O título deste texto é um trecho
de uma musica que foi exaustivamente tocada na greve dos servidores públicos de
Castilho e retrata uma triste, mas verdadeira realidade no Brasil. Estamos como
aidéticos, onde a falta de médicos tem nos deixado em estado febril.
Diferente do que o CRM (Conselho
Regional de Medicina) defende, não faltam apenas médicos nos confins e sertões
desse Brasil. Segundo Henrique Prata, Diretor do Hospital do Câncer de Barretos,
“esta mais fácil achar ouro que médico”, de maneira que deixam de ser atendidos
cerca de 450 pacientes/dia devido à falta de profissionais especializados.
Ainda segundo Henrique, tem-se hoje um déficit de 70 médicos oncologistas.
Os altos salários também não são
atrativos para médicos exercerem a medicina em alguns lugares. Um dos exemplos
é o da cidade de Porto Estrela em MT, onde a prefeitura aumentou o salário dos
médicos para R$ 25 mil por uma jornada de 40 horas, porém desde dezembro de 2012 a cidade não conta com
nenhum médico para atender a população local.
Unidades de atendimento bem
equipadas também não são garantias de contratação e manutenção de médicos. Em
Camargo, no Rio Grande do Sul, mesmo com duas unidades de saúde bem equipadas
para o atendimento básico e um salário de R$16 mil mensais não são suficientes
para manter os médicos trabalhando na cidade de 2 mil habitantes, de modo que a
prefeitura esta ansiosa para a aprovação de um projeto de lei onde o morador
que residir a mais de cinco anos na cidade e for aprovado em vestibular de
medicina em instituição privada terá seu curso totalmente pago pela prefeitura,
não importando o valor da mensalidade, desde que o mesmo se comprometa a
trabalhar de cinco a seis anos na cidade depois de formados.
Podemos ver que a falta de médico
é uma infecção generalizada em todas as regiões do Brasil, de Leste a Oeste, de
Norte a Nordeste. Mas qual a causa dessa doença tão letal?
As somas de alguns fatores
explicam o problema. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), existem no
Brasil 1,8 médicos para cada 1000 habitantes, número abaixo de paises como
Argentina (3,2), Portugal e Espanha (4) e Cuba (6) por cada 1000 habitantes. Além
do número baixo, a distribuição dos médicos é desproporcional, já que no
Distrito Federal encontramos 4,09 médicos e no Maranhão temos 0,71 médicos para
cada grupo de 1000 pessoas.
A alta demanda somada a baixa
oferta de médicos cria um desequilíbrio, onde os serviços médicos tornam-se
cada vez mais caros devido à escassez de mão obra. Dessa maneira, médicos podem
escolher onde trabalhar e, por isso, se concentram mais em capitais e cidades
maiores, criando um problema. Não veja o médico como vilão, pois sendo ser
humano e trabalhador que é (não venha dizer que medicina é vocação), ele
tenderá a buscar trabalhar em um lugar onde ofereça maior custo beneficio, já
que tem essa possibilidade de escolha.
Para tentar amenizar o problema,
o governo vem tentando criar mecanismos para atrair médicos de paises com taxas
de medico/habitantes maiores que aqui, como é o caso de Cuba, Espanha e Portugal,
para trabalharem em regiões carentes de grandes cidades e em áreas que não são
atrativas para quem exerce a medicina como a Selva Amazônica ou o sertão
Nordestino. Uma das primeiras medidas que o governo vem tentando é firmar um
convenio com Cuba para a contratação de 6000 médicos temporários para atuarem
nessa área, mas esta encontrando forte resistência principalmente do CRM, CFM e
da direita Brasileira. O CRM e CFM defendem que os médicos Cubanos têm baixo
nível de aprovação no exame de revalidação de Diploma aplicado no Brasil,
enquanto a direita acusa o governo de estar trazendo missionários cubanos que
irão pregar o comunismo com a desculpa de exercer a medicina em regiões
carentes.
Quanto à primeira tese, estive lendo sobre o assunto e vi que o método de Medicina Cubana é diferente do Brasileiro, pois lá o que predomina é a medicina preventiva. Esse tipo de medicina mostra-se ideal para áreas pobres e de risco como as comunidades ribeirinhas, sertões, e bolsões de pobreza das grandes cidades, onde as condições de trabalho não são ideais. Esse tipo de Medicina fez Cuba alcançar uma taxa de Mortalidade Infantil de 5,8 por 1000 nascimentos enquanto no Brasil a taxa é de 15,6 por 1000. Isso mostra que a medicina Cubana não deve ser tão ruim como andam dizendo por ai. Já a segunda tese é defendida pelas mesmas pessoas que diziam que o PT iria acabar com o Real quando assumisse o governo, que o Lula iria estatizar as empresas privadas, que o salário mínimo deveria crescer o mínimo possível para não gerar inflação (a inflação no último ano do PSDB no governo em 2002 foi de 12,53 %). Então, nem vamos zoar, porque, vai que é doença, né?
Agora vem a pergunta. Para um
ribeirinho que precisa andar centenas de quilômetros dentro de um barco para
chegar até o posto médico mais próximo, será que importa se o medico for de
Cuba ou do Japão, ou de Marte, desde que este esteja disposto a atendê-lo na
cidade onde ele reside?
Nesse debate vejo que muitos tem
se esquecido da questão humana. Apenas criticam o governo por não dar condições
de trabalho nessas áreas, o que não deixa de ser plausível, mas se esquecem de
que nessas áreas vivem pessoas que necessitam serem atendidas e já que os
médicos formados aqui não querem trabalhar nessas áreas, porque então fazem
tanta pressão para que não venham médicos estrangeiros?
Como medida emergencial é valida
a estratégia do governo sim, pois ajudará a amenizar o problema em curto prazo,
mas sei que a médio e longo prazo é necessário investir na formação de médicos
para reduzir o déficit que existe e equilibrar a função, fazendo com que os
médicos tenham que procurar novos lugares para exercerem a profissão, além de investir mais na estrutura para o tratamento dos doentes.
E digo mais. Bem que eu queria
que viessem alguns médicos estrangeiros para Castilho, já que estamos
enfrentando o problema da falta de médicos interessados no atendimento público.
Silvinho Coutinho
Nossa... super curti este texto! De fato a saúde no Brasil, em especial a saúde pública, é vergonhosa, é humilhante dormir numa fila para ser atendido por um médico que muitas vezes não passa 10 minutos com você no consultório. Ao mesmo tempo concordo tratar-se de uma ignorância as criticas à estratégia de trazer médicos estrangeiros para o Brasil. Se for pela melhoria da saúde, tanto faz de onde venham, afinal de contas... O que realmente importa?
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