terça-feira, 26 de setembro de 2017

Os Quiosques e a política higienista em Castilho

    O que seria uma política higienista?
    Um bom exemplo de política higienista é o que tem feito o Prefeito de São Paulo, João Dória,  que é acusado de ordenar à Guarda Metropolitana tomar de moradores de rua seus colchões, cobertores e jogar água em gente que dorme na praça da Sé em pleno frio de 5 graus, outro exemplo de higienismo vem do Prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil que não poupou o uso da violência para atacar trabalhadores de rua os chamados camelôs. Ou seja, dois exemplos que jogam para "debaixo do tapete" graves problemas sociais, políticos que agem de forma a mudar o visual de um lugar para que fique de acordo com o que eles acreditam ser o ideal, uma maquiagem na paisagem.
    O caso dos quiosques da praça são parecidos, guardadas as devidas proporções.
   Pensados e construídos no processo de "reforma" da praça, foram inaugurados no ano de 2009. Quiosques que nunca foram totalmente ocupados ao mesmo tempo. 
  Nos últimos anos, de todos, apenas um seguia funcionando.
  Não bastasse a quase total ociosidade, a principal crítica da população a esta obra se deve ao fato de ter sido construída sobre a principal avenida da cidade, atrapalhando a passagem de quem seguia ao único hospital que Castilho possui.
  Após o notório fracasso desta obra e às muitas criticas, a atual prefeita decidiu que o melhor era demoli-los e abrir novamente passagem na avenida.
  A insatisfação com estes quiosques era tanta que o atual governo fez questão de fixar na praça uma grandiosa placa de publicidade de seu feito, a reabertura da Avenida Getúlio Vargas.
   
 


    O caso destes quiosques, assim como outras obras em Castilho, é mais um projeto pensado em gabinete, sem qualquer consulta popular, feito de cima para baixo, cheio de preconceito com viés legalista.
     Quem conheceu a antiga praça, antes dessa "reforma" que na verdade foi uma reconstrução, sabe que a praça era um local cheio de vida, local de encontro de muitos jovens, era um ponto turístico, principalmente aos domingos com o tradicional forró.
    Por isso, ao longo do tempo foram se instalando vários comerciantes no local onde foram construídos os hoje demolidos quiosques. Aqueles comerciantes eram pessoas desempregadas que viram na praça uma oportunidade de ganhar um dinheiro extra vendendo lanches, pasteis, sorvetes, pipocas, etc.  
    O local se transformou em uma espécie de praça de alimentação, sempre movimentada. Era um lugar rentável a quem ali trabalhava.
    No entanto, para alguns, aquilo era um incomodo, uma fila de trailers sem padrão algum. Cada um do seu jeito, uns de lata, outros de madeira, outros em cima de uma mesa improvisada. 
    Pareciam um evento do tipo destes de Food Truck, mas em uma versão bem mais pobre, sem a pompa de classe média que paga 20 reais em um lanche. 
    Na época da construção dos quiosques o principal argumento utilizado foi o de legalizar a situação daqueles comerciantes, construindo um local padronizado. 
    Apesar dessa aparência legalista, o verdadeiro motivo foi promover uma "limpeza" no local, retirando aqueles comerciantes de improviso que não combinavam mais com o visual de uma praça toda remodelada, era preciso impedir que aqueles pobres desempregados com pouquíssimo poder de investimento  instalassem seu pequeno negócio em uma praça que recebeu investimento de um milhão de reais. A afirmação do site de notícias Hoje Mais, dá uma ideia disto.

       Na época, os quiosques foram construídos como alternativa para substituir os ambulantes que foram proibidos de permanecer ao redor da praça, com carrinhos de pipoca, de cachorro-quente entre outros.
Fonte: http://www.hojemais.com.br/tres-lagoas/noticia/geral/prefeitura-de-castilho-inicia-processo-de-demolicao-dos-quiosques-e-reconstrucao-de-trecho-de-avenida 

   Ou seja, uma avenida que dava acesso a um hospital foi fechada parar impedir a instalação de comerciantes/ambulantes na principal praça da cidade. Uma obra que nada mais fez que promover a expulsão de vários deles. Foram tratados como um problema, quando na verdade o problema estava sendo criado por uma solução higienista.
    Assim, muito dinheiro foi jogado fora por uma questão de preconceito, de gente que se incomoda com um visual de coisa pobre. "Mataram" a praça e no fim, nem uma coisa, nem outra.
   Se alí houvesse uma fila de trailers do Food Truck, certamente seriam tratados diferente. Seriam convidados até a Prefeitura para de alguma forma regularizarem sua situação.
Veículo de Food Truck. Ah se aqueles antigos comerciantes fossem assim.

    O que mais impressiona é que tudo aconteceu sem nenhuma voz para ao menos questionar uma ideia dessas. Passou pela Câmara e foi aprovada pelos mesmos que hoje batem palma pela demolição de um projeto que eles mesmos deram aval.
     Castilho é assim, muitas vezes só repete em escala menor o que é comum na capital.


Dóri Edson Lopes