Nos últimos dias tem se
falado muito do problema da falta de tomate no comércio em geral e da alta do
preço deste alimento, que para a botânica é considerado um fruto, mas para a culinária
e o senso comum trata-se de um legume.
Nas redes sociais da
internet o tema virou piada. Já a grande mídia usa sua pseudo-seriedade para polemizar
o assunto. Entrevistas são feitas com consumidores em supermercados, onde se mostra
toda a indignação popular com o valor excessivo deste produto que no último ano
subiu 150%. Repórteres denunciam o tráfico de tomates na fronteira do país,
entrevistam produtores que vigiam seus tomateiros como se fosse ouro, mostram
como a super valorização do tomate possibilitou a compra da camionete e trator
novos a quem acreditou e o cultivou.
Para a grande mídia, os problemas
para a falta de tomates se resumem a questões mercadológicas, ou seja, a lei da
oferta e da procura onde a super produção do ano passado teria desvalorizado o
produto, o que levou muitos produtores a desistiram de investir neste tipo de
alimento para a safra deste ano. Segundo a mídia, outra razão para a super alta
no preço do tomate é culpa do clima, onde a chuva fez perder muitas plantações.
Tudo isto tem sua
influencia, é verdade. Mas, não explica tudo, aliás, está muito longe disto.
O que deveriam questionar
é como um país de tamanho continental e de solo rico como o Brasil não consegue
ser auto-suficiente na produção de um simples legume ou fruto?
A questão é que os
verdadeiros produtores de tomates não são os grandes latifundiários do agronegócio,
tão exaltados pela mídia monopolista do Brasil. A produção de tomates é, em
geral, praticada em pequenas propriedades do campo brasileiro, ou seja, pela
agricultura camponesa, um setor da agricultura quase esquecido pelos sucessivos
governos.
Segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística - IBGE, 70% dos alimentos que chegam à mesa dos
brasileiros vêm da agricultura familiar. Realizada em pequenas propriedades, em
geral pelas próprias famílias, diferentemente da agricultura patronal. Essas
pequenas propriedades representam cerca de 84,4% do total de estabelecimentos, mas
ocupam apenas 24,3% da área agricultável no Brasil. As outras 15,6% de
propriedades ocupam 75,7% da área agricultável nacional, são os latifúndios.
No entanto, como mostra o
Censo Agropecuário de 2006 (IBGE), as propriedades de até 100 hectares,
representantes destes poucos mais de 80% de todos os estabelecimentos rurais do
Brasil, haviam recebido 30% de todo o financiamento destinado à agricultura no
país.
Enquanto isso, as grandes
propriedades do campo brasileiro, ou seja, aquelas acima de 1.000 (mil)
hectares e que são representadas por apenas 0,91% dos estabelecimentos, receberam
43,60% de todo o investimento feito na agricultura brasileira para o período deste
Censo Agropecuário.
Entretanto, conforme o
mesmo Censo Agropecuário, a produção de mais de 382 mil toneladas de Tomate do tipo
rasteiro registrada nesta pesquisa, tem 65% de sua concentração em unidades de até 100
hectares, ou seja, as pequenas propriedades. Já as grandes propriedades, acima de 1.000
(mil) hectares, produzem apenas 5% de todo tomate plantado no Brasil, o restante fica nas consideradas propriedades de tamanho médio.
Portanto, a grande questão
desta falta de tomates no país não passa apenas por aspectos de mercado e de
clima, mas principalmente pela questão de política agrícola.
A agricultura é um setor
que necessita de subsídios. É assim em boa parte do mundo e é assim que faz o
governo com o agronegócio brasileiro, como mostra o IBGE, onde menos de 1% das
propriedades recebe quase a metade ou mais de todo o investimento agrícola.
Deste modo, o que deveria estar
em pauta é que tipo de agricultura nós queremos, se é a de simples fornecedora
de matéria prima para países estrangeiros, como no caso dos derivados da
cana-de-açúcar, da soja e do eucalipto, ou se é uma agricultura que promova a segurança
e soberania alimentar de uma nação.
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