quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Interpretando os acontecimentos em Castilho a partir da luta de classes.


Por ser minha primeira participação e este ser um blog de opiniões pessoais vou escrever este texto assim mesmo, na primeira pessoa, o que muito provavelmente eu mude para os próximos. Devo inicialmente agradecer aos amigos castilhenses idealizadores desta iniciativa o convite para eu contribuir com minhas opiniões neste que é um importante instrumento de divulgação de idéias, qual seja, a internet. Pra mim isto é gratificante, pois isso veio de pessoas de excelente caráter e de grande intelecto. Mas, já adianto aos leitores que meus textos não são tão literários e talvez nem tenham o mesmo poder de prender a atenção como de meus amigos da Letras.
Pensei em algo que pudesse explicar as diretrizes de minhas avaliações, um texto metodológico de como analisar os acontecimentos em Castilho-SP. Assim sendo, lembrei-me da célebre frase de Marx e Engels no Manifesto Comunista, “a história da humanidade é a história da luta de classes”.
Para Marx na sociedade capitalista existem três classes, a burguesia (patrões em geral), os donos de terra (com distinção entre proprietários de grandes áreas e camponeses) e também os trabalhadores (aqueles que nada têm a não ser a força de trabalho).
Ao analisar a história de nosso município, os conflitos de interesses das distintas classes ficam evidentes, principalmente na luta de trabalhadores sem terra por melhor distribuição do território castilhense de um lado e fazendeiros de outro. Aliás, com relação ao período de ocupação destas terras, a história tida como oficial e que gosta de heroicizar fazendeiros e comerciantes de terras como sendo os grandes pioneiros, aqueles que primeiro pisaram este chão; esta história nem sequer ensina que neste local, antes da atual civilização chegar, havia índios, estes sim os primeiros a andarem por este chão. Esconde ainda que a totalidade do trabalho de desmate e preparo do solo foi feito por quem não tinha direito a uma propriedade e que depois de tudo pronto era obrigado a deixar o solo que preparou na base do machado e da enxada. E pra quem não sabe, foi diante destas condições históricas de nosso município que se deu a formação do maior movimento de luta pela terra da história do Brasil, o MST.
Mas, não é só na disputa por terra que se dá a luta de classes em Castilho-SP, podemos ver este embate nas reivindicações por melhores salários e condições de trabalho empreendidas por trabalhadores empregados na prefeitura, no comércio e nas indústrias de Castilho e região.
Esta é uma dinâmica que está presente também na privatização da água, nas terceirizações dos serviços públicos, nas licitações suspeitas, na falta de moradia que gera os caros aluguéis, na privatização da saúde, da educação, nos financiamentos de campanha, no sucateamento do serviço público em Castilho e que tem gerado amplas reivindicações da maioria da população que sofre as consequências de politicas que procuram beneficiar meia duzia de parasitas do poder público. Enfim, os acontecimentos em Castilho estão repletos deste conjuntura de luta de classes, cujos interesses e ações podem privilegiar uma minoria em detrimento da maioria.
Dentro de um contexto de ações práticas ou ideológicas todos assumem um lado nesta realidade de luta de classes. Não há neutralidade e a própria tentativa de ser neutro pressupõe uma posição conservadora, conformista, de contentamento com a realidade. Assim, ou se está do lado dos poderosos, donos dos meios de produção, ou como diria Marx, da burguesia, ou se está do lado dos oprimidos, trabalhadores e camponeses.
Portanto, é sob este aspecto que procurarei analisar os acontecimentos em Castilho-SP, lembrando que já tenho o meu lado prático e ideológico, que é o de um trabalhador que não tem terra e nem um outro meio de produção, só tenho minha força de trabalho.

Dóri Edson Lopes

4 comentários:

  1. Excesso de modéstia Dóri, ta escrevendo muito bem. Muito boa a análise.
    E os que nada tinham além da força para trabalhar, agora têm um blog q ja está dando o que falar.
    "Maldita inclusão digital", devem estar pensando os "burgueses"..

    ResponderExcluir
  2. Dóri, sempre admirei suas ideologias e ideais... parabéns pelo texto! Ficou muito bom! Acredito que a compreensão de nossa realidade é salutar na busca por melhorias... é o que buscamos: entender o que acontece ao nosso redor para então formular projetos e ações. Conto com seus textos !! Alana Boaventura

    ResponderExcluir
  3. Dóri, belíssimo texto. Acho que a vida nada seria sem as ideologias e fico feliz por saber que dentre os criadores do Blog há um cara que partilhe da mesma ideologia que eu. Nada de pensar que o mundo deva ser socialista, comunista ou outros ''istas'', até porque o maldito capitalista(risos)é o dominante. Devo dizer que a Nova Historiografia juntamente com seus paradigmas contribuíram e muito na vertente na qual nós historiadores chamamos de ''história vista de baixo''. Por meio desta vertente podemos hoje estudar temas relacionados a cultura popular e aos indivíduos que à ela pertencem. Viva a multidisciplinaridade.

    ResponderExcluir
  4. Ótimo texto Dóri, somos amigos de longa data e já era sabido suas ideologias, mas claro que agora está perpetuado. Precisamos de olhares críticos e sair da passividade. Meus parabéns, pois não é fácil estabelecer uma visão crítica do "comtemporâneo", tem que ter um faro muito aguçado. Esse é o caminho!

    ResponderExcluir