quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A consciência não tem cor.


Belo argumento. Cor é só a resultante de como a luz do sol reflete num objeto. No caso da cor de pele, quanto mais melanina, mais escura a pele é. E não, a pele preta não tem excesso de melanina e sim a pele branca que tem melanina de menos. Brincadeira. Não há uma quantidade certa de melanina na pele. Aliás, quanto mais variações, melhor.
A diferença entre um nativo da África e da Escandinávia não nos permite separá-los em raças. Isso porque a maior diferença entre ambos se dará especificamente num órgão: a pele. Uma será branca. Outra, preta. Portanto, não existe raça negra, nem raça branca, nem raça amarela. Existe a raça humana, com suas variações tópicas.
Essas duas afirmações seriam formas racionais de refutar o Dia da consciência negra. Seriam belos argumentos. Mostrariam que eu tenho algum conhecimento em Biologia, Fisiologia, Anatomia... sei lá. E mostrariam também uma coisa: ou eu sou um ET que acabou de chegar na Terra ou eu sou só um cínico mesmo.
Digo isso porque esse argumento é cínico. Ele não leva em consideração um milhão de outros fatores. Fatores esses que constituíram nosso País. Tais fatores impuseram aos homens de pele escura uma história ímpar de sofrimento em nossa “nação”, talvez apenas comparável a situação dos índios. Foram 300 anos de escravidão e depois outros 120 de marginalização. Você não pode fugir disso, isso está em nossos ossos. Faz parte da formação do nosso país.
A consciência não tem cor. E as pessoas de pele preta durante muito tempo também não tiveram. Se você é escravo, você não é dono de si, é apenas um objeto. Objetos não têm consciência. Consciência é o que difere o ser humano dos outros animais. Consciência é reconhecer-se. E para reconhecer-se é necessário saber como foi a sua caminhada para chegar até o hoje, o agora. Quantas vezes você já viu alguém comentando sobre sua ascendência alemã, espanhola, italiana, japonesa? E quantas vezes você viu alguém dizendo: meus ancestrais vieram do Congo?
Quando você se refere a seus ancestrais da Itália, você não está sendo racista, mas isso também faz parte numa tomada de consciência da pessoa que você é. Ora, se você tem esse direito, os afrodescendentes também tem. Mas eles não podem dizer de onde vieram. Sua linha temporal foi cortada por grilhões, chibatas e navios negreiros. Então, o Dia da Consciência Negra tenta ser uma espécie de marco zero. Um dia de auto reconhecimento e de luta também (só os conscientes são capazes de lutar por melhorias).
Esse dia não quer dizer separação, mas sim a necessidade de inserção. É um “estamos aqui”, embora alguns ainda tentem fingir que não.



Juliano Antunes Cardoso

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