Nos últimos
textos tenho evitado falar sobre a administração de Castilho. Nesse primeiro ano de blog, foram mais de 30
mil acessos e muita polêmica. Percebi que muita gente em nossa cidade não está
acostumada com opinião. Para essas pessoas, toda crítica é interessada em uma
teta da administração. Talvez leiam os nossos artigos com um espelho nas mãos.
Só são piores aqueles que nem lêem e cobram de nós não palavras, mas atitudes.
Mal sabem eles a atitude que carregam certas palavras. A inquisição e a censura
na ditadura militar sabiam muito bem disso...
Enfim, depois
de um tempo sem críticas à administração, aqui estou para falar, novamente, de
nosso departamento de cultura. Primeiro,
elogiar. Semana passada, nosso amigo Fordinho e sua equipe promoveram uma bela
semana cultural, com diversos eventos musicais que há temos não víamos por
aqui. Ninguém duvida da capacidade de nosso diretor, especialmente eu, que já
participei, em um tempo remoto, da sua big band e pude observar de perto sua
capacidade e, principalmente, sua paixão pela música e pela arte. Foi mais um
tiro certo de Joni para o cargo.
Créditos da foto: Portal Castilho
Entretanto, tenho
uma crítica a fazer. Ainda vejo predominar nas ações culturais promovida por
nossa administração alguns estereótipos de cultura, marcados, geralmente, pela promoção
da arte clássica, especialmente na música: violinos, metais, orquestras etc.
Não que se deva esquecer esse esses modos de expressão artística, pelo contrário, tem que se dar acesso a todos os tipos de cultura.
É por isso mesmo que creio que se deve promover maior diversidade artística, principalmente
no âmbito da cultura popular.
Ideia interessante para o próximo ano seria a de o departamento de cultura mapear, primeiramente, os talentos da cultura popular existentes em nossa cidade: bandas de pagode, rap, rock, sertanejo, MPB. Além disso, cultura não é só música. É, também, artes plásticas, fotografia, grafite, teatro, cinema, capoeira, literatura e muito mais. Por isso, realizar esse mapeamento, em minha modesta opinião, seria fundamental para ações mais eficientes de incentivo e promoção da cultura já existente. Para se ter uma ideia, quarta-feira, dia em que se iniciou a Semana Cultural, foi também dia da consciência negra e não me lembro de alguma ação cultural que lembrasse a influência da cultura negra em nosso país. Talvez, com o mapeamento das expressões artíticas de nossa cidade, fosse possível, nessa data tão importante para nossa identidade, promover a expressão dessa cultura.
O meu alento é que conhecendo o nosso diretor, sua humildade, capacidade e disposição parar trabalhar, certamente virão ações mais diversificadas para o próximo ano. O meu desalento é a incerteza da liberdade e automia que ele está tendo no departamento. Vou continuar observando e, se necessário, relatando...
Por onde começar a análise das mobilizações e
manifestações no Brasil? Por onde continuar a análise? Que perspectiva cabe
estabelecer?
Uma mobilização democrática, juvenil e popular. A
soberania do povo; dos jovens, principalmente. Uma presença de mulheres
marcante. Os operários dispersos na massa. Assim tudo recomeçou em 2013.
Por que e para que sair às ruas? Um enfrentamento
das condições de vida em deterioração. Uma crise econômica ameaçando desatar. Uma
inflação sorrateira, mas presente. Um nível de endividamento preocupante. Um
desperdício evidente em projetos para a copa mundial de futebol. Uma percepção:
as coisas pioram.
Um desastre dos transportes coletivos. Quem nunca
havia saído às ruas em mobilizações, saiu agora em defesa da saúde e da
educação. Ninguém suporta mais a precariedade em setores mais do que básicos.
Uma primeira tentativa repressiva do governo não
derrotou as passeatas. Dois enfrentamentos começaram. Enfrentar a policia nas
ruas. Ganhar a opinião publica. A repressão retrocedeu. Vieram algumas
concessões ao movimento de massas. Mas as mudanças em profundidade e a resposta
aos problemas postos não chegaram.
O governo federal ficou meio paralisado. O regime
perdeu-se nas suas reações. Sem iniciativas de alcance estrutural. A relação de
forças mudou. Manifestações e mobilizações escapavam ao raio de ação dos
governantes e do regime. O que fazer?
