A greve acabou. Entre
mortos, feridos, gritos e gemidos, salvaram-se todos. Uma semana de
passeatas, carreatas, fogos, piquetes, negociações, conversas,
discussões, provocações. Agora, finalmente, a calma voltou ao
município. Por enquanto.
Antes de
se perguntar quais foram os ganhos da greve é preciso saber: a maior
vitória da greve foi a sua existência. Agora, algo mudou. As
relações de forças se reequilibraram. Os funcionários mostraram
sua voz e as suas caras. Nosso Excelentíssimo Sr. Prefeito, o maior
nome político da cidade, eleito, re-eleito e depois eleito de novo,
teve que se reunir com o sindicato, com escriturário, com
motoristas, com lixeiro, com auxiliar de serviços gerais para
explicar os seus porquês. Se isso não é uma vitória, o que será?
Mas, afinal, por que a greve começou?
Esta foi
uma greve preventiva. Mais do que a insatisfação pelos 7%, pelos 50
reais de aumento do ticket, essa greve foi um recado dos funcionários
ao atual prefeito. Afinal, todos recordam da política salarial
empregada nos seus 8 anos de mandato. Isso, somado a falta de isonomia
aplicada na bonificação de 40% exclusiva aos médicos, gerou um
grande sentimento de insatisfação por parte dos funcionários. Foi
esse sentimento que alimentou a greve mais do que qualquer liderança
de sindicato ou outras figuras que tomaram a frente no movimento.
Mas por
que a greve acabou?
A greve
acabou por que o sindicato, por meio de seu advogado, fez uma leitura
da situação e achou que parar naquele momento seria um vitória.
Quais foram os reais motivos dele? Impossível saber. Mas é fato que
havia um grupo de funcionários que tomaria a voz e também exporia
um pensamento semelhante ao feito pelo advogado, prova de que sua
leitura não foi equivocada. De uma forma ou de outra, a proposta foi
posta em votação e a decisão foi unânime pela volta ao trabalho.
Os erros
da greve:
Foi
louvável a coragem dos funcionários em enfrentar o prefeito,
escancarando sua incoerência no tratamento com os funcionários. O
churrasco na praça foi delicioso, as músicas que animaram o
piquete, impagáveis. Os Galos da Madrugada farão parte do
imaginário popular de agora em diante. Também foi histórica a
coragem dos funcionários da coleta de lixo em mostrar para a população que o lixo que
você põe na lixeira na frente da tua casa não vai embora sozinho
pro lixão. Existe um ser humano que faz esse “serviço sujo” (no
sentido limpo, é claro). Mas é fato que a greve teve seus erros. O
principal foi a falta de agudez: greve deve ser maciça e curta.
Greves longas cansam e acabam por jogar a população contra os
grevistas. Por isso, é necessária a adesão da maioria dos
funcionários. Desse modo, é possível vitórias maiores. Essa
adesão, que fique clara, não pode ser feito na marra. Cada um tem a
liberdade de entrar ou não na greve. Outros erros foram por conta do
sindicato [Olha, estamos criticando o sindicato, queremos uma
boquinha nele também, né, N.N.]. É preciso que o sindicato tenha
mais unidade para que suas lideranças não sejam facilmente jogadas
contra si próprias como foi feito nessa greve. Atitude não falta
aos seus filiados, mas é preciso algumas lideranças intelectuais
mais fortes. A voz do sindicato não pode ficar na mão de qualquer
um que se proponha a tomar o microfone. É preciso ordem, pois a
causa é séria. Cadê a planfetagem? Cadê a conscientização das
causas da greve para os outros funcionários e para a população?
Lições que ficam para as próximas lutas.
Os erros
da prefeitura:
Nenhum
diretor de departamento ou de escola vai apoiar claramente a greve. É
estupidez pensar o contrário. Contudo, é imoral e ilegal qualquer
tipo de coação feita contra os funcionários que pretendam aderir a
greve. É absurda a atitude de quem tenta constranger aqueles que
lutam por seus direitos. Retaliações futuras também são
inadimissíveis. Tirar a cobertura do toldo da praça onde os
ogrevistas ficavam... isso foi... cômico, embora trágico.
Enfim. A
greve deu o seu recado. Aos guerreiros, parabéns. Aos que não
aderiram, pensem bem quando gastarem aqueles 60 reais a mais de
ticket. Eles não existiriam sem a greve. Mas sem ressentimentos. São
todos companheiros e unidos serão sempre mais fortes. Um beijo no
coração de todos, um bundalelê para a N.N. A luta continua.
Um
adendo: um diretor de alto escalão da prefeitura usou a comunidade O
que eu odeio em Castilho, do
facebook, para perguntar o porquê de a greve ter acabado.
Interessante. Interessante. Interessante. A pergunta dele, se foi
sincera, demonstra no mínimo inocência, afinal, é óbvio que a
greve acabou porque os funcionários aceitaram a contra-proposta. O
que há de estranho nisso se a proposta era a mais coerente às
possibilidades da prefeitura como o mesmo funcionário tanto defendeu
nessa mesma comunidade? Se a pergunta dele foi irônica há duas
leituras possíveis. A primeira é pura maldade, afinal, ele estaria
espezinhando no fato de os funcionários terem se contentado com os
7%. Zuando na cara dos infelizes que não conseguiram ganhar um
tiquinho a mais de salário. Talvez 7% para ele seja alguma coisa,
pra quem ganha milão por mês, nem tanto. A segunda leitura é ainda pior. Afinal, fica impossível negar que essa pergunta
jogada no ar assim deixa um sentido de que haveria motivos escusos
por trás do fim da greve. Ora, desconfiar que a greve acabou por
isso não é desconfiar apenas das lideranças do sindicato, é
desconfiar das atitudes do próprio prefeito, pois ele era o
principal interessado em que a greve acabasse. Talvez eu esteja
exagerando. Talvez seja apenas uma pergunta boba, feita por um bobo.
Todos nós, bobinhos. Há um ditado que diz: o Brasil não é um país
para principiantes. Castilho, pelo jeito, não foge à regra.
Opositores