terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A importância de não ser importante e o atraso em Castilho-SP



“As 13 colônias do Norte tiveram; pode-se bem dizer; a dita da desgraça. Sua experiência histórica mostrou a tremenda importância de não nascer importante. Porque no norte da América não tinha ouro; nem prata; nem civilizações indígenas com densas concentrações de população já organizada para o trabalho; nem solos tropicais de fertilidade fabulosa na faixa costeira que os peregrinos ingleses colonizaram. A natureza tinha-se mostrado avara; e também a história: faltavam metais e mão-de-obra escrava para arrancar metais do ventre da terra. Foi uma sorte. No resto; desde Maryland até Nova Escócia; passando pela Nova Inglaterra; as colônias do Norte produziam; em virtude do clima e pelas características dos solos; exatamente o mesmo que a agricultura britânica; ou seja; não ofereciam à metrópole uma produção complementar. Muito dife­rente era a situação das Antilhas e das colônias ibé­ricas de terra firme. Das terras tropicais brotavam o açúcar; o algodão; o anil; a terebintina; uma pequena ilha do Caribe era mais importante para a Inglaterra; do ponto de vista econômico; do que as 13 colônias matrizes dos Estados Unidos.” (GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. p. 146.)

O texto acima é parte de um importante livro que, dentre outras coisas, faz um relato histórico de como se deu o processo de ocupação e desenvolvimento econômico no continente americano. Neste trabalho o autor busca evidenciar através das condições históricas e materiais os determinantes que fizeram com que alguns países se tornassem muito mais ricos e desenvolvidos que outros, vide o caso dos EUA e Canadá frente aos demais países do referido continente.
Assim, Galeano (1986) com sua teoria de “A importância de não ser importante”, mostra que muito do poder econômico atual dos americanos está relacionado às condições naturais encontradas pelos ingleses quando da colonização da América do Norte.
Logo, ao sul deste país encontrava-se um clima mais ameno típico de uma maior proximidade com os trópicos; solos férteis e concentração de minérios, tudo isto fez com que esta região exercesse o papel de exportador de matéria prima para as indústrias da Inglaterra. Ali se desenvolveu a concentração de terras, o trabalho escravo e atividades agrícolas de monocultura como as plantações de cana-de-açúcar, algodão, milho, exploração de minérios, etc.
Já no norte o fato de não terem encontrado riquezas naturais que pudessem ser exploradas de imediato, propiciou o desinteresse dos ingleses em explorar aquela região, adotando uma política apenas de ocupação territorial. Para isso os ingleses incentivaram a colonização através da distribuição de terras. Não houve a formação de latifúndio, desenvolveu-se ali a agricultura familiar, a produção diversificada e o trabalho assalariado, o que estimulou o consumo interno. Tudo isto trouxe o comércio e o desenvolvimento de indústrias locais.
Mais tarde, o país ficaria dividido entre um Sul dominado por uma oligarquia fundiária exploradora de renda da terra e escravocrata e de outro lado um Norte industrial tipicamente capitalista, dominado pela burguesia. Os interesses em ampliar o mercado consumidor e a oferta de matéria prima levariam a burguesia do norte a promover uma guerra interna pelo fim do latifúndio e do trabalho escravo.
O processo de colonização do Brasil se assemelha com o que houve no Sul dos EUA. Os portugueses encontraram aqui farta riquezas naturais que foram exploradas conforme os interesses da Coroa. Uma exploração ao modelo da implantada na região sul do território americano, com concentração de terras, exploração de trabalho escravo e pouca diversidade produtiva, cujo objetivo principal era o de apenas fornecer especiarias como madeira, café, açúcar, ouro, dentre outros, para o comércio e as indústrias da Europa, sendo que na maior parte do tempo esta produção não teve a função de estimular o desenvolvimento da indústria local.
Desta forma, Galeano (1986) vai contrapor às especulações e teorias deterministas que viam o atraso econômico de alguns países como algo inerente à raça ou a cultura de cada povo. Argumentos comuns ainda nos dias de hoje, como, por exemplo, o de que se o Brasil é atrasado em relação a outros países isto se deve ao fato de sermos um povo “ignorante e de cultura oportunista”.
Esta é uma realidade que pode muito bem ser aplicada a Castilho-SP, onde também se desenvolveu o atraso promovido pelo latifúndio, com concentração de terras, monocultura e exploração de renda (uma das principais formas deste tipo de exploração nesta região é o aluguel para uso da terra ou simplesmente a especulação, ou seja, cerca-se uma área e aguarda-se o melhor momento para vendê-la).
As oportunidades no campo ficaram restritas e o êxodo rural fez com que a sobrevivência de uma população inteira dependesse dos poucos detentores de terras. Foi desta forma que alguns destes ganharam status de herói pioneiro, e que como mostra a historia recente castilhense, tantos outros se promoveram politicamente oferecendo empregos de capataz ou de bóia fria aos famintos sem oportunidades.
Portanto, a realidade política deste município, onde muitos buscam amparo no poder público para a situação de pouco emprego e precarização do trabalho em indústrias da região se devem, em grande medida, a todo este processo de acumulo de terras, o que fez produzir considerado exército de reserva de mão-de-obra.
As riquezas naturais que eram pra ser um instrumento de desenvolvimento acabaram por ser objeto de escravização e de atraso para a grande maioria. Trata-se de uma conjuntura que deve ser vista como o resultado da luta de classes.
O apoio à reforma agrária, o incentivo à produção diversificada, além da luta por melhores condições de trabalho em indústrias de Castilho e região, são caminhos a diminuir a dependência ao poder público e a amenizar o poder do atraso.
Dóri Edson Lopes

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