há dinheiro para ‘comprar’ algumas lideranças com cargos e gratificações, por que não teria dinheiro para um aumento efetivo no salário de todos?
Além do mais, com esta atitude, o prefeito parece acreditar que o movimento grevista é, simplesmente, fruto de meia dúzia de pessoas que não conseguiram cargos em seu governo, quando na verdade é o resultado de amplas insatisfações com sua política salarial.
O momento é de intensificação da luta, novas lideranças devem surgir. Se os funcionários perderem esta batalha, a tendência é que esta política de desvalorização salarial se perpetue para os próximos anos, atingindo a todos, inclusive os professores.

 Opositores

PS: frase do dia:

 "Nunca é tarde para descobrir a verdade que estava sob o tapete, varrida pelos covardes" 
João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart 

De Paraíso do Pescador a Estância do Lixo!


sexta-feira, 24 de maio de 2013

A greve e seus efeitos




Bando de vagabundos! Funcionário público fazendo greve?!
Como assim um serviço geral querer passear na praça de alimentação do shopping? Que audácia! Querer molhar o traseiro na água salgada do mar? Atrevidos! Andar de Adidas e cursar medicina só tem graça se for exclusividade.
Não sou lá o mais versado dos Opositores nessa área da luta de classes e afins. O pouco que sei aprendi debatendo (contra) com meus pares de blog ou nas aulas da licenciatura. Entretanto, essa situação de greve no funcionalismo castilhense fez cair a escama que tapava meus olhos. Tenho visto abertamente essa luta entre classes e o duelo pela manutenção do status quo social existente.
Ainda falando dos médicos, segundo as palavras do prefeito, a possibilidade de eles virem a parar, pedir as contas ou afastamentos foi o fator preponderante para a generosa bonificação de 40%. Ou seja, os médicos não se rebelaram, não argumentaram, não exigiram nada. Pro caso deles, de repente, assim, ficarem zangados, a prefeitura se adiantou e deu o aumento.  

Mas serviços gerais reclamando? Querendo ganhar como um doutor? Absurdo! Queimem na fogueira esse herege!!! É um bruxo querendo mudar a ordem das coisas, trazendo esses sortilégios pra desvirtuar a sociedade.
O que mais ouvi por aí nas minhas conversas com amigos foi que esse movimento grevista é balela. Funcionário público é tudo vagabundo e não salva quase ninguém! Vai trabalhar na Mabel!, gritam alguns mais exaltados. E eu fico sem saber o que pensar. Quer dizer que só porque a Mabel explora seus funcionários com jornadas absurdas e salários baixíssimos, os funcionários de outros setores têm de se contentar com qualquer trocado, acreditar em qualquer conversa fiada de que o limite do aumento é mesmo aquele que dizem? Vamos mesmo nivelar por baixo?
E o que dizer dos professores? Pouquíssimos aderiram. Por isso eu acho bom quando alguns do estado vão pra capital tomar borrachada e spray de pimenta na cara. Não sabem o valor da sua função na construção social. Crêem estar além da classe trabalhadora. E aqui em Castilho, porque ganham um pouco mais (e, diga-se, menos do que merecem) todos se acham diferenciados. Andar com gente que limpa o chão, que carrega carga, que anda de bicicleta? Jamais!
Parece que ninguém entendeu qual o motivo do levante. Se olhassem atentamente os rostos dos grevistas saberiam que ninguém ali quer quebrar as finanças da prefeitura. Todos sabem da responsabilidade que o prefeito tem perante a lei de responsabilidade fiscal e o TCE. O que todos anseiam, a sede popular é por IGUALDADE! Acreditem, formar uma revolução popular não é coisa simples de se conseguir, não. Se chegou ao ponto que está é coisa que já vem se arrastando há muito tempo.
O recorte social é esse. A luta entre as classes está aí, atuante como sempre. Claro, nem todos conseguem enxergar. Talvez por falta de empatia, talvez por falta de identificação, ou talvez porque querem as coisas como estão. O povão, sem sofisticação, sem sobrenome, sem ouvir Caetano, segue unido, forte, brigador. E nós aqui do blog seguimos sonhadores, idealistas, pregando um mundo onde não seja tão absurdo um doutor andar de carro popular e um serviço geral sonhar com um futuro melhor.

