segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O FIO DOS DIAS


 
Por onde começar a análise das mobilizações e manifestações no Brasil? Por onde continuar a análise? Que perspectiva cabe estabelecer?
Uma mobilização democrática, juvenil e popular. A soberania do povo; dos jovens, principalmente. Uma presença de mulheres marcante. Os operários dispersos na massa. Assim tudo recomeçou em 2013.
Por que e para que sair às ruas? Um enfrentamento das condições de vida em deterioração. Uma crise econômica ameaçando desatar. Uma inflação sorrateira, mas presente. Um nível de endividamento preocupante. Um desperdício evidente em projetos para a copa mundial de futebol. Uma percepção: as coisas pioram.
Um desastre dos transportes coletivos. Quem nunca havia saído às ruas em mobilizações, saiu agora em defesa da saúde e da educação. Ninguém suporta mais a precariedade em setores mais do que básicos.
Uma primeira tentativa repressiva do governo não derrotou as passeatas. Dois enfrentamentos começaram. Enfrentar a policia nas ruas. Ganhar a opinião publica. A repressão retrocedeu. Vieram algumas concessões ao movimento de massas. Mas as mudanças em profundidade e a resposta aos problemas postos não chegaram.
O governo federal ficou meio paralisado. O regime perdeu-se nas suas reações. Sem iniciativas de alcance estrutural. A relação de forças mudou. Manifestações e mobilizações escapavam ao raio de ação dos governantes e do regime. O que fazer?
Os partidos do regime foram afetados pela situação. Partidos do governo, do regime: os defensores do capitalismo. Todos perderam, embora se apressassem em interpretar os acontecimentos nos horizontes das conveniências da dominação.
Dilma caiu nas pesquisas. Os demais partidos burgueses, ou simplesmente eleitorais, também. Divergem eleitoralmente; mas eles convergem no mesmo esquema de dominação.
Pesquisas de popularidade, eleitorais, oscilam sempre. Isto pode ser recuperado. No horizonte capitalista, de opções burguesas, candidatos e figuras públicas transformam-se em sabonetes nas prateleiras eleitorais. Não importa muito o cheiro; vale a embalagem. Logo os vendedores de candidatos vão entrar em ação.
Não dá para ignorar uma coisa muito a importante. As relações do PT com as massas sofreram uma mudança. Isto é pouco: mudaram as relações do partido do governo e os de seu campo de dominação com a classe trabalhadora. Esta precisão conceitual é básica na compreensão das mudanças de fundo.
Abriu-se uma situação onde, e quando, se colocam temas de discussão e possibilidades de ação, inexistentes antes.
Na classe operaria, nas fábricas e nos estabelecimentos básicos da produção, isto se refletiu. Uma ação conjunta da classe trabalhadora ocorreu pela primeira vez nos 10 anos de governo de frente popular. A mídia dominante tenta esconder isto na sua lida contraditória entre os pacíficos e os vândalos, de seus conceitos rasos. Preconceitos, não conceitos.
Quem se mobilizou pela primeira vez ficou na prisão do atraso na consciência. Uma expressão do fenômeno é a condenação a todos os partidos. Uma falta de lucidez para a distinção. Mas do movimento vem uma lição. Quem está vivo, aprende.
O Brasil não vai manter a luta constantemente. Vai haver um abrandamento. Mas não voltará à situação de estabilidade anterior. O povo trabalhador quer outros caminhos. Outras auroras. Novos dias para viver.
Antonio Rodrigues Belon

Originalmente no Jornal de Jales, 24 de novembro de 2013; página 1-02.
Em http://blog.uol.com.br/showposts.html?idBlog=952432.

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