domingo, 14 de abril de 2013

O QUE ESTÁ POR TRÁS DA 'CRISE' DO TOMATE?


Nos últimos dias tem se falado muito do problema da falta de tomate no comércio em geral e da alta do preço deste alimento, que para a botânica é considerado um fruto, mas para a culinária e o senso comum trata-se de um legume.
Nas redes sociais da internet o tema virou piada. Já a grande mídia usa sua pseudo-seriedade para polemizar o assunto. Entrevistas são feitas com consumidores em supermercados, onde se mostra toda a indignação popular com o valor excessivo deste produto que no último ano subiu 150%. Repórteres denunciam o tráfico de tomates na fronteira do país, entrevistam produtores que vigiam seus tomateiros como se fosse ouro, mostram como a super valorização do tomate possibilitou a compra da camionete e trator novos a quem acreditou e o cultivou.
Para a grande mídia, os problemas para a falta de tomates se resumem a questões mercadológicas, ou seja, a lei da oferta e da procura onde a super produção do ano passado teria desvalorizado o produto, o que levou muitos produtores a desistiram de investir neste tipo de alimento para a safra deste ano. Segundo a mídia, outra razão para a super alta no preço do tomate é culpa do clima, onde a chuva fez perder muitas plantações.
Tudo isto tem sua influencia, é verdade. Mas, não explica tudo, aliás, está muito longe disto.
O que deveriam questionar é como um país de tamanho continental e de solo rico como o Brasil não consegue ser auto-suficiente na produção de um simples legume ou fruto?
A questão é que os verdadeiros produtores de tomates não são os grandes latifundiários do agronegócio, tão exaltados pela mídia monopolista do Brasil. A produção de tomates é, em geral, praticada em pequenas propriedades do campo brasileiro, ou seja, pela agricultura camponesa, um setor da agricultura quase esquecido pelos sucessivos governos.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros vêm da agricultura familiar. Realizada em pequenas propriedades, em geral pelas próprias famílias, diferentemente da agricultura patronal. Essas pequenas propriedades representam cerca de 84,4% do total de estabelecimentos, mas ocupam apenas 24,3% da área agricultável no Brasil. As outras 15,6% de propriedades ocupam 75,7% da área agricultável nacional, são os latifúndios.
No entanto, como mostra o Censo Agropecuário de 2006 (IBGE), as  propriedades de até 100 hectares, representantes destes poucos mais de 80% de todos os estabelecimentos rurais do Brasil, haviam recebido 30% de todo o financiamento destinado à agricultura no país.
Enquanto isso, as grandes propriedades do campo brasileiro, ou seja, aquelas acima de 1.000 (mil) hectares e que são representadas por apenas 0,91% dos estabelecimentos, receberam 43,60% de todo o investimento feito na agricultura brasileira para o período deste Censo Agropecuário.
Entretanto, conforme o mesmo Censo Agropecuário, a produção de  mais de 382 mil toneladas de Tomate do tipo rasteiro registrada nesta pesquisa, tem 65% de sua concentração em unidades de até 100 hectares, ou seja, as pequenas propriedades. Já as grandes propriedades, acima de 1.000 (mil) hectares, produzem apenas 5% de todo tomate plantado no Brasil, o restante fica nas consideradas propriedades de tamanho médio.
Portanto, a grande questão desta falta de tomates no país não passa apenas por aspectos de mercado e de clima, mas principalmente pela questão de política agrícola.
A agricultura é um setor que necessita de subsídios. É assim em boa parte do mundo e é assim que faz o governo com o agronegócio brasileiro, como mostra o IBGE, onde menos de 1% das propriedades recebe quase a metade ou mais de todo o investimento agrícola.
Deste modo, o que deveria estar em pauta é que tipo de agricultura nós queremos, se é a de simples fornecedora de matéria prima para países estrangeiros, como no caso dos derivados da cana-de-açúcar, da soja e do eucalipto, ou se é uma agricultura que promova a segurança e soberania alimentar de uma nação. 


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