Os partidos do regime foram afetados pela situação. Partidos do governo, do
regime: os defensores do capitalismo. Todos perderam, embora se apressassem em
interpretar os acontecimentos nos horizontes das conveniências da dominação.
Dilma caiu nas pesquisas. Os demais partidos
burgueses, ou simplesmente eleitorais, também. Divergem eleitoralmente; mas
eles convergem no mesmo esquema de dominação.
Pesquisas de popularidade, eleitorais, oscilam
sempre. Isto pode ser recuperado. No horizonte capitalista, de opções
burguesas, candidatos e figuras públicas transformam-se em sabonetes nas
prateleiras eleitorais. Não importa muito o cheiro; vale a embalagem. Logo os
vendedores de candidatos vão entrar em ação.
Não dá para ignorar uma coisa muito a importante.
As relações do PT com as massas sofreram uma mudança. Isto é pouco: mudaram as
relações do partido do governo e os de seu campo de dominação com a classe
trabalhadora. Esta precisão conceitual é básica na compreensão das mudanças de
fundo.
Abriu-se uma situação onde, e quando, se colocam
temas de discussão e possibilidades de ação, inexistentes antes.
Na classe operaria, nas fábricas e nos
estabelecimentos básicos da produção, isto se refletiu. Uma ação conjunta da
classe trabalhadora ocorreu pela primeira vez nos 10 anos de governo de frente
popular. A mídia dominante tenta esconder isto na sua lida contraditória entre
os pacíficos e os vândalos, de seus conceitos rasos. Preconceitos, não
conceitos.
Quem se mobilizou pela primeira vez ficou na prisão
do atraso na consciência. Uma expressão do fenômeno é a condenação a todos os
partidos. Uma falta de lucidez para a distinção. Mas do movimento vem uma
lição. Quem está vivo, aprende.
O Brasil não vai manter a luta constantemente. Vai
haver um abrandamento. Mas não voltará à situação de estabilidade anterior. O
povo trabalhador quer outros caminhos. Outras auroras. Novos dias para viver.
Belo
argumento. Cor é só a resultante de como a luz do sol reflete num
objeto. No caso da cor de pele, quanto mais melanina, mais escura a
pele é. E não, a pele preta não tem excesso de melanina e sim a
pele branca que tem melanina de menos. Brincadeira. Não há uma
quantidade certa de melanina na pele. Aliás, quanto mais variações,
melhor.
A
diferença entre um nativo da África e da Escandinávia não nos
permite separá-los em raças. Isso porque a maior diferença entre
ambos se dará especificamente num órgão: a pele. Uma será branca.
Outra, preta. Portanto, não existe raça negra, nem raça branca,
nem raça amarela. Existe a raça humana, com suas variações
tópicas.
Essas
duas afirmações seriam formas racionais de refutar o Dia da
consciência negra. Seriam belos argumentos. Mostrariam que eu tenho
algum conhecimento em Biologia, Fisiologia, Anatomia... sei lá. E
mostrariam também uma coisa: ou eu sou um ET que acabou de chegar na
Terra ou eu sou só um cínico mesmo.
Digo
isso porque esse argumento é cínico. Ele não leva em consideração
um milhão de outros fatores. Fatores esses que constituíram nosso
País. Tais fatores impuseram aos homens de pele escura uma história
ímpar de sofrimento em nossa “nação”, talvez apenas comparável
a situação dos índios. Foram 300 anos de escravidão e depois
outros 120 de marginalização. Você não pode fugir disso, isso
está em nossos ossos. Faz parte da formação do nosso país.
A
consciência não tem cor. E as pessoas de pele preta durante muito
tempo também não tiveram. Se você é escravo, você não é dono
de si, é apenas um objeto. Objetos não têm consciência.
Consciência é o que difere o ser humano dos outros animais.
Consciência é reconhecer-se. E para reconhecer-se é necessário
saber como foi a sua caminhada para chegar até o hoje, o agora.
Quantas vezes você já viu alguém comentando sobre sua ascendência
alemã, espanhola, italiana, japonesa? E quantas vezes você viu
alguém dizendo: meus ancestrais vieram do Congo?
