Salve, exegetas de bula de AS.
O
texto de hoje requenta um assunto já frio, mas tocante e que rememora meu dias
de mocidade. Há alguns dias o Champignon, baixista do Charlie Brown meteu uma
bala na boca. Seguiu seu líder, Chorão, que também morreu há pouco tempo, de
overdose. E assim acabou a última grande banda de rock do Brasil.
Lançada
em 97, o CBJr foi a segunda grande descoberta do produtor Rick Bonadio. A
primeira tinha se espatifado na Serra da Cantareira no ano anterior. Sim,
estamos falando dos Mamonas Assassinas. Interessante, tive curiosidade de
escutar o primeiro CD do CBJr esses dias e vi o quanto ainda havia algo do
Mamonas ali, na irreverência das letras e tal. Os músicos de ambas as bandas
eram muito bons.
Mas
é fato que eu nunca gostei de Charlie Brown Jr (vá lá, salvo Quinta-Feira). Nunca. Talvez porque um tempo
antes de eles estourarem minha irmã trouxe pra casa duas k7s (quê isso?) da
Legião Urbana. Eu entrava na adolescência e as letras do Renato Russo
eclipsaram qualquer possibilidade de curtir CBJr ou Raimundos ou qualquer coisa
surgida nos anos 90. Eles eram meus contemporâneos, mas eu tinha o gosto de uma
pessoa 10 anos mais velha. Mas os colegas de escola todos adoravam Cbjr, e eu
odiava cada um daqueles filhos da puta. Eu era looser, e CBJr era som de gente
esperta, ou metida a. Eu me lembro de levar o Tempestade pra tocar em sala de
aula. Óasideia. Logo o Tempestade. Lembro dos protestos acalorados dos caras...rs.
O Márcio Antoniosi era mais eclético, curtia Legião e também Charlie Brown. É
que ele não levava a Legião como religião. Talvez por isso ele a tenha
abandonado em nome do satanismo e do heavy metal.
Penso
que a grande diferença entre Chorão e Renato Russo foi sócio-econômica. Renato
era burguês, tinha grana e acesso à cultura. O rock era uma válvula de escape,
mas não um meio de sobrevivência. Já Chorão era só um moleque pobre que vagava
pelas pistas de skate de Santos. E isso refletiu na arte de ambos. Renato pode
ousar mais com a Legião. Chorão perseverou até chegar ao sucesso. Lá chegando,
lutou com unhas e dentes para não sair, sem ousadia, indo sempre no seguro, no
da moda. Isso tornou o CBJr repetitivo e Chorão também. Sempre as mesmas
músicas espertas, sempre a mesma postura adolescente. Enjoou.
Na
verdade, como todo rock star, Chorão era um mentiroso. Pregava ser o camisa 10
que joga até na chuva. Mas morreu sozinho, alucinado, num apê que mantinha pra
se chapar. Champingnon, depressivo e armado, suicidou-se trancado num quarto,
deixando mulher grávida e tudo. Juro que esse fim não condiz com a empáfia daqueles
moleques que apareceram na década de 90. Eles pareciam invencíveis. Doce
ilusão.
Juliano Cardoso
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