domingo, 11 de novembro de 2012

Um quê de Castilho




Nasci em Andradina. Acredito que em 1983 o hospital ainda não realizava partos por aqui. Ia me achando velho por conta disso, mas me lembro de que muitas crianças de agora também não nasceram em Castilho. Não há nada de novo sob do sol! Apesar disso, sou castilhense. Nunca estive em outro lugar. Claro, a gente se forma, consegue a habilitação pra trabalhar e logo vem os sonhos, os projetos e a inescapável necessidade de bater asas pra sair debaixo das asas. Mas esse não é um texto sobre mim. Bom, pra ser bem sincero, até é sim. É um pouco o relato das minhas experiências.
Meu avô, o Zé Estevam, é um dos pioneiros de Castilho. Morava quase ao lado do Ginásio (como eram doces as jabuticabas de lá!) e tinha uma chácara ali onde já chegam casas e o Trovão Azul, perto da Aninha Coelho. Aliás, falando em parentesco, o amigo leitor com certeza já comprou leite e carne no tio Donda, consertou a bicicleta no tio Ademar, teve ótimas aulas de geografia com a tia Adélia, foi atendido na finada Nossa Caixa pelo tio João Mamão, comprou frango assado ou comeu espetinho do tio Carlão e, praqueles mais antigos, comprou arroz do tio Adézio. E como me esquecer do seu Carlinhos, eletricista da cidade toda, e da dona Maria Adália, professora de tanta gente, inclusive do menino Leonardo, nossa estrela.
Nunca estive em muitas cidades grandes. Fui apenas uma vez pra São Paulo prestar um concurso e, acredite, desci do ônibus, dei três passos e fui abordado e ameaçado de morte por um nóia que queria grana pro crack. Seria um sinal? Não sei. Em Castilho também tem viciado em crack, mas dificilmente o cara te ameaça de morte, até porque você com certeza o conhece ou conhece a família dele. Isso é o que eu gosto daqui. Conhecer (quase) todos pelo nome. Quantas vezes não ouvi as mulheres do meu departamento descreverem uma árvore genealógica quando chega alguém pra ser velado no velório municipal. É impressionante!
E mais! Quando meu cachorro fica doente (acabei de tirar um pardal morto da boca dele) ligo logo pro Fernando, ou chamo seu irmão, o Guilherme, quando um dente dói. Se preciso de um calçado vou ao Dorinho, se quero o melhor x-calabresa da região vou ao Reginaldo e se meu carango quebra levo para o Nei ou o Sergio Franco darem uma olhada.  E vou ao Dirceu comprar coisas pra minha casa, ao Jamil resolver questões legais, à Irene renovar o guarda-roupa da patroa, ao Clóvis arrumar minha TV, ao Paulo registrar as datas especiais, ao Tobogã ver meu tricolor, ao Gilmar comprar remédios, ao Expedito almoçar e ao Miguel pegar um filme pra dar aquela relaxada.
Aqui os profissionais tem nome! Não se trata da professora, do açougueiro, do barbeiro, mas, antes, da Edileuza, do Sidnei, do Paulo. Como explicar a um paulistano que, ao invés de irmos pra um barzinho curtir o happy hour, estamos indo ao Andrei?  Ou que vai ao CIEC falar com o Hilário? Cadê o Diretor do Departamento Municipal de Educação? O título é grande, pomposo e impessoal.
E se não temos teatros, shoppings, semáforos, feiras de carros, à noite, no calor que só tem aqui, colocamos as cadeiras de área em frente de casa, preparamos o tereré e passamos horas conversando em família ou com os vizinhos e amigos, num eterno apreciar da vida real. Uma simplicidade ainda palpável por essas bandas. E, convenhamos, o simples é muito mais prazeroso. A simples e universal “Parabéns pra você” não me deixa mentir!
Eu poderia gastar mais um bom número de linhas com minhas, digamos, memórias. O que falar do colégio, hoje Youssef Neif Kassab? Era (e de certa forma ainda é) praticamente uma extensão do meu quintal. E a praça? Ah, as voltas na praça... Mas já se vão algumas boas horas batalhando pra sair um texto razoável sobre Castilho. Queria fechar deixando o espaço aberto para os comentários sobre suas experiências, suas reminiscências acerca da cidade, afinal, nós moldamos o espaço e ele, igualmente, nos molda.

Márcio Antoniasi


14 comentários:

  1. Pude, com este texto, "ver" cada pessoa (ou estabelecimento) na mente. Esta é a velha Castilho...AMEI! Parabéns

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  2. é, vc disse que se quiser comprar um sapato, vc vai ao Dorim, essa pessoa foi tão marcante, que mesmo após a sua morte, vc eu e com certeza muitos outros continuam indo no Dorim, dificilmente vamos à loja Destak calcaçados. Outra coisa marcante é que podemos até procurar outros profissionais para nossas necessidades, mas com certeza é no fulano ou Sicrano que a gente vai, isso é uma das grande vantagens em moarar em uma cidade pacata do interior. e quanto à morte, morreu alguém, o pessoal aqui do CIEC ja tem a ficha, sabem mais do que o Facão, José Couveiro, ou o pessoal da funerária, tanto é que ja tem gente com apelido de difunteira.
    Hilário

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  3. Sou relativamente novo na cidade, mas me familiarizei com todos os nomes citados, maravilha!

