terça-feira, 5 de agosto de 2014

A CANA QUE QUEIMA. DE QUEM É A CULPA?


       Todo ano é a mesma coisa. Durante os meses de maio a outubro os incêndios em canaviais transformam a atmosfera das cidades do interior de São Paulo.
       O sol brilha opaco, o céu fica cinza e o ar seco dessa época ganha a companhia indesejada do gás carbônico. Nesse conjunto de fatores a respiração fica comprometida. A tosse é o primeiro sintoma, que atinge mais severamente os mais velhos e as crianças. Os hospitais ficam cheios. Formam-se filas no setor de inalação, onde as pessoas procuram aliviar as consequências de tanta fumaça no ar.
         Existem alguns protocolos assinados pelos representantes das Usinas de Álcool e o governo do Estado de São Paulo que determinam o controle das queimadas nos canaviais. No caso de Castilho-SP e região, cuja declividade é baixa, este acordo prevê quase que a proibição da queima deste monocultivo[1]. Entretanto, elas continuam acontecendo.

Figura 1 – Incêndio de canavial no dia 02 de agosto assusta castilhenses.



Figura 2 – Novo incêndio de grandes proporções no dia 04 de agosto, mais uma vez pôde ser visto da cidade de Castilho-SP.
Fonte: arquivo pessoal de Marco Apolinário.

         Os responsáveis pelos canaviais argumentam que se trata de incêndios involuntários. Alegam que são acontecimentos corriqueiros para esta época do ano, onde a falta de chuvas e as bitucas de cigarro atiradas dos carros de cidadãos comuns é que ateiam fogo nas plantações. Ou ainda argumentam que muitas vezes tudo é culpa de algum vândalo descontente com alguma usina de álcool.
             Mas, é preciso esclarecer. Se estes incêndios são fruto do desleixo de algum fumante, por que a imensa maioria deles acontece justamente em canaviais? Por que não nas pastagens secas desta época? Ou ainda, por que a maior parte destes incêndios se dão em canaviais já prontos para o corte, visto que para qualquer vândalo inteligente seria mais coerente por fogo em canaviais ainda baixos, assim o prejuízo do usineiro seria maior?
             Alguns fatores podem explicar este problema. Existem dois modos de plantio de cana-de-açucar: um deles são as plantações dos próprios proprietários da terra, que no tempo certo vende a produção ao usineiro, a outra forma se dá através dos arrendamentos das terras às usinas de álcool.
           A principal suspeita é que alguns fazendeiros, na ânsia por vender logo a sua plantação de cana, queimam-na para antecipar a colheita. Já nos casos das fazendas arrendadas, a queimada seria feita por algumas empresas que preferem "limpar" o canavial, pois, mesmo sendo mecanizado o corte, a cana queimada facilita e agiliza a colheita, torna mais rápida a passagem das máquinas.
        Ou seja, tudo indica que se trata de casos de pura busca desenfreada por maiores lucros. A poluição que não sai dos escapamentos dos carros que são movidos a álcool, é compensada pelo inferno das queimadas de cana de açúcar.
       Enquanto os coniventes governos e os consentidos ministérios públicos não tomam ações eficientes a população sofre com o ar pesado dessa época do ano. Enquanto os que lucram com estes canaviais não forem responsabilizados por estes danos ambientais nos restará lamentar a perda dos tempos em que Castilho-SP e região tinha na qualidade do ar um dos seus atributos elogiáveis.

Dóri Edson Lopes



[1] Fonte: http://www.grupocultivar.com.br/sistema/uploads/artigos/27-01_gc_cana.pdf

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