quarta-feira, 14 de novembro de 2012

OS INTELECTUAIS E A CIDADE


Antonio Rodrigues Belon (UFMS/UNB, arbelon@uol.com.br) 



        Na tipologia de Antonio Gramsci os intelectuais assumem duas formas: a dos orgânicos e a dos eclesiásticos.
Os primeiros conectam-se diretamente às necessidades empresariais ou do Estado como administradores, engenheiros, economistas, propagandistas. Numa palavra, assessoram a política dominante. A categoria é bastante ampla e abrange aqueles ao redor e dentro do universo político, de um modo geral. A eles, ironicamente, aplica-se o título acima.
Os eclesiásticos radicam numa origem de longa tradição prévia ao domínio da burguesia. Articulam-se, principalmente, ao ensino e reivindicam uma autonomia frente às esferas temporais de poder.
A esta duplicidade tipológica em Antonio Gramsci, acrescenta-se, facilmente, um tipo compósito, acentuando características já encontradas nos tipos anteriores. 
Se eles moram ou nasceram em Castilho, pouco importa. Não se trata de uma questão provinciana, assim simplória. Nem do velho delírio direitista de unir a todos. Trata-se de lutas de classes. Compreensível numa perspectiva internacionalista, não provinciana. Política de estratégia, de emancipação, não de eleições, por exemplo. 
Retomemos o debate na escala necessariamente ampla: pergunta-se pelas diferenças constituintes de um intelectual, seja ele em vertente técnica (cientista político? Salve-me deles!), ou vertente humanista, em consonância com a dupla tipologia inicial. Considera-se a inseparabilidade dos aspectos físicos e os intelectuais nas atividades humanas; sempre numa perspectiva revolucionária, em Antonio Gramsci. Vale a crítica do isolamento nos pólos da estrutura e do sujeito, tecnicamente e humanisticamente adotados, apontando para a superação desta dicotomia. Convém falar da antecipação, em Antonio Gramsci, de uma tendência posterior e atual de acentuar o específico da política nas suas relações com a economia. A edificação do homem livre no interior de uma consciência das dimensões materiais da opressão, ela aguilhoa os dispostos a uma militância e a um compromisso. Uma formação técnica exige uma dimensão política. 
Na constituição de uma visão de mundo muitas camadas se somam. Reconhecer esta soma é uma necessidade. 
Um intervalo entre os homens cultos e os simples, um espaço para a injustiça, requer uma superação. O hiato vem de muito longe; consolidou-se na passagem dos séculos. Tende a não haver comunicação entre as teorias, as filosofias relevantes, e o homem simples. No cristianismo, como uma exceção, mas religiosa: nele, falam uma só linguagem sacerdotes, missionários e os demais, os leigos. 
Verter, sem fazer pouco delas, as linguagens em clareza, esta é a tarefa. Com a clareza se chega e se apreende ao concreto. 
Ao falar em concreto a organização da cultura e o trabalho dos intelectuais ganham o caráter de exigência. Trabalho, sempre o trabalho. 
Impõe-se criticar o senso comum. Ao intelectual, de forma incontornável, a auto-análise, numa perspectiva histórica, torna-se exigência do seu empenho na superação para além do orgânico ou do eclesiástico. 
A escala individual não permite esta concepção. Não há super-homens. O concreto é o poder, no interior de relações entre sujeitos, sociais. 
A manutenção do tema do intelectual permite refazer a sucessão dos passos do pensamento deste artigo: a distinção binária entre o intelectual orgânico, servil às instâncias e aos sistemas de poder, e, o intelectual tradicional, um convicto de sua autonomia e de sua isenção. 
O caráter radical da presença do intelectual, nos aspectos teóricos e práticos, por fim esbarra nos limites contratuais das instituições a que ele se vincula. Mas para configurar-se plenamente articula-se aos movimentos do real, nos aspectos sociais e históricos. Exige a perspectiva de classe, por sua vez, articulada a um projeto de construção de uma sociabilidade emancipada. Onde e quando os homens sacudam os grilhões da exploração, da opressão, da subalternidade. 


Um comentário:

  1. Superar os limites contratuais das instituições a que se vincula, seja ela na esfera privada ou nas mais variadas expressões estatais ademica-municipal-estadual-federal; esta superação talvez seja a tarefa mais dificil do intelectual que quer fazer a crítica

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