1979 |
Rapaz, eu ia dar mais um cano essa semana e não ia escrever texto
algum pro Blog. É o desassossego de uns assuntos pendentes. O Samuel, claro, ia
me azucrinar. Mas, por essas coisas do destino, li e ouvi gente pedindo a
demolição da estação ferroviária de Castilho, sob argumentos de ordem prática:
aquela porcaria não serve pra nada! Bom, vou ter que sair da minha inércia pra
falar sobre memória, mesmo não sendo esse um dos meus fortes.
Derrubar pra fazer uma avenida, derrubar por derrubar, derrubar e
jogar cimento pontiagudo, alto e colorido por cima, não importa, é o
pragmatismo máximo, onde tudo tem que sempre ter uma finalidade produtiva, de
viés utilitarista e imediatista.
1990 |
Como todos do blog já dissemos várias vezes, é construir coisas
pra se usar irrefletidamente, olhando pra frente, marchando compassado, como as
praças sem bancos e árvores. Já notaram como são os McDonalds? Bancos duros,
apertados, lanche na velocidade da luz. Você nem bem entrou e já está saindo
pra voltar pra lida. Interação, conversa-fiada, risadas, memória? Jamé!
A Estação castilhense é a essência da própria cidade. Perdê-la é
perder-se! Nesse último final de semana cultural vi vários senhores e senhoras
visitando o espaço, relembrando, aprisionando Cronos (ver texto anterior) e
enganando o tempo. São lembranças de tempos, atos e decisões que fazem da cidade
o que ela é hoje. E, não se engane, todos somos frutos desses três fatores. Vi,
igualmente, gente nova apreciando a seção Ontem e Hoje do Miguel Luques,
aprendendo e refletindo sobre o que se quer daqui pra frente.
Sem querer se muito apelativo, mas derrubar, pra mim, seria como
colocar meus velhos pais num asilo quando a idade e suas mazelas chegarem. É
negar quem eu sou e de onde vim. Espero, de coração, que esse seja um
pensamento de uma minoria, mas daquelas bem pequenas mesmo, afinal, a memória é
elemento essencial da identidade e da percepção de si próprio e dos outros.
Márcio Antoniasi
Nenhum comentário:
Postar um comentário