Belo
argumento. Cor é só a resultante de como a luz do sol reflete num
objeto. No caso da cor de pele, quanto mais melanina, mais escura a
pele é. E não, a pele preta não tem excesso de melanina e sim a
pele branca que tem melanina de menos. Brincadeira. Não há uma
quantidade certa de melanina na pele. Aliás, quanto mais variações,
melhor.
A
diferença entre um nativo da África e da Escandinávia não nos
permite separá-los em raças. Isso porque a maior diferença entre
ambos se dará especificamente num órgão: a pele. Uma será branca.
Outra, preta. Portanto, não existe raça negra, nem raça branca,
nem raça amarela. Existe a raça humana, com suas variações
tópicas.
Essas
duas afirmações seriam formas racionais de refutar o Dia da
consciência negra. Seriam belos argumentos. Mostrariam que eu tenho
algum conhecimento em Biologia, Fisiologia, Anatomia... sei lá. E
mostrariam também uma coisa: ou eu sou um ET que acabou de chegar na
Terra ou eu sou só um cínico mesmo.
Digo
isso porque esse argumento é cínico. Ele não leva em consideração
um milhão de outros fatores. Fatores esses que constituíram nosso
País. Tais fatores impuseram aos homens de pele escura uma história
ímpar de sofrimento em nossa “nação”, talvez apenas comparável
a situação dos índios. Foram 300 anos de escravidão e depois
outros 120 de marginalização. Você não pode fugir disso, isso
está em nossos ossos. Faz parte da formação do nosso país.
A
consciência não tem cor. E as pessoas de pele preta durante muito
tempo também não tiveram. Se você é escravo, você não é dono
de si, é apenas um objeto. Objetos não têm consciência.
Consciência é o que difere o ser humano dos outros animais.
Consciência é reconhecer-se. E para reconhecer-se é necessário
saber como foi a sua caminhada para chegar até o hoje, o agora.
Quantas vezes você já viu alguém comentando sobre sua ascendência
alemã, espanhola, italiana, japonesa? E quantas vezes você viu
alguém dizendo: meus ancestrais vieram do Congo?
Quando
você se refere a seus ancestrais da Itália, você não está sendo
racista, mas isso também faz parte numa tomada de consciência da
pessoa que você é. Ora, se você tem esse direito, os
afrodescendentes também tem. Mas eles não podem dizer de onde
vieram. Sua linha temporal foi cortada por grilhões, chibatas e
navios negreiros. Então, o Dia da Consciência Negra tenta ser uma
espécie de marco zero. Um dia de auto reconhecimento e de luta
também (só os conscientes são capazes de lutar por melhorias).
Esse dia não quer dizer separação, mas sim a necessidade de
inserção. É um “estamos aqui”, embora alguns ainda tentem
fingir que não.
Juliano
Antunes Cardoso
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