Quando
você se refere a seus ancestrais da Itália, você não está sendo
racista, mas isso também faz parte numa tomada de consciência da
pessoa que você é. Ora, se você tem esse direito, os
afrodescendentes também tem. Mas eles não podem dizer de onde
vieram. Sua linha temporal foi cortada por grilhões, chibatas e
navios negreiros. Então, o Dia da Consciência Negra tenta ser uma
espécie de marco zero. Um dia de auto reconhecimento e de luta
também (só os conscientes são capazes de lutar por melhorias).
Esse dia não quer dizer separação, mas sim a necessidade de
inserção. É um “estamos aqui”, embora alguns ainda tentem
fingir que não.
Nós,
do Blog Opositores, há algumas semanas estamos recolhendo
assinaturas para um Abaixo-assinado solicitando a alteração do ART.
204 do Regimento Interno da Câmara de Castilho para que as sessões
ordinárias voltem a ser realizadas às segundas-feiras no período
noturno, com início as 19:00 horas, para possibilitar que a maioria
das pessoas que formam a população economicamente ativa possam ir
as sessões.
Certo
dia, estava eu explicando o intuito do Abaixo-assinado para algumas
pessoas conhecidas, quando uma delas me perguntou o que ganharia
assinando aquele papel. Na hora me veio à mente um livro que li há
algum tempo, denominado "O que o dinheiro não compra", de
Michael J. Sandel, em que o autor disserta sobre à concessão de valoração monetária em detrimento da ética, da moral e do bem-estar
mutuo, entre outras coisas, sobre assuntos onde o dinheiro não
deveria ser colocado como mediador.
Pensando
sobre isto, percebi que este é o mal do Brasil. Encaramos a política
como algo a ser valorado, ou seja, estipulado um preço. Esta
mentalidade explica a venda do voto antes da eleição, pois o voto
é encarado como uma mercadoria, em que o demandante é o político e o
ofertante é o eleitor. Este
tipo de pensamento faz com que o apoio político seja um “serviço” que pode ser oferecido pelos representantes da base de apoio e pago
com a distribuição de cargos para os aliados.
Por
enxergarmos desta forma é que os ''mensalões", sejam eles
petistas, tucanos ou de qualquer outro partido, são criados, porque
o vereador ou deputado pensa que tem o direito apreciar, ou seja,
colocar preço pelo seu voto favorável ao interesse do Executivo. Esta
visão é o combustível que acende e mantêm acesa a corrupção, o
câncer que debilita e corrói a república ou coisa pública.
A
política deve ser encarada como um direito a ser exercido e não uma
mercadoria a ser negociada.
Referindo-se à pergunta que citei acima, é certo que mudar a sessão para
noite não nos trará beneficio financeiro algum, nem receberemos
favores ou não teremos os interesses próprios realizados em
detrimento dos do bem público, porém teremos o direito de acompanhar e
fiscalizar o trabalho dos vereadores que são nossos representantes
no poder público, a possibilidade de pressionar para que não seja
aprovado qualquer projeto em pauta que não represente nossos
interesses e para que seja aprovado aqueles que sejam benéficos à
sociedade.
Com o
projeto de Lei, nossas vozes poderão ser ouvidas. Poderemos evitar
que casos como a libertinagem explicita da concessão da água
aconteça novamente. Teremos a chance de nos tornarmos mais
participativos, ajudando a escrever a história de nossa cidade. Hoje
temos que engolir goela abaixo o que nos oferecem, mas com a mudança
poderemos ter a possibilidade de escolha de ir ou não á sessão.
Em
minha visão limitada, esse é um poder que não pode ser comprado,
negociado, pois emana do povo e deve ser utilizado pelo povo.
Vendê-lo é prostituir-se.
Se
você leitor compartilha comigo essa visão, peço a sua ajuda para
juntos mudarmos essa realidade. Ajude-nos a colocar em votação na Câmara Municipal o projeto de Lei para
mudança do horário para as 19:00 horas. Isso é bom para a cidade e
se é bom para o Município será vantajoso para todos os que nele
residem. Ajude-nos com a sua assinatura! Valorize (aumentar o valor,
dar importância) o seu direito político e não o valore (colocar
preço)...
