[...]se é
melhor ser amado do que temido. A resposta é que seria desejável ser ao mesmo
tempo amado e temido, mas que, como tal combinação é difícil, é muito mais
seguro ser temido, se for preciso optar. De fato, pode-se dizer dos homens, de
modo geral, que são ingratos, volúveis, dissimulados; procuram esquivar-se dos
perigos e são gananciosos; se o príncipe os beneficia, estão inteiramente ao
seu lado. Como já disse, oferecem o próprio sangue, o patrimônio, sua vida e os
filhos, desde que a necessidade seja remota; quando ela é iminente, fogem.
Estará perdido o príncipe que tiver confiado inteiramente nas suas palavras,
sem tomar outras cautelas, porque a amizade conquistada pelo dinheiro, e não
pela grandeza e nobreza de espírito, não é segura – não se pode contar com ela.
Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz
temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam
de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo
medo do castigo, que nunca falha. Não obstante, o príncipe deve fazer-se temer
de modo que, mesmo que não ganhe o amor dos súditos, pelo menos evite seu ódio.
(Nicolau
Maquiavel, O Príncipe)
Ao líder o mais importante é ser
amado ou temido? Qual dessas opções o manterá no comando de modo menos penoso?
Importante lembrar que O Príncipe
foi originalmente escrito para ser dado como presente ao magnífico Lorenzo de
Medici, estadista italiano da renascença. É uma acurada análise de vários fatos
ocorridos e das atitudes tomadas que deram bons resultados, visando
principalmente sustentar o poder do líder e sua manutenção no comando dos
súditos. O termo “maquiavélico” e o aforismo “os fins justificam os meios” são
frutos dessa obra. Claro, uma leitura mais atenta vai apontar mais lucidamente
o espírito das palavras escritas pelo autor.
Mas, voltando à dicotomia amado X
temido, temos nas palavras de Maquiavel três caminhos apontados. Primeiramente
ele afirma que o ideal, o correto é que o líder seja amado e temido,
concomitantemente. Ao contrário do que muitos dizem, essa é a primeira opção, a
que terá mais resultados positivos e com menor risco.
Como ter essas duas qualidades é
algo platônico, quase sobrenatural ao homem, surge a segunda opção, que é ser
temido, porquanto essa demandará menos despesas e preocupação, tendo uma
eficácia bem maior e mais garantida, afinal, o temor ao castigo nunca se afasta
dos homens, seja qual for a situação.
Por derradeiro surge o ser amado.
Entretanto essa é a última opção não por Maquiavel ser maquiavélico (no sentido
que emprestamos a palavra), mas justamente pela natureza lânguida inerente ao
homem. A estima conquistada unicamente pelo dinheiro é sustentada por um fio
tênue, que se rompe ao menor sinal de prejuízo que os benefícios não compensem.
Além do mais, as verdadeiras amizades, aquelas que resistem aos mais variados
percalços, podem se contar nos dedos, e quase nunca são no plural.
Importante ainda ressaltar que o
ser temido não deve ser confundido com ser odiado. O líder precisa ser temido
sem despertar ódio em seus comandados, pois esse sentimento, assim como o amor,
é extremamente inconstante e volúvel, tendo sempre consequências indesejáveis a
quem pretende manter a unidade e o domínio.
Portanto, a própria volubilidade
do homem impõe ao líder essa sequência no trato com os comandados. Os fatos
impõem a sequência, e não o contrário! Resta sempre lembrar que, não obstante
essa classificação, as atitudes sempre devem levar em consideração a situação
fática e os meios para se atingir o objetivo pretendido. Às vezes a crueldade
terá melhores resultados do que uma ação branda e compassiva. A condolência
pode ser fatal!
Márcio Antoniasi