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  4. Só quem é filho desta terra para conhecer e reconhecer cada detalhe descrito pelo Guerreiro neste texto...só que conhece cada curva de olhos fechados para conseguir visualizar cada pedacinho de chão de um lugar ao outro e só quem, longe, sente tanta falta desta cidade incrível como eu sinto para saber que 'as vazias almas que nos cercam, fazem parte indispensável do nosso crescimento' e que Castilho, com sua grandeza e sua alma tão cheia de CASTILHO não poderia fazer menos a não ser uma parte de nossos aprendizados...excelente texto meu amigo!

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  5. parabens pelo texto e pela forma poética com que o escreveu e também pela sinceridade e pelo amor á sua cidade. - Jayme

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  6. Cumpadi, esse texto me deu uma vontade danada de ser castilhense! Como não o sou, não tem como falar das experiências castilhenhas ... Mas, camarada, que texto delicioso! Uma miscelânea poético-cronista, que me fez achar que estava lendo um texto do Cony, ou do Bandeira. Essa linha que esperava de você. Obra-prima! Só faltou menção à "barraca do Elias" e do tal molho verde de que tanto ouvi falar nos nossos tempos de faculdade ...

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  7. Nossa, lembrei das minhas idas ao parquinho. Afinal quem não se lembra do seu Antônio do Parquinho!? Aposto que todos os leitores já foram ou estudaram no parquinho. Tempo bom que não volta mais.

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  8. ....e qdo eu quero um livro eu vou no Marcio Antoniasi.. hehee

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  9. Puxa cara, passei quatro anos fazendo Letras com vc e minha escrita não chega nem perto da sua, que raiva. "Regassou hein". E olha, isso é porque vc sentava no fundão e com 20 anos parecia um adolescente, segundo o Salles, lembra. rsrsrsrsrs.
    Falando sério, sinto orgulho de ver meus amigos de sala, do fundão como eu, fazendo sucesso com seus textos... (fazendo menção ao black mouth, com seu livro, Inverno de 64). Parabéns Guerrerão.
    Quando eu era pequeno gostava muito de fazer um tour com meu pai pela cidade. Passavamos no Vicente barbeiro pra cortar o cabelo e depois no Kinka, ele tomava uma e eu um picolé, jogavamos palitinho com o Tenosão e pra terminar uma sinuca no Laurindo. Bons tempos.
    Abraço magrelo.
    Giovany.

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  10. Lendo senti saudades do Colégio principalmente do tempo que trabalhei com a Maria Adália, nesta época ela vivia na maior correria com os filhos pequenos.

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  11. Amigo, acho que sua faculdade foi errada, você deveria ser escritor e escrever livros, e matéria para bons jornais do país, tem um dom incrível e contagiante em estimular a leitura alheia, parabéns pelo texto.
    Lendo essa matéria me lembrei dos dias em que fui conhecer São Paulo e cheguei a conclusão de que aquela cidade me faz amar ainda mais a cidade que moro, pois tenho a alegria de viver próximo de amigos, conhecidos e familiares de trabalhar a 30 minutos da minha casa sem precisar passar por transito, de ver as pessoas com quem cresci se tornarem pessoas de alto nível intelectual e conquistar tudo aquilo que juntos planejávamos na escola.
    Bom qualquer dias desses, quem sabe, podemos nos reunir e ficar lembrando as velhas histórias e discutirmos o futuro...
    abraço Márcio e tenho certeza que esse cantinho de leitura logo terá um proporção muito grande, pois é bem contagioso.

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  12. nossa me bateu até uma nostalgia agora,eu que estou fora de Castilho a 5 anos sinto muita falta dessas coisinhas de interior,embora ainda moro no interior não conheço os logistas pelo nome,na minha época de criança quando morava na cohab Padre Miguel enfeitavamos a rua para fazer festa junina,inclusive nossos amigos Juliano e Samuel tb participavam...rsrsrs...tempo bom que não volta mais e que infelizmente meus filhos não poderão viver...Parabéns pelo texto!!!

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  13. Olá Marcio, primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo texto! Realmente Castilho é uma cidade diferenciada e, enfatizando o que você escreveu, mesmo que o ciclo da vida siga e os projetos tão sonhados tornem-se parte da mais pura realidade, a essência de ser castilhense permanece em nossas vidas. Mais uma vez, parabéns, você soube descrever perfeitamente a nossa cidade!!!

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  14. oi sou neta de umas das pessoas mais velhas da cidade D.Maria uma senhorinha bem escurinha ela ja faleceu a alguns anos teve 3 filhos gostaria de saber mais sobre ela se alguem a conheceu espero resposta por aqui mesmo se poder é claro obrigado desde ja...

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