Opositores

terça-feira, 21 de maio de 2013

GREVE É RESULTADO DE REVOLTA



Nesta terça-feira (21 de maio de 2013) foi mais uma data para entrar para a história de Castilho-SP. Não por conta de uma privatização covarde de um serviço público como foi o da água, mas sim porque pela segunda vez na história deste município os servidores municipais se uniram e decidiram entrar em greve por melhores salários e maior valorização profissional.
Por ser uma mobilização que se dá logo após uma eleição municipal, alguns acusam se tratar de uma simples ação de partidários da oposição, o que em partes pode ter alguma razão. No entanto, uma análise mais profunda do problema percebe-se que esta paralisação é fruto de uma grande revolta dos funcionários públicos, que vai muito além de questões político-partidárias.
O Sindicato da categoria intensificou a campanha de conscientização salarial apenas no ultimo mês, e mesmo de uma forma meio que desorganizada conseguiu arrastar a maioria dos funcionários públicos de Castilho para a greve na primeira chamada que fez, o que mostra toda a insatisfação destes trabalhadores.
O atual prefeito já assumiu o cargo sofrendo de grande desconfiança dos funcionários públicos municipais, pois nos outros dois mandatos que esteve a frente da Prefeitura teria promovido uma política de arrocho salarial. Talvez seja por isto que os argumentos que tentam justificar um reajuste de apenas 7% a todo o funcionalismo público não tenham surtido efeito.
A falta de isonomia na hora de definir o reajuste/aumento salarial para os diferentes cargos também tem causado muita revolta. Histórias como as do aumento de 44 % para o Diretor Administrativo da Câmara e de 40% para os médicos causaram muita insatisfação entre os funcionários. Isto sem dizer que há ainda rumores de um projeto de aumento para assessores do alto escalão.
 Outro fato de insatisfação é que um reajuste de 7% para todos os funcionários de diferentes cargos não é igualitário na prática, tendo em vista que o quadro de funcionários da Prefeitura é recheado de diferenças salariais, ou seja, um assessor do primeiro escalão terá um aumento salarial muito maior que um auxiliar geral, caso este reajuste seja mesmo aprovado.
Além disso, existe grande revolta entre os servidores por conta do Sindicato e da Câmara Municipal terem denunciado que a Prefeitura apresentou projetos extremamentes absurdos, desnecessários e que lembram a época da ditadura, como o de multas para quem recorre a processos administrativos, demissões quase que à revelia do funcionário, sem direito a direitos constitucionais de ampla defesa. Segundo o Sindicato, existe ainda  um projeto que visa o corte do ticket alimentação para quem apresentar atestado médico. Ou seja, se a mãe de um funcionário estiver doente e ele tiver que comparecer ao médico, terá seu vale alimentação descontado em seu já baixo salário. Logicamente que com isso tentam punir o mau funcionário, mas  acabam generalizando e punindo também o bom servidor.
  O discurso principal na prefeitura é o de que a arrecadação irá cair por conta de uma lei que deverá entrar em vigor daqui a três ou quatro anos e que os recursos deste ano de 2013 estão menores que os do ano passado, sendo assim, o momento seria de sacrifício. No entanto, a revolta maior é que a cobrança por sacrifício acaba recaindo com maior peso em quem ganha menos. Para ser coerente, prefeito e assessores deveriam propor um reajuste escalonado, como foi feito em Andradina, onde os maiores salários tiveram reajustes menores e os mais baixos salários tiveram reajustes maiores, assim todos se sacrificariam igualmente. Mas, a justificativa é a de que isso é proibido, um argumento que deveria ser discutido pelo Sindicato, pois em vários lugares a coisa é feita desta forma. Por que aqui não é?
Ao que parece, estes trabalhadores não querem muito, querem acima de tudo um pouco mais de justiça e de valorização e encontraram na greve a única forma de exigir isto.

