Texto publicado
originalmente no meu blog, dia 28/08/12. Como semana passada tivemos o Dia da
Consciência Negra resolvi publicá-lo aqui, onde o alcance do debate é mais
amplo.
Terreno arenoso, traiçoeiro, mas vou me arriscar
calculando e dosando bem a sintaxe e a semântica pra não parecer o que não
quero.
Na semana passada, a presidente Dilma sancionou a
lei que obriga as universidades e institutos federais a reservarem 50% (não,
não digitei errado) das suas cadeiras a estudantes com baixa renda per capita
egressos de escolas públicas e a estudantes de, digamos, etnias minoritárias.
Tal medida visa a corrigir erros históricos e tem a pretensão de diminuir a
desigualdade intelectual e social do nosso país.
Não se pode dizer que não é uma iniciativa
louvável. Reduzir (não confundir com erradicar) as desigualdades sociais é um
dos objetivos fundamentais da nossa República. Facilitar o acesso dos alunos
vindos das escolas púbicas ao ensino superior público é deveras relevante e
pode ter, a longo prazo, um efeito social positivo, trazendo pra elite pensante
gente que sabe o que é estar na parte baixa da pirâmide, aqueles que sabem o
que é não ter condições de estudar e comer concomitantemente.
Nesse diapasão, o maior número de estudantes
mais abastados e saídos de escolas particulares, onde o ensino é melhor, nas
faculdades particulares poderá, em tese, aumentar-lhes o nível, da mesma forma
que a natural evasão de alunos em condições de arcar com os custos do ensino
privado para o ensino público também pode, em tese (obviamente), aumentar a
excelência nas escolas públicas.
Em que pesem todos esses supostos benefícios, haja
vista a impossibilidade de adiantarmos os resultados práticos, observa-se uma
tentativa de sanar uma defeito estrutural, uma deficiência na base da formação
escolar, já na fase, digamos, profissionalizante da jornada estudantil.
Atesta-se, dessa forma, o que há muito ja se sabe: a educação pública
fundamental e média no Brasil é uma piada! Caberá à universidade pública (não
bastassem os inúmeros problemas que já enfrenta) a inglória missão de corrigir
esses erros.
A meritocracia, umas das poucas armas das universidades
federais pra selecionar os melhores alunos e alavancar o nível do ensino, agora
perdeu força. Aliás, perde força a meritocracia na sociedade como um todo, pois
o lugar cativo diminui o esforço pela excelência, pela melhora. Se já presenciamos
cenas de nepotismo, de camaradagem, de negociatas na política nacional, essa
medida é um plus nesse nosso
famigerado costume.
Outra que poderá sofrer um abalo é a pesquisa de
alto nível. Sabe-se que nesse quesito a cor, raça, origem, orientação sexual,
idade, condição financeira não fazem a menor diferença. O que vai valer é o
conhecimento, a capacidade dos pesquisadores. Isso é tão verdade que as cotas
não foram estendidas para institutos como o ITA e IME. É, o governo não quer
saber de cotas nos assuntos do interesse dele! O Brasil já é fraco quando assunto
é pesquisa científica, agora pode ficar pior ainda.
Há ainda a questão racial. Não obstante as cotas
fornecidas aos hipossuficientes, essas ainda serão subdivididas com base na cor
da pele e na origem. Ora, um negro rico tem mais chance que um branco pobre. O
cerne é a condição social, e não outros fatores. Um pobre, seja negro, seja
branco, que passar por uma péssima escola terá a mesma chance de ser eliminado
numa seleção universitária. Ademais, como classificar negros e brancos? Beira o
absurdo imaginar uma fila de estudantes e servidores com uma prancheta dizendo
quem é ou não é negro, quem vai ou não ter a chance de cursar o ensino superior
público.
Prós e contras, como quase tudo na vida... Resta
lutar para que as coisas boas sejam bem alicerçadas e cuidadas, dando bons
frutos. Cabe a cada uma das partes envolvidas, independente da posição
filosófica com relação às cotas, realizar bem o trabalho de construirmos um
país melhor, mais justo, com a igualdade fundada na dignidade da pessoa humana,
e não em fatores exteriores que em nada acrescentam, mas apenas dividem e
espalham.
Uma
opinião interessante:
Márcio
Antoniasi
Realmente não importa se é preto ( negro), branco, japonês,a desigualdade ronda a todos. Num país de educação continuada, vale mais o dinheiro no bolso. Então os menos abastados serão escolhidos como? Sim, porque, negro, é negro, ele prova e pronto e os pobres, miseráveis, que nunca sequer puderam sonhar com um estudo superior,justamente por terem um um estudo de péssima qualidade. Quem vai dizer quem merece ou nao uma vaga? Sim, pois alunos públicos, estão basicamente no mesmo patamar quando se diz respeito a educação,a cultura, ao saber em geral.
ResponderExcluirAcho que cabe ao Governo dar a educação adequada aos cidadãos apenas querendo fazer-se uma nação digna e não ficar um dia após ao outro fazendo pessoas virarem vítimas e o pior, as convencerem que tem mais direitos que os demais cidadãos.Basil, essa ainda é a sua cara.
Eu sou contra o sistema de cotas nas universidades porque, a questão do mérito é fundamental a vocação do aluno tem que ser respeitada . O sistema de cotas não prevê se a pessoa em questão tem capacidade , vocação ou mérito para a vaga , pois a lei garante a vaga , porém não leva em consideração a vocação para que o mesmo possa vir a ser um profissional capacitado , não quero dizer que o negro que ingressa através do sistema de cotas em uma Universidade não seja capaz .
ResponderExcluirVivemos num pais do jeitinho , onde os “negros” são vistos como coitadinhos , quando na verdade não deveria ser assim pois quem deseja ser alguém , tem que correr atrás buscar , estudar , sem essa ideia de que os negros estudaram em escolas publicas e por isso são preteridos , quem não se aplica nos estudos não passa em vestibular isso se aplica na vida do branco e do negro .
Obama não precisou de cotas
Comentarista diz que cotas para negros em diversos setores da sociedade parte de um pressuposto inaceitável: a incapacidade. é uma tentativa de igualar os desiguais, desconsiderando que não existe desigualdade diante da liberdade. Vivemos em uma país democrático, e todos os que querem trabalhar e estudar têm mercado — desde que se qualifiquem.
Life
"Ora, um negro rico tem mais chance que um branco pobre. O cerne é a condição social, e não outros fatores." Acredito que essa frase resume o que penso. Sempre acreditei que oferecer cotas é afirmar que negros não são capazes de passar por capacidade intelectual e, tal pensamento é preconceituoso.
ResponderExcluirO problema está no ensino público e na condição social, fatores que atingem a população de modo geral, independente da cor...problemas que o governo não faz questão de resolver.