Por onde começar a análise das mobilizações e
manifestações no Brasil? Por onde continuar a análise? Que perspectiva cabe
estabelecer?
Uma mobilização democrática, juvenil e popular. A
soberania do povo; dos jovens, principalmente. Uma presença de mulheres
marcante. Os operários dispersos na massa. Assim tudo recomeçou em 2013.
Por que e para que sair às ruas? Um enfrentamento
das condições de vida em deterioração. Uma crise econômica ameaçando desatar. Uma
inflação sorrateira, mas presente. Um nível de endividamento preocupante. Um
desperdício evidente em projetos para a copa mundial de futebol. Uma percepção:
as coisas pioram.
Um desastre dos transportes coletivos. Quem nunca
havia saído às ruas em mobilizações, saiu agora em defesa da saúde e da
educação. Ninguém suporta mais a precariedade em setores mais do que básicos.
Uma primeira tentativa repressiva do governo não
derrotou as passeatas. Dois enfrentamentos começaram. Enfrentar a policia nas
ruas. Ganhar a opinião publica. A repressão retrocedeu. Vieram algumas
concessões ao movimento de massas. Mas as mudanças em profundidade e a resposta
aos problemas postos não chegaram.
O governo federal ficou meio paralisado. O regime
perdeu-se nas suas reações. Sem iniciativas de alcance estrutural. A relação de
forças mudou. Manifestações e mobilizações escapavam ao raio de ação dos
governantes e do regime. O que fazer?
Os partidos do regime foram afetados pela situação. Partidos do governo, do regime: os defensores do capitalismo. Todos perderam, embora se apressassem em interpretar os acontecimentos nos horizontes das conveniências da dominação.
Os partidos do regime foram afetados pela situação. Partidos do governo, do regime: os defensores do capitalismo. Todos perderam, embora se apressassem em interpretar os acontecimentos nos horizontes das conveniências da dominação.
Dilma caiu nas pesquisas. Os demais partidos
burgueses, ou simplesmente eleitorais, também. Divergem eleitoralmente; mas
eles convergem no mesmo esquema de dominação.
Pesquisas de popularidade, eleitorais, oscilam
sempre. Isto pode ser recuperado. No horizonte capitalista, de opções
burguesas, candidatos e figuras públicas transformam-se em sabonetes nas
prateleiras eleitorais. Não importa muito o cheiro; vale a embalagem. Logo os
vendedores de candidatos vão entrar em ação.
Não dá para ignorar uma coisa muito a importante.
As relações do PT com as massas sofreram uma mudança. Isto é pouco: mudaram as
relações do partido do governo e os de seu campo de dominação com a classe
trabalhadora. Esta precisão conceitual é básica na compreensão das mudanças de
fundo.
Abriu-se uma situação onde, e quando, se colocam
temas de discussão e possibilidades de ação, inexistentes antes.
Na classe operaria, nas fábricas e nos
estabelecimentos básicos da produção, isto se refletiu. Uma ação conjunta da
classe trabalhadora ocorreu pela primeira vez nos 10 anos de governo de frente
popular. A mídia dominante tenta esconder isto na sua lida contraditória entre
os pacíficos e os vândalos, de seus conceitos rasos. Preconceitos, não
conceitos.
Quem se mobilizou pela primeira vez ficou na prisão
do atraso na consciência. Uma expressão do fenômeno é a condenação a todos os
partidos. Uma falta de lucidez para a distinção. Mas do movimento vem uma
lição. Quem está vivo, aprende.
O Brasil não vai manter a luta constantemente. Vai
haver um abrandamento. Mas não voltará à situação de estabilidade anterior. O
povo trabalhador quer outros caminhos. Outras auroras. Novos dias para viver.
Antonio Rodrigues Belon
Originalmente no Jornal de Jales, 24 de novembro de 2013; página 1-02.
Em http://blog.uol.com.br/showposts.html?idBlog=952432.
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