quinta-feira, 6 de junho de 2013

Quem roubou nossa coragem?

          

            Dias atrás um amigo postou essa frase no face, de Renato Russo. Suscitou-me lembranças da adolescência e porque não dizer, de minha juventude: realmente acredito que ela se perdeu há tempos.
Comecei então a me perguntar: “Quem roubou nossa coragem?”; “Quem roubou minha coragem?”; “Será mesmo que ela foi roubada? Ou sequestrada? Ou escondida?”. Sobre os tempos da militância política, da não aceitação e do questionamento, da espera da sociedade justa e igualitária e de se emocionar ao ler O Capital por sei lá qual das vezes e de ser firme em acreditar que para sempre eu seria daquele jeito. Inocência da juventude ou mera aceitação das condições de aspirações quase burguesas do mundo do trabalho?
            Realmente notei que os anos haviam passado ao participar de uma Conferência Municipal sobre Educação. Os jovens estudantes universitários ali, questionadores, interrompiam a todo o momento a pauta. Os demais, profissionais da educação, de todos os cargos, inclusive os professores, salvas raríssimas exceções, olhavam no relógio e a única coisa que esperavam era o horário do almoço. (Eu, por várias vezes, também esperei apenas isso). A única coisa que se espera é a refeição: necessidade básica e, como dizia Vygotsky, necessidade primitiva. Não que o horário da refeição não seja importante, mas cinco, dez ou quinze minutos não resultariam em desnutrição.


           

   E como aqueles jovens incomodavam! A cada interrupção, olhos de desaprovação e sorrisos, palavras ditas aos colegas em voz alta: “ain... os estudantes...”; “por que isso de novo?”; “nem vamos sair mais cedo!”; “cala a boca e aprova isso logo...”.
            Incrivelmente senti-me viva naquelas discussões, parecia que algo em mim se movia e me dava um novo sentido ao poder pensar e decidir os rumos da educação da cidade, do país, fazer e ser história na profissão que escolhi.
            Vi-me várias vezes em meio aos jovens, em pensamento. Até que no final um deles me questionou se eu era estudante, disse que não, ele disse que parecia, eu tinha cara! Entendi como um elogio que os meus nove anos dedicados à educação pública e um ao ensino superior particular, como docente na formação de professores, já me consumiram lentamente e eu nem percebi.
            Saí de lá realmente feliz. Minhas aspirações não se fizeram tão importantes quanto às do coletivo. Pensar coletivamente. Discutir. Rediscutir. Decidir. Votar. Contar os votos. Comemorar e discutir novamente.
                 Li algo recentemente sobre nossa educação e posição política, em aprendermos a ser cordiais, a moda do “bom mocismo” e a não tomar decisões.
            Por isso, estou aprendendo diariamente a encorajar meus alunos, afinal, se eu já guardei minha blusa de frio, eles podem tirar as suas, o calor e o frio são praticamente os mesmos para nós. Por isso volto atrás muitas vezes, digo, desdigo e permito que me questionem. Quero imensamente que a juventude dos próximos anos indague meus modos, meus conceitos, a política nacional, internacional e seja corajosa e que ela demore a ser roubada.

            A pergunta inicial, infelizmente, ainda continua sem repostas...




Paula Dyonisio
Pedagoga,  Mestre em Letras,  PROFESSORA.

3 comentários:

  1. Sim, minha querida, que não nos deixem roubar nossa coragem que, se já não toma frentes e gritos de levante, toma as palavras frente a tantos e tantos alunos que passam por nós. Que não deixemos que nos roubem a coragem na educação!

    ResponderExcluir
  2. Em minha opinião, nenhum outro título caíria tão bem, a este texto, quanto o que lhe foi dado. Fiquei feliz em ler o texto com certo atraso, pois esse momento de manifestação que o
    Brasil ta presenciando me faz perceber que ainda há esperança, que se pagarem o resgate a nossa coragem retorná sã e salva. Espero que ela retorne e permaneça, afinal posicionamento crítico deve nos acompanhar sempre, inclusive nas urnas eletrônicas.

    ResponderExcluir