Um homem que após a compra de um carro desfila
sozinho pelas ruas de uma cidade dirigindo sua nova aquisição. Nas ruas,
somente mulheres magras, altas e lindas. E claro todas o querem. A propaganda nos
leva a crer que o motivo é o carro. Essas são algumas das propagandas que
assolam o extenuante intervalo das programações de TV.
Dias atrás estava assistindo à um programa qualquer
na TV aberta e passou uma propaganda parecida com a descrita que me fez recordar
do apresentador Marcos Mion. Não sei se se lembram do programa Descarga MTV que
ele apresentava. Lá, ele constantemente dizia que o mundo girava em torno do
sexo. Isso me chamou a atenção e me fez pensar que realmente parece ser o anseio
de todos, pelo menos o que aparentam nas propagandas.
Mas será que esse é o objetivo ou nos fazem com que
queiramos isso?
Há muitas propagandas com mensagem subliminar
passando de forma imperceptível a ideia que faz vender: sexo. Quem não se
lembra daquela propaganda do desodorante AXE, onde o cara passava o produto e
caíam mulheres do céu? A chave do negócio é transmitir a ideia de que com
esses produtos oferecidos você será mais atraente e desejável pelos outros(as).
Mas Freud já dizia que o que move o homem é o sexo.
E é bem por aí que a coisa segue.
Justamente se
aproveitando das ideias do criador da psicanálise, que seu sobrinho, Edward Bernays,
aplicou suas teorias para alavancar vendas por meio de propagandas que
associavam os produtos a emoções e desejos muitas vezes inconscientes. O teor
de seu trabalho se baseava nos princípios de que o homem é irracional e suas
ações são manipuladas.
Assim, as propagandas nos fazem acreditar que
precisamos comprar algo por desejo e não
por necessidade, ou seja, o desejo sobrepõe o lado racional. Veja, por exemplo, como várias pessoas trocam
de carro anualmente ou trocam de celular a cada lançamento de modelos mais
avançados.
Bem, só posso terminar confessando que ao apelar à
nossas fraquezas humanas as grandes empresas sabem muito bem como nos manipular
por meio de suas campanhas publicitárias.
Recentemente foi publicado
em diversos sites de Castilho-SP e região matérias que dão conta da questão do
abastecimento de água na cidade de Castilho.
Ao que parece, o quase
levante promovido pela população do Bairro Nova Iorque colocou o assunto em
pauta novamente. Não é pra menos, pois, a maior reclamação das pessoas daquele
bairro era justamente as constantes faltas de água na torneira de suas casas.
Algo que não ocorre somente lá, mas em várias outras partes da cidade.
Diante do ocorrido, era
preciso uma resposta, afinal, a privatização da água é uma questão das mais
discutidas no mundo político castilhense e foi amplamente explorada na última
eleição. Todos esperam a prometida solução para o caso. Atualmente, talvez seja
o maior clamor do povo, junto da qualidade no atendimento médico.
Entre informações e
desinformações foi publicado que o prefeito pretende romper o contrato com a
concessionária “dentro da legalidade”**, sugerindo que irá tentar, através da
lei, caçar o vergonhoso contrato assinado pelo ex-prefeito.
Dentro do contexto, parece
ser a saída mais coerente para se tentar. Afinal, o abusivo e escandaloso
documento assinado prevê diversas indenizações caso a Prefeitura rompa o
“acordo”.
Essa é a situação. Quem vê
tem a impressão de um caminho estreito, de poucas, ou nenhuma saída. Tudo
depende de promotores e juízes. Os mesmos que até agora pouco ou nada fizeram, mesmo diante de tantas evidencias de conluio e abuso de poder no processo de privatização
do serviço de água e esgoto em Castilho e também de Andradina.
O que dá mais esperança é
o fato da empresa/concessionária Águas de Castilho fazer muitas porcarias, sendo assim, é bem possível
que justiça seja feita.
Para isso, a Arsae, agência
reguladora do serviço de água e esgoto, foi melhor estruturada e através dela a Prefeitura espera se armar legalmente para por fim a esta privatização. Foram indicados novos funcionários para esta agência, sendo
que dois deles tem histórico de luta pela causa. Resta saber se os demais que
trabalham no local também estão comprometidos.
