No próximo domingo (03/11/2013), às 16 horas, acontecerá a primeira Tarde Cultural na praça da matriz, evento idealizado pelo
Rotaract Club e que contará com o nosso auxílio. Será um evento singelo, quase
informal, porém, intenso em cultura e, consequentemente, em ideias. Haverá uma
mesa de troca de livros, rodas de conversa sobre autores e obras, música,
tereré e algo mais.
Desde o início de minha
adolescência, participo da organização de eventos culturais em Castilho e na
véspera de todos eles sempre ficava aquele receio de que se haverá público
interessado. Na 1º Estação Cultura Independente, organizados por nós e pela
LoucAção, não foi diferente, apesar de o evento ter sido um sucesso.
O receio vem da noção
de que eventos culturais como esses competem em desigualdade com as atrações
(ou distrações?) do entreterimento de massa. O risco de fracasso existe, e não
é pequeno. Entretanto, uma coisa que aprendi nessas minhas experiências em
eventos e como professor de língua e literatura, é que o mais importante de
tudo é possibilitar o acesso à cultura, mesmo que sejam reduzidos os
interessados. Digo mais: possibilitar a expressão cultural em espaços públicos
como foi na estação e como será na Praça. Exemplo 1: É mais fácil um aluno ler
um livro tendo uma boa biblioteca a disposição ou sem? Exemplo 2: É mais fácil
alguém participar de uma tarde cultural tendo uma sendo organizada ou não? Exemplos
óbvios, mas verdadeiros.
Um evento como esse realizado
na praça é algo bastante simbólico. A nossa praça, antes da reforma, sempre foi
um ponto de cultura, mesmo que limitada. Como já disse em um outro texto, a
praça antiga era propícia para isso, confortável para isso. Hoje ela é hostil.
Basta ver como são tenebrosos os domingos, ainda mais se vier em nossas mentes
o fantasma dos tempos áureos de forró! Salve a quarta-feirinha!
Assim, essa iniciativa
do Rotaract, quase sem querer, acaba por ser um espinho de incômodo para os
nossos gestores: “A gente não quer só comida!”. Também, sem querer querendo,
mostra como é possível tornar um hábito a realização de eventos rícos como esse
com um custo baixíssimo, bastando vontade e criatividade.
Isso é, se não for exatamente esse o problema...
Samuel Carlos Melo
Obs: 31-10, 111 anos do nascimento de Drummond!
Poema de Sete Faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Carlos Drummond de Andrade