Dóri Edson Lopes.

domingo, 19 de maio de 2013

O mal do Brasil: somos muitos burros



            Terra à vista, gritou Cabral, em 1500, quando deu com os olhos nessa imensidão. Essa merda tá fazendo água gritou alguém, 500 anos depois, quando inventamos de fazer uma réplica da Nau usado pelos nossos descobridores. Era a comemoração de nosso 500° aniversário, mas poderia ser a data simbólica de nosso óbito. Fracassamos. Fôssemos nós os conquistadores, os portugueses estariam esperando até hoje.
         Ah, esses brasileiros nos matam de vergonha. Esses, você sabe, nós. Somos uns burros. Vá lá, burro é palavra feia e discriminatória ao animal. Vamos dizer: o brasileiro tem um grave défict intelectual. Nada congênito, não se preocupe. É cultural, social. Não temos bagagem, não acumulamos conhecimento. Somos rasos.
          A mediocridade... sub-mediocridade intelectual está em toda parte. Entra sem bater, está escrito na porta. Toc..toc..toc..posso entrar? O cara mora numa vila lá nos infernos, onde lixeiro passa a cada 7 dias e olhe lá. Mas o infeliz joga o lixo por cima do muro, na rua. Ou joga dentro de um bueiro para que o dejeto volte pra lhe visitar no verão. Esses malditos pobres... todos burros. Entro no site http://www.shanghairanking.com/ARWU2012.html e vejo a lista das melhores universidades do mundo. Confiro a posição da USP, meca de nossa intelinzzia nacional. Centésima primeira posição. Primeira colocada: Havard, com 100 pontos. USP: menos de 24, 03. Nem pelas cotas, babe. Malditos ricos. Burros também. Li Antonio Candido certa vez e ele dizia que nossa poesia tinha se moldado de acordo com nossa pouca capacidade de leitura. Ou seja, poesia fácil pra leitores rasos. Quer dizer..acho que ele quis dizer isso. Talvez eu tenha lido errado. A burrice dos outros me incomoda. A minha, mais ainda.
           Somos todos burros, sem exceção. Intelectuais, mendigos, presidentas. Dillma, que me animou no discurso de posse quando falou sobre os professores e lembrou de sua mãe, também professora, já fez limpeza ministerial, depois criou mais ministérios, brincou de caxirola, beijou o Fuleco, chutou bola para inaugurar estádio e até agora nada de educação na pauta. Com execeção da vez que deu de ombros para a greve dos professores universitários federais.
            Nossa esquerda é burra, sonha com Cuba. Nossa direita é burra, entroniza Lobão. Não, esses não é daqueles textos que correm por aí, desvalorizando o Brasil chamando brasileiro de otário e dissimulado que a porcaria só começou nos últimos 10 anos. Todos contra a corrupção e tralalá. Não foi o PT que afundou o Brasil. Nem mesmo o PSBD. A coisa vem de antes, vem de sempre. Se 50 bombas atômicas caíssem hoje e dizimassem o país e só restassem 50 pessoas que valorizassem a educação, seriamos, passados 50 anos, uma nação melhor do que seremos em 2063 sem bomba nenhuma. Triste.
            Esses dias, um jegue disse (veja aqui: http://www.youtube.com/watch?v=MFFzrgIyizw&sns=fb) que precisamos investir mais em ciência e tecnologia e menos em ciências socias e humanas. De certo ele acha que todo cientista, engenheiro nasce com 18 anos, branco, culto, gato, poliglota, e preparado pra faculdade. Burro ele também. Burros nós. Todos de castigo num canto da sala, de costas para o professor. Tá serto!

