Acredito não ser o único a me sentir confuso ou irritado ao refletir o que
as duas manifestações que ocorreram em Florianópolis (18 e 20/06/2013) estão
simbolizando, com o que podem vir a representar, quais grupos estão
participando das mesmas e o que este suspeito apoio da mídia quer dizer. Estes
dois atos que, ao meu ver, a pauta
principal era –ou deveria ser? - a conquista de um transporte público de qualidade
ou/e a luta pelo passe livre se transformaram, para muitos, em uma luta para
mudar o Brasil de uma hora para outra, mas... de qual forma? Com qual solução?
E com quais consequências? Neste texto expresso, em poucas linhas incapazes de
abarcar ou problematizar com uma reflexão contundente o que está ocorrendo em
Florianópolis, meu descontentamento com a pouco atenção que a questão de
mobilidade urbana e transporte público de qualidade recebeu, sobretudo na
manifestação do dia 20/06/2013, da qual estive presente.
Nesta manifestação vi muitos cartazes com diversas frases sobre os variados
males da nação. Muitas pautas que devem ser muito debatidas e refletidas! Não
sou contra buscar e propor boas mudanças para o Brasil, em lutar contra o
Feliciano, contra a corrupção, contra os enormes gastos com a copa do mundo
etc. contudo, estamos perdendo a oportunidade de debater sobre algo pontual e
concreto que atinge os habitantes de Florianópolis e região diariamente,
que é o caos na mobilidade urbana.
É importante recordarmos a história de Florianópolis com relação aos
movimentos em busca de redução da tarifa de ônibus e da conquista do passe
livre. Grosso modo, já faz algum tempo que no calendário de Florianópolis
estava marcada anualmente a tradicional greve dos funcionários do transporte
coletivo, na qual, após algum tempo de greve, sempre resultou em um aumento da
passagem e em infrutíferas manifestações contra este aumento, com a exceção da
que ocorreu em 2005 que conseguiu revogá-lo.[1]
Desde 2004 estas manifestações nunca contaram com ampla participação da
população ou tanta repercussão e apoio da mídia conservadora de Santa Catarina.
Este ano foi diferente, pois: ocorreu a tradicional greve dos trabalhadores
do transporte coletivo – solucionada rapidamente - mas, que não resultou em um
aumento da passagem; houve uma enorme participação da população nas recentes manifestações
que não lutavam contra o aumento da tarifa, e sim, a princípio reivindicavam um
transporte público de qualidade e o passe livre; além disso, a mídia está
apoiando as manifestações e ressaltando que os vândalos são minoria no
movimento. Neste sentido, já antes da grande repercussão das manifestações que
ocorreram em São Paulo, havia sido marcada uma manifestação para o dia
20/06/2013 em busca de um transporte público de qualidade. O que é ótimo, pois,
o transporte público e a mobilidade em Florianópolis são terríveis. Antes desta
manifestação, no dia 18/06/2013, muito em virtude da grande repercussão dos
movimentos em São Paulo e outros lugares do Brasil ocorreu uma manifestação, organizada
quase em cima da hora, muito com o intuito de dar apoio às outras manifestações
do país e reivindicar um transporte de qualidade. Não fui nesta manifestação.
Importante ressaltar a grande participação no ato dia 18 capaz de fechar as
duas pontes (únicas vias de entrada e saída para ilha e continente, marcadas
por um tradicional e caótico congestionamento em horários de pico).
Na manifestação do dia 20/06/2013
que estava marcada para começar às 18 horas o que menos vi foram cartazes ou
falas com reivindicações pelo passe livre, a favor de uma melhor mobilidade
urbana e um transporte público de qualidade,
isto se comprova também pelo pouco ânimo para se cantar músicas contra a
tarifa ou relacionadas a este tema. No final do protesto, uma minoria com cerca
de 300 pessoas mantiveram as pontes fechadas até 00:00 (elas foram fechadas a
partir das 19 horas). Não consigo pensar em um bom argumento para manter a
única saída da ilha para o continente por tanto tempo, pois, a manifestação, ao
meu ver, já havia acabado e a “mensagem” já havia sido dada.
Enfim, esquecemos de lutar por um transporte coletivo? Qual mensagem
estamos querendo passar? Pelo que lutamos? Acredito ser necessário voltar para
a ordem do dia o debate sobre o transporte público e a mobilidade de
Florianópolis a fim de buscarmos soluções para este grave problema.
Gustavo Tiengo Pontes
23 anos
Graduando em História pela UFSC
Concordo com tudo que tu disse. E ainda acrescento que no ato do dia 18 eu vi uma maior manifestação pelo transporte do que no de ontem. Ontem o que vi foi ensaio pro carnaval e final da copa, infelizmente. Me pareceu que a galera vai pra postar foto no instagram e dizer que 'fez sua parte', quando na realidade só está ali fazendo numero e parte de uma massa de manobra. Me preocupa pensar no desenrolar de todo esse movimento.
ResponderExcluirTambém achei insensato trancar a ponte por tanto tempo. As marchas ocupam as vias porque precisam de passagem para os manifestantes. Agora, fazer as pessoas chegar em casa depois da meia-noite por falta de rotas alternativas é bem complicado. Terence
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