Mas, além desta
alternativa poderiam tentar outras, tudo dentro da legalidade. Por exemplo, mobilizar a bancada governista
na Câmara e criar uma CEI “CPI” para investigar o descalabro que foi todo o processo que envolveu essa
privatização. Afinal, todos na cidade suspeitam que os envolvidos no caso foram
comprados. De repente, se o sigilo bancário e telefônico fosse quebrado
poderiam tirar a prova se houve mesmo suborno. E ser for provado que houve
suborno? Já mataria ali mesmo a
questão. Ou qual juiz negaria o fim deste contrato diante de tais evidências?
É uma alternativa de um
leigo no assunto jurídico, talvez existam mais. Quem sabe?
Portanto, a tal legalidade
é um caminho que se apresentou, já o outro foi indicado pelo povo do bairro Nova
Iorque que demonstrou que a paciência está se esgotando. As janelas do escritório
da Águas de Castilho também mostram isso.
Escrever este texto é parte ─
urgente e incontornável, da luta contra um extermínio: um extermínio
continuado. Começou com a chegada dos europeus; continua pela ação dos
fazendeiros. Dizer tudo com clareza é uma forma de pensar e de lutar. Tomar
partido pela vida; contra a morte e a bandidagem dos donos de terra,
fazendeiros.
Os assassinatos de índios
engrossaram uma lista já grande durante os dez anos dos governos do PT. Governo
do PT, nacionalmente. No Mato Grosso do Sul, um governo
dos antigos coronéis da terra em renovação como novos coronéis da
industrialização. Mas sempre o mandonismo velho e mortífero para os índios.
OsGuarani-Kaiowado sul do Estado de Mato Grosso do
Sul passam fome e sofrem todo tipo de necessidades em razão do cerco dos
brancos e ricos proprietários de fazendas.
Vivem acampados próximos àtekoha(lugar onde se é) Yvy Katu, nos
municípios de Japorã e Iguatemí (MS). Tudo falta na vida deles.
Homens, mulheres e crianças sofrem. O descaso dos governos municipal, estadual
e federal não é o pior. A violência armada dos latifundiários é inaceitável
quando se adota qualquer critério civilizatório.
Nós do interior do Estado de São Paulo, nós fronteiriços ao Mato Grosso do Sul,
temos dilacerado o nosso ser como é retalhada cruelmente a carne do indígena. A
dor ecoa.
Para ser mais claro, se isto ainda é possível: fim do extermínio, já!
"Se os militares tomassem o poder não
estaria essa baderna!"
Frases desse tipo foram cada vez mais
ouvidas ou lidas nas páginas do Facebook à medida que os protestos no Brasil
foram aumentando e com o surgimento dos ditos Black Blocs, (mascarados que usam
da força, promovendo ataques contra o que consideram símbolo do Capitalismo
como bancos e empresas multinacionais) além de confrontar as forças policiais,
que são designadas para manter a ordem.
Em Castilho, há uma semana, tivemos uma
manifestação onde os nossos Black blocs, sem máscara, porém pintados de preto com
carvão, fecharam a entrada e saída da cidade com pneus em chamas, impedindo as
pessoas de entrarem e saírem da cidade pela via principal.
Houve aqui também o uso da força,
confusão, desordem, e violência em certa medida, causando transtornos para pessoas
que, como eu, tiveram que ir pela estrada de terra passando por Paranápolis
para chegar em Andradina. Tudo isso por motivos como falta de moradias,
iluminação pública, a falta constante de água para os moradores daquela
localidade, entre outros problemas que afetam a qualidade de vida daquelas
pessoas.
Depois do ocorrido algumas pessoas
questionaram a Polícia Militar por não ter chegado a “marreta” nos
manifestantes, pois, onde já se viu um bando de “vagabundos” tirar o direito de
ir e vir das pessoas? Alguns disseram que se fosse no tempo dos militares esses
desordeiros não teriam essa coragem de fazer bagunça. Outros defenderam que se
deve protestar sim, mas com ordem e diálogo, que o uso da força não é legítimo.
O que muitos não percebem é que não há nada
simples quando se diz respeito ao ser humano. Os black blocs, sejam os das
capitais ou os nossos, não surgiram do nada, mas foram gerados e depois
abandonados por seus pais, se tornando crias rebeldes. Mas quem são os
genitores dos “baderneiros”?