                                                                                    Juliano Cardoso


sexta-feira, 17 de maio de 2013

FORA DO MAPA: A CULTURA E CASTILHO



 Certa vez, um grande professor de literatura brasileira me disse: “A arte não serve para nada. Entretanto, se a retirarmos da humanidade, pouco nos sobrará”. Demorei algum tempo para começar a entender esse quase paradoxo. Ou melhor, demorei um tempo considerável para conseguir conviver com ele.
As “ciências humanas” ou, como corrigiria outro grande professor de literatura, as “humanidades”, são constantemente surradas por argumentos pragmáticos que questionam sua “função” no desenvolvimento da sociedade. Argumentos como os abaixo, de Luiz Carlos Prates, vejam:

 Quem tem competência e vergonha na cara não sacode bandeira vermelha em praça pública no Dia do Trabalho: sai para o trabalho! Ao observarmos este trecho, fica evidente que Prates questiona a função das humanidades no desenvolvimento de uma ideia de sociedade. Ideia positivista, preocupada com a manutenção de uma determinada força de trabalho e sua ordem, em que o que importa é a propriedade burguesa e seu espaço. Ideia que quase nunca encontrou conforto na atividade intelectual das humanidades, principalmente na Arte.
Lembro-me de quando estudei (esteticamente), pela primeira vez, Dom Casmurro na universidade. Ia ansioso para as aulas, esperando pelo dia que a professora revelasse se Capitu traiu ou não Bentinho. Fiquei indignado quando ela nos disse que não sabia. Fiquei maravilhado quando ela nos fez entender que a dúvida causada pela articulação estética de Machado de Assis, que me deixou dias em agonia (como o próprio Bento Santiago), era o motivo da grandeza da obra. A dúvida, a incerteza, a insegurança, enfim, as humanidades...
Um tubo de esgoto em Andradina-SP.  Não há lugar melhor para reclamar da falta de amor.

Sendo assim, em que a Arte pode contribuir para a afirmação de um sistema que se quer seguro, intocável? Realmente, em nada. A Arte não servirá para nada.
Em Castilho, ao menos dois fatos me fazem acreditar que as palavras fascistas de Prates são a materialização de uma ideologia que está disseminada no ar. O primeiro é o de que em mais de cinco meses de novo governo municipal, a cidade ainda não tem um diretor de cultura que tenha um projeto coerente para o seu desenvolvimento no município (fala-se em alguém fazendo trabalho voluntário). Estão nomeando por ordem de importância? O outro, que é decorrente do primeiro, é a recusa da administração em realizar a fase municipal do Mapa Cultural Paulista 2013/2014 (perderam os prazos ou é apenas contenção de despesas com algo que não serve para nada?).
Eu na fase municipal do Mapa Cultural (2008), categoria Conto.

Há 10 anos estou envolvido com música. Tenho uma banda de Rock. Vi muitos talentos se apagarem pela falta de incentivo. Quando, por sorte, não mataram o esquecimento se entregando destrutivamente às drogas, simplesmente formataram-se, dedicando-se às coisas mais “úteis”.
Para finalizar, volto ao quase paradoxo do início. Quarta-feira eu ouvi de um terceiro professor de literatura o seguinte: “Os cães sonham. Alguém já os observou sonhando? Eles se mexem, se contorcem. Li que isso ocorre devido a um determinado elemento de seu cérebro. Lá eu li também que se esse elemento for retirado do cérebro o cão morre em pouco tempo, louco”. Apesar de não ter provas científicas disso, creio que talvez seja isso que reste à humanidade sem a Arte: morrer louco como um cão sem o direito do sonho.

Samuel Carlos Melo.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Inverno de 64



Texto originalmente publicado no Jornal do Portal Castilho , no dia 11/03/2013.


Qual é a relação entre as pequenas cidades de Castilho-SP, no Brasil, com a norteamericana Bronsh, localizada no estado de Óregon, Estados Unidos? Antes que você possa responder a esta pergunta, considere acontecimentos envolvendo as duas cidades no ano de 1964, só que numa perspectiva lançada a partir de 2013?
Ficou curioso(a)? Pois é exatamente um convite como este que o jovem escritor José Antonio da Silva Junior fez a centenas de leitores de toda a região que nos últimos meses tem recorrido ao site http://www.clubedeautores.com.br/book/135584--Inverno_de_64 para adquirir uma verdadeira obra de arte literária: o livro "Inverno de 64".

