Dias atrás um amigo postou essa frase
no face, de Renato Russo. Suscitou-me lembranças da adolescência e porque não
dizer, de minha juventude: realmente acredito que ela se perdeu há tempos.
Comecei então a me perguntar: “Quem roubou
nossa coragem?”; “Quem roubou minha coragem?”; “Será mesmo que ela foi roubada?
Ou sequestrada? Ou escondida?”. Sobre os tempos da militância política, da não
aceitação e do questionamento, da espera da sociedade justa e igualitária e de
se emocionar ao ler O Capital por sei lá qual das vezes e de ser firme em
acreditar que para sempre eu seria daquele jeito. Inocência da juventude ou
mera aceitação das condições de aspirações quase burguesas do mundo do trabalho?
Realmente notei que os anos haviam passado ao participar de uma Conferência
Municipal sobre Educação. Os jovens estudantes universitários ali,
questionadores, interrompiam a todo o momento a pauta. Os demais, profissionais
da educação, de todos os cargos, inclusive os professores, salvas raríssimas
exceções, olhavam no relógio e a única coisa que esperavam era o horário do
almoço. (Eu, por várias vezes, também esperei apenas isso). A única coisa que
se espera é a refeição: necessidade básica e, como dizia Vygotsky, necessidade
primitiva. Não que o horário da refeição não seja importante, mas cinco, dez ou
quinze minutos não resultariam em desnutrição.
E como aqueles
jovens incomodavam! A cada interrupção, olhos de desaprovação e sorrisos, palavras ditas aos colegas em voz alta: “ain... os
estudantes...”; “por que isso de novo?”; “nem vamos sair mais cedo!”; “cala a
boca e aprova isso logo...”.
Incrivelmente senti-me viva naquelas discussões, parecia que algo em mim se
movia e me dava um novo sentido ao poder pensar e decidir os rumos da educação
da cidade, do país, fazer e ser história na profissão que escolhi.
Vi-me várias vezes em meio aos jovens, em pensamento. Até que no final um deles
me questionou se eu era estudante, disse que não, ele disse que parecia, eu
tinha cara! Entendi como um elogio que os meus nove anos dedicados à educação
pública e um ao ensino superior particular, como docente na formação de
professores, já me consumiram lentamente e eu nem percebi.
Saí de lá realmente feliz. Minhas aspirações não se fizeram tão importantes
quanto às do coletivo. Pensar coletivamente. Discutir. Rediscutir. Decidir.
Votar. Contar os votos. Comemorar e discutir novamente.
Li algo recentemente sobre nossa educação e posição política, em aprendermos a
ser cordiais, a moda do “bom mocismo” e a não tomar decisões.
Por isso, estou aprendendo diariamente a encorajar meus alunos, afinal, se eu
já guardei minha blusa de frio, eles podem tirar as suas, o calor e o frio são
praticamente os mesmos para nós. Por isso volto atrás muitas vezes, digo,
desdigo e permito que me questionem. Quero imensamente que a juventude dos
próximos anos indague meus modos, meus conceitos, a política nacional,
internacional e seja corajosa e que ela demore a ser roubada.
A pergunta inicial, infelizmente, ainda continua sem repostas...
Paula Dyonisio
Pedagoga, Mestre em Letras, PROFESSORA.
Pedagoga, Mestre em Letras, PROFESSORA.
Sim, minha querida, que não nos deixem roubar nossa coragem que, se já não toma frentes e gritos de levante, toma as palavras frente a tantos e tantos alunos que passam por nós. Que não deixemos que nos roubem a coragem na educação!
ResponderExcluirBelo texto!
ResponderExcluirEm minha opinião, nenhum outro título caíria tão bem, a este texto, quanto o que lhe foi dado. Fiquei feliz em ler o texto com certo atraso, pois esse momento de manifestação que o
ResponderExcluirBrasil ta presenciando me faz perceber que ainda há esperança, que se pagarem o resgate a nossa coragem retorná sã e salva. Espero que ela retorne e permaneça, afinal posicionamento crítico deve nos acompanhar sempre, inclusive nas urnas eletrônicas.