O sistema capitalista é uma mãe de vários
filhos que não consegue disfarçar sua preferência por alguns, se empenhando no
cuidado de poucos e se ausentando do cuidado de muitos. Ela vê que não pode
oferecer o seu melhor para todos e por isso sem culpa age com negligência,
deixando as migalhas que caem da mesa dos seus preferidos para alimentar os
“cachorrinhos”.
Créditos: Portal Castilho
Já o Estado é um pai obeso, preguiçoso,
que não trabalha o suficiente para garantir o sustento de todos os seus filhos.
Ele não consegue oferecer segurança, educação, saúde para toda sua prole e, por
isso, fecha os olhos ao ver a mãe tratando suas crias de maneira tão desigual.
Alguns dos que não se sentam a mesa do
baquete familiar acreditam que podem um dia fazer parte, afinal alguns poucos
irmãos mais velhos conseguiram por esforço adquirir uma vaguinha. Outros, mesmo
sabendo que não tem condições de se sentar a mesa, não se importam, pois pensam
que o importante é manter a “ordem”. Porém, essa distorção gera em alguns o
ódio por verem que alguns irmãos tem a dispensa toda da família a seu dispor,
enquanto a maioria deve se contentar com o que sobra da ração dos gatos e é
esse ódio que faz surgir os black blocs, ou os caras pintadas daqui, que mais
do que melhorias, querem acabar com a ordem do mundo em que vivemos, causar
transtornos para que sejam percebidos, desafiando a ordem que não os beneficia.
E agora me pergunto: usar da força
militar, seja a PM ou as forças armadas, vai resolver o problema? Claro que
não, mas para quem está sentado a mesa isso não interessa, desde que seus
irmãos “punks'' parem de atrapalhar seu almoço. Isto é perfeitamente
compreensível, agora ver pessoas que estão a margem, defendendo este discurso
me causa certo estranhamento.
Exigir ordem e diálogo de quem mal sabe se
expressar por não ter tido uma educação de qualidade, que cresceu em uma
família onde pai e mãe não foram tão presentes, pois ambos tinham que se matar
de trabalhar para dar o mínimo para o filho. Alguém sem acesso à cultura, a
lazer, alguém que quer ter as mesmas coisas que vê as pessoas das novelas
tendo, bombardeados pelo marketing que cria uma necessidade
"artificial" no indivíduo apenas para inserir um desejo de obtenção
de algo por vezes inútil, mas que faz seus olhos brilharem, mas que ao
trabalhar em uma fábrica ou no comércio percebe ao receber seu primeiro salário
que esta vontade de compra não pode ser satisfeita.
Exigir diálogo de alguém invisível para o
poder público, que percebe que só é “percebido” como ser humano na época da
campanha eleitoral. Exigir ordem de ideias a alguém que nasceu no útero da
violência e aprendeu desde cedo a linguagem universal do medo. E pior, torcer
para que as forças de ordem utilizem dessa mesma violência para que a “paz”
volte é no mínimo contraditório.
Só uma reforma no sistema pode amenizar o
ódio destes filhos rebeldes. Quando o capitalismo for menos selvagem e
excludente (se é que isso é possível) e quando o Estado enxergar mais o
indivíduo, buscando criar condições para que o mesmo se desenvolva, e quando
digo isso não falo apenas economicamente, mas proporcionando conhecimento,
cultura, lazer e experiências de vida, o ensinando a refletir, pensar, criticar
para que dessa forma possa saber dialogar. Antes disso, podemos até não
concordar com os meios utilizados, mas temos que compreendê-los, deixando de
lado este discurso raso que frequentemente adotamos, de que todo tem as mesmas
oportunidades, de o que o diálogo resolve todos os problemas do homem.
Se os franceses pensassem assim, a
Revolução Francesa nunca teria ocorrido e aquele país ainda hoje seria
governado por reis opressores e que pouco se importavam se haviam miseráveis
nos arredores do Palácio, entre outros exemplos claros onde era necessário
criar a desordem para gerar uma nova ordem melhor para os cidadãos.
Se não houver mudanças profundas na forma
como são desenvolvidas as relações econômicas e sociais, teremos que conviver
com os infortúnios da revolta, afinal, como diz o ditado popular: “quem pariu
os black blocs, que os balancem”