terça-feira, 17 de setembro de 2013

#Chorão, Champignon e a morte da geração que dava cavalo de pau com a boca


Salve, exegetas de bula de AS.

                O texto de hoje requenta um assunto já frio, mas tocante e que rememora meu dias de mocidade. Há alguns dias o Champignon, baixista do Charlie Brown meteu uma bala na boca. Seguiu seu líder, Chorão, que também morreu há pouco tempo, de overdose. E assim acabou a última grande banda de rock do Brasil.

                Lançada em 97, o CBJr foi a segunda grande descoberta do produtor Rick Bonadio. A primeira tinha se espatifado na Serra da Cantareira no ano anterior. Sim, estamos falando dos Mamonas Assassinas. Interessante, tive curiosidade de escutar o primeiro CD do CBJr esses dias e vi o quanto ainda havia algo do Mamonas ali, na irreverência das letras e tal. Os músicos de ambas as bandas eram muito bons.

                Mas é fato que eu nunca gostei de Charlie Brown Jr (vá lá, salvo Quinta-Feira). Nunca. Talvez porque um tempo antes de eles estourarem minha irmã trouxe pra casa duas k7s (quê isso?) da Legião Urbana. Eu entrava na adolescência e as letras do Renato Russo eclipsaram qualquer possibilidade de curtir CBJr ou Raimundos ou qualquer coisa surgida nos anos 90. Eles eram meus contemporâneos, mas eu tinha o gosto de uma pessoa 10 anos mais velha. Mas os colegas de escola todos adoravam Cbjr, e eu odiava cada um daqueles filhos da puta. Eu era looser, e CBJr era som de gente esperta, ou metida a. Eu me lembro de levar o Tempestade pra tocar em sala de aula. Óasideia. Logo o Tempestade. Lembro dos protestos acalorados dos caras...rs. O Márcio Antoniosi era mais eclético, curtia Legião e também Charlie Brown. É que ele não levava a Legião como religião. Talvez por isso ele a tenha abandonado em nome do satanismo e do heavy metal.

                Penso que a grande diferença entre Chorão e Renato Russo foi sócio-econômica. Renato era burguês, tinha grana e acesso à cultura. O rock era uma válvula de escape, mas não um meio de sobrevivência. Já Chorão era só um moleque pobre que vagava pelas pistas de skate de Santos. E isso refletiu na arte de ambos. Renato pode ousar mais com a Legião. Chorão perseverou até chegar ao sucesso. Lá chegando, lutou com unhas e dentes para não sair, sem ousadia, indo sempre no seguro, no da moda. Isso tornou o CBJr repetitivo e Chorão também. Sempre as mesmas músicas espertas, sempre a mesma postura adolescente. Enjoou.

                Na verdade, como todo rock star, Chorão era um mentiroso. Pregava ser o camisa 10 que joga até na chuva. Mas morreu sozinho, alucinado, num apê que mantinha pra se chapar. Champingnon, depressivo e armado, suicidou-se trancado num quarto, deixando mulher grávida e tudo. Juro que esse fim não condiz com a empáfia daqueles moleques que apareceram na década de 90. Eles pareciam invencíveis. Doce ilusão.

 
 
Juliano Cardoso
 

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