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no pretérito a centelha da esperança só é dado ao historiador que estiver
convicto do seguinte: se o inimigo vencer, nem mesmo os mortos estarão a salvo
dele. Esse inimigo não parou de vencer. (BENJAMIM, 1991[1]).
Neste dia 10 de agosto de
2013 Castilho-SP comemora seus 60 anos de emancipação política, pois antes este
município era um distrito pertencente a Andradina-SP. No entanto, sua história existencial teve início por volta da década de 1920.
Conta a história popular e
mais reconhecida como oficial, que tudo começou quando um proprietário de
terras, chamado Armel Miranda, decidiu lotear a área onde hoje se localiza a
zona urbana do município. O então proprietário residia fora, mas teria dado a seu sobrinho, Antonio de Brito Vieira a missão de cumprir o plano traçado.
Segundo consta, nada havia
por estas terras a não ser matas e animais, sendo que o primeiro nome adotado
para o vilarejo que surgia foi o de Vila Cauê.
Os mais velhos relatam que
nesta época a natureza era dominante e a vida era dura para quem aqui chegava,
estas condições afastavam o interesse de empreendedores e trabalhadores. No
local onde hoje é a Praça da Matriz era uma área de varzea, onde plantavam
arroz e que em dias de chuva os poucos moradores da época costumavam fisgar
Lambaris com redes de pesca.
Consta ainda que Armel
Miranda teria promovido a construção da primeira igreja da cidade, na tentativa
de alavancar a migração de pessoas para o pequeno vilarejo que pouco tempo
depois trocou de nome, passou a se chamar Alfredo de Castilho, cidadão que era
engenheiro da Estrada de Ferro Noroeste
do Brasil (NOB). A
intenção era convencê-lo a adiantar a vinda da estrada de ferro para o local.
Assim, nos primeiros anos da década de 1930 a Estação Ferroviária era inaugurada. No
entanto, Alfredo de Castilho nunca teria visitado a vila com seu nome.
Com a chegada da ferrovia
o transporte foi facilitado e o interesse pelo local aumentou. Chegaram novos investidores
como comerciantes e principalmente, fazendeiros, estes apoiados na política varguista
de integração do território nacional, chamada ‘marcha para o oeste’, que na
pratica significava a negociação livre e desenfreada de terras públicas, sem
qualquer controle, como fazia a antiga firma Moura Andrade de propriedade do
conhecido Rei do Gado.
Foto de placa da
Firma Moura Andrade. Ótimas oportunidades para especulação imobiliária.
Esta talvez seja a parte um tanto romântica da história,
cujos personagens citados até aqui mereceriam maiores estudos para concluir
qual foi o papel e o lugar social que tiveram e ocuparam neste processo de
formação do território castilhense.
É a história dos
‘primeiros’ a pisarem este chão, a fábula dos heróis empreendedores, desbravadores de
matas com machados na mão que enfrentavam as hostilidades de uma natureza
reinante.
É o mito dos Pioneiros, uma
forma de ver a história e que muitas vezes coloca no mesmo saco histórico os
diferentes personagens de distintas classes sociais.
No entanto, algumas
separações são necessárias. Em geral o mundo dos pioneiros procurava exaltar a
história dos vencedores, onde não há
espaço para os subalternos, ignoram, por exemplo a existência de índios por estas terras, da etnia Kaingang, cuja domínio territorial se estendia de Bauru ao rio
Paraná, conforme afirma a antropóloga Pinheiro (2005[2]) apud Oliveira (2006)[3].
O nome, ‘Vila Cauê’, já é
um indicio de influência indígena, pois trata-se de uma palavra Tupi de dois
significados: o pássaro "gavião" ou a bebida fermentada (ka´wi) que
os índios tomam. No conto dos pioneiros não é possível saber, por exemplo, que os índios que aqui moravam foram exterminados para abrir passagem para a negociação de terras.
A história oficial, a dos
vencedores, não mostra, mas como imaginar, por exemplo, o Rei do Gado de
machado na mão derrubando árvores? Como imaginar os grandes fazendeiros de
Castilho-SP com enxada na mão preparando as extensas pastagens?
Nestes contos quase não
aparecem o trabalho do camponês arrendatário que veio do nordeste, da Europa,
do Japão etc; em busca de oportunidades, atraídos pela promessa de terras
fartas, disponíveis a quem quisesse, mas que só encontraram o trabalho em
propriedades alheias. Foram estes que, em diferentes regimes de trabalho ou
acordos desmataram, cultivaram e depois
de um ciclo tiveram que entregar as terras já prontas para a pecuária.
Em Castilho havia um
antigo morador que testemunhava a todos o início da ocupação destas terras. Não se sabe se com orgulho ou revolta, este cidadão lembrava de seus feitos na
empreitada colonizadora por aqui. Dizia que na derrubada das matas e limpeza
das áreas, tinha que dormir em buracos, ao lado de fogueiras para afugentar as
onças. Este mesmo senhor morreu pobre, passou a maior parte de sua vida
recolhendo material de reciclagem pelas ruas da cidade, e com dignidade conseguiu
criar vários filhos que até hoje seguem sua mesma profissão.
Entre pioneiros e
fazendeiros talvez este senhor seja símbolo daqueles que fizeram outro tipo de
história, a dos subalternos e que merecem ser lembrados nesta data. Mas, mais importante que os personagens aqui
citados é entender as razões para que tudo fosse como foi e neste contexto a terra foi o ouro dos desbravadores.
Dóri
Edson Lopes
Em
tempo: o grupo Os Opositores planeja realizar um trabalho de resgate destas
memórias para ser lançado em forma de livro.
[1]
BENJAMIM, Walter. Teses sobre filosofia da história. In: Sociologia. São Paulo: Ática, 1991.
[2]
PINHEIRO, Niminom Suzel. “Terra não é
troféu de guerra.” In: Anais do XXIII Simpósio Nacional de História:
História – Guerra e Paz, Londrina: Editoral Mídia, 2005.
[3]
OLIVEIRA, Mariana Esteves. O Grito
Abençoado da Periferia: trajetórias e contradições do Iajes e dos movimentos
populares na Andradina dos anos 1980. UEM, Maringá-PR, 2006.
muito bom! Recordar é Viver. E outra, essa face oculta da história de Castilho deveria estar evidente no livro que narra o nascimento do nosso município; nota-se, portanto, que temos uma biografia aleijada sobre Castilho.
ResponderExcluirParabéns! Um presente e tanto para o município e para os munícipes!!
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