As manifestações
pelo país continuam. O Movimento Passe Livre de São Paulo, grupo que iniciou
toda essa revolução, conseguiu atingir seu objetivo de não deixar aumentar o
valor da passagem em 20 centavos e saiu oficialmente da briga. Entretanto,
a multidão quer mais. Sem muito foco ou alvo definido, a população não
organizada (uns dizem despolitizada) continua nas ruas protestando sobre uma
infinidade de assuntos.
Confesso que a
proximidade com os fatos, a falta de conhecimento e a intensidade com que tudo
tem acontecido não me deixam ter uma opinião formada sobre o assunto. Uma hora
falam de golpe dos fascistas e em ditadura, outra hora é a esquerda quem quer
trocar o nome do país pra República Lulista Brasiliana. Complicado! Mas, pra
não deixar passar em branco esse momento histórico pelo qual temos atravessado,
vou tentar discorrer brevemente sobre minhas impressões.
A coisa mais
importante nisso tudo, mesmo com os erros e exageros, é a manifestação popular homogênea.
O que começou com um grupo pequeno e organizado acabou contagiando todas as
classes e ideologias. Tem cartaz pedindo a cabeça do Feliciano, da Dilma e até
do Lula, mesmo que este não exerça, oficialmente, o Poder (interessante, aqui
em São Paulo, ver pouca gente detonando o Alckmin), gente pedindo o essencial –
saúde, educação e segurança - e mais uma infinidade de demandas.
A segunda coisa
importante, que talvez até empate com a primeira, é ver a Presidenta e o
Congresso se movendo. A máquina estatal, morosa e pesada pra dar qualquer
benefício pra gente que é pobre, tem se movimentado com uma agilidade sueca.
Dilma Fez um pronunciamento oficial convocando uma constituinte pra uma reforma
política (o que achei exagerado), jogou a bomba no colo do Congresso quando
pediu 100% dos royalties do petróleo pra educação, além de ter colocado o fator
social acima do econômico. O Senado (esse mesmo do Renan Calheiros), inclusive,
aprovou o projeto de lei que torna a corrupção como mais um dos crimes
hediondos tipificados na lei. Quanta coisa, não? E pra quem dizia que esse
barulho todo pelo Brasil era apenas arruaça, coisa de vagabundo: Chupa!
A terceira coisa
que eu queria comentar é sobre a motivação popular para tamanha revolta. Pra
isso vou usar a Copa e seus estádios. Esses dias, ouvi o Antero Greco,
comentarista esportivo da ESPN, dizer algo interessante. O negócio não é que
não queremos a Copa. A birra é saber que no orçamento o estádio vai custar, por
exemplo, R$ 500 milhões e no final sair pelo triplo desse valor. A Globo vem e
mostra o Maracanã dizendo como ficou lindo depois da “reforma”. Rapaz, pelo
valor que foi gasto, ser lindo nem deveria causar espanto. É o mínimo!
E pior é não ver
legado algum fora essas arenas (algumas fadadas a serem elefantes brancos).
Mobilidade urbana, aeroportos, serviços públicos não mudaram. Nada aconteceu!
E, bem sabemos, jogo de seleção é coisa pra playboy. Pobre quer mesmo é poder
ir sentado no ônibus, levar sua esposa ao hospital sem o receio d'ela piorar
por lá, saber que seu filho recebe na escola uma educação de qualidade, merenda
de qualidade, oportunidades de qualidade. É isso o que se quer, pô!
Mais do que
qualquer reforma política e econômica, espero mesmo é ver o brasileiro mudando
alguns paradigmas, algumas manias torpes que ainda passeiam livres por aí. Como
disse no meu último texto, temos que dar um jeito nesse nosso “jeitinho
brasileiro” pra que o Brasil possa finalmente se ajeitar.
Márcio Antoniasi
PS: esse é nosso
centésimo texto! Um blog que começou sem qualquer pretensão, mais como uma
forma de poder opinar sobre as vicissitudes sociais, políticas, literárias,
etc, consegue, ainda que em pequena escala, levar o debate e o pensamento
crítico a um bom número de pessoas. Agradecemos a todos nossos leitores, nossos
apoiadores e, claro, aos nossos opositores. É assim, com indagações, questionamentos
e discussões que se semeiam revoluções e mudanças concretas como estas que
vemos agora.
Faltou a Thaís Coelho! Temos que tirar uma foto juntos. |