Mesclando ficção com pitadas de drama, história e suspense, o autor de apenas 32 anos de idade aborda temas contundentes que tocam o coração das pessoas, fazendo-as refletir sobre os mais variados temas de nosso cotidiano. "Essa é uma verdadeira obra prima, uma historia cheia de detalhes, oscilando entre a emoção e o suspense. É um livro que te prende desde as primeiras paginas, que te leva a fazer uma auto reflexão sobre as nossas atitudes. Os personagens foram tão bem caracterizados e personificados, que tomam vida em nossa imaginação, além da sequência dos fatos que são como um quebra-cabeça que só se encaixa no final...Parabéns ao autor...Eu recomendo a todos!", diz um dos 88 comentários deixados por internautas no site onde a obra está disponível.
O autor, Silva Júnior, é natural de Ilha Solteira, mas se considera um castilhense de coração, já que reside no município desde os seis anos de idade. Numa rápida entrevista com nossa equipe, ele conta como nasceu este seu "primeiro" trabalho: "Em 2004 fui estagiário em uma penitenciária. Ali, um aluno me pediu para corrigir o livro que ele havia escrito. O livro era muito interessante e acabou me motivando a escrever também", revela Silva Júnior.
A etapa seguinte foi escolher um tema para sua obra. Após diversas pesquisas, ele acabou aceitando o desafio de um amigo, que lhe sugeriu escrever algo onde “Alguém entregasse sua própria vida em favor de outra pessoa”. "Pesquisando, percebi que um dos poucos lugares onde tem a pena de morte nos EUA é o Estado de Oregon. Por isso, a história se passa lá", explica.
Publicado pelo “Clube de Autores”, o livro possui 220 páginas de uma leitura agradável e simples que Silva Junior começou a escrever em 2009 e concluiu em 2011. Durante o processo de criação, sua família foi essencial tanto no incentivo quanto na avaliação do enredo. "Minha esposa foi minha conselheira. A cada capítulo terminado, passava para ela, mas sempre ‘escondendo’ o desfecho. Quando terminei, meu cunhado Sidney Franco também leu e se apaixonou. 'Nem parece que foi alguém próximo que escreveu', ele comentou após a leitura”.
Questionado sobre a sensação de escrever uma obra tão rica e elogiada, ele nos revela: “Eu me apaixonei por esse livro. Publicar um livro é semelhante a ter um filho. É algo próximo... Quando alguém o lê, é algo gratificante. Às vezes eu penso de onde tirei essa idéia. O primeiro livro tem uma importância incrível na vida de qualquer escritor".
Uma curiosidade nesta obra de Silva Junior é que, mesmo sendo militar (Bombeiro há 03 anos) o livro não tem nenhuma inspiração sobre sua profissão. Questionado sobre isso, ele aproveita para atiçar ainda mais as expectativas de seus leitores: "O próximo provavelmente terá!".
É isto mesmo. Seu próximo projeto é lançar outro livro ainda no mês de agosto deste ano. O livro que 'já está no forno' se chamará "Psiu!" e terá cerca de 120 páginas. Nele o autor conta a história de um rapaz que trabalha em uma lanchonete e está voltando para casa quando escuta um barulho. Atrás de uma árvore sai uma pessoa que, conversando com o jovem, começa a mostrar os valores da vida.
Outra novidade revelada a nossa reportagem pelo autor é que, na verdade, este 'novo' livro já estava sendo escrito, mas acabou cedendo a primogenia de lançamento a "Inverno de 64".
Para encerrar nossa entrevista, Silva Junior pede para deixar um conselho e uma dica aos escritores iniciantes: “A nossa maior alegria é ver as pessoas lendo. Por isso, acredite e vá enfrente, divulgue, pois quando você realmente quer mesmo uma coisa, nada se torna impossível. No meu caso, o Clube de Autores ajudou e ajuda muito. Lá, qualquer pessoa pode entrar no site e enviar seu material", finalizou.

Marco Apolinário