A
cultura brasileira é influenciada por manifestos oriundos de diversos povos que
aqui residiram. Europeus e indígenas dividem território de maneira pra lá de
desigual desde mesmo o Brasil Mercantil. Somos hoje uma nação miscigenada que
ainda assiste a persistência da idéia capitalista de cultura superior, e,
sinto-me da obrigação de pedir um espaço aqui no blog – mesmo com tropeços aqui
e acolá - pra falar sobre Eles, tantas vezes esquecidos. Nossos indígenas!
A polêmica construção de Belo Monte muito tem sido discutida aqui
na internet, e pouco vejo nós, jovens/adolescentes, opinando sobre o assunto.
Ela que, baseada numa sólida estratégia de argumentos dentro da lógica de
“vantagens” comparativas da matriz energética brasileira só prova que ainda
existem conflitos e desigualdade no que diz respeito a esta etnia.
Pero
Vaz de Caminha descrevia em suas crônicas o índio como um ser rude e desprovido
de intelecto. Conceito premeditado pelo choque cultural que ali ocorrera, mas
que infelizmente ainda faz parte da opinião de muitos brasileiros. Sabe-se hoje,
por meio da antropologia, que não há cultura superior a outra - assim como não
há impossibilidade de sociedades diferentes conviverem e miscigenarem-se!
Faz-se necessário entender que a ideia da ressignificação cultural mudou o
conceito a qual se analisa a história. Nenhuma cultura desintegra-se, apenas
sofre transformações com o passar do tempo.
Porém, percebe-se certa resistência por parte da sociedade em
aceitar que a cultura indígena também é passível de mudança. Afinal, a dinâmica
mudou. Não vivemos mais o Brasil das crônicas de Caminha! Compartilhamos hoje
consequências de uma nação emergente, tais quais poluições, doenças, sem falar
no abismo entre a arrecadação do estado e a eficácia dos serviços públicos
gestados pelo mesmo.
Um documento sobre a situação do índio no Brasil divulgado pelo
IBGE afirma que 38% dos nativos brasileiros (cerca de 310 mil pessoas!) vivem
em situação de extrema pobreza e na grande dependência de auxilio econômico do
Estado. Também é elevado o número de mortes em conflitos com fazendeiros e
posseiros, ou por outros motivos de violência como assaltos e brigas. Sem falar
que estudos sobre a saúde e condição de vida de mulheres e crianças revelaram
um cenário preocupante ligado a alimentação e obesidade.
Viram?
O “tão distante índio” está mais próximo de nossa realidade do que imaginamos!
E ainda assim possui parte de seus direitos delimitados por falsos
ambientalistas, que gestam leis desleais prol lucro. No caso de Belo Monte, além de todos os impactos ambientais
apontados por estudiosos, sabe-se que poderá acentuar casos de grandes pressões sobre territórios
indígenas já demarcados e
homologados.
A população daquela região depende muito do rio. Além disso, dado
o tamanho do impacto que a obra causará com a ocupação e deslocamento de
pessoas e a construção de estradas, esse grupo será muito afetado. Embora
defenda a tal “ressignificação cultural”, e que não podemos negar que estejam previstos investimentos na
área de saúde e apoio à produção, não se sabe exatamente o que será
feito, nem como. Sabemos que a efetivação
das obras dos setores de base por parte do Estado é comumente escassa.
Por outro lado os defensores da Hidrelétrica afirmam que o país
necessita de mais geração de energia. A pergunta é: com o vasto território que
possuímos, não temos condições de manter uma matriz energética diversificada,
que priorize fontes alternativas como solar e eólica? Há uma série de vazios
nas informações.
Acredito que precisamos de mais patriotismo e mais fervor para
lutar pelas questões sociais. Vejo, por vezes, a sociedade brasileira inerte e
de, certa forma, fragmentada por setores e ideologias - herança de nossa densa
sociedade colonial, talvez. Indignamos-nos, mas pouco fazemos para mudar o que
esta a acontecer a nossa volta. Os indígenas de Belo Monte são uma realidade,
assim como os famintos do Nordeste também são uma realidade... Nossa falta de
atitude é uma realidade.
Texto de Maryana Tomas, 17 anos.