segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

É preciso refletir: a CDHU e o possível conflito


É preciso refletir. Refletir e refletir. Mas com calma pra não doer a consciência.  O movimento popular que ocupa as casas da CDHU e as reações diante dele sintetizam a situação social e política da cidade.
Créditos da imagem: Portal Castilho
O que é fato?  Há muita gente precisando de moradia. E não venham me dizer que isso não é verdade, que as pessoas que estão lá, em sua maioria, já tem casa. Dizer isso é reproduzir um discurso generalizante e preconceituoso. É verdade que muitos dos manifestantes fizeram parte do protesto no bairro Nova Iorque, mas, como já disse Márcio Antoniasi no texto anterior, esses movimentos são consequência, o desenvolvimento de uma bola de neve. O que temos em Castilho é um número reduzido  de pessoas com um grande poder aquisitivo, adquirido de diversas formas, entre elas (em grande parte delas), a exploração e, não duvido, a corrupção.  Castilho é Brasil. O Brasil é assim.

Esse grupo, que não deve passar de 15 pessoas, tem como hobby comprar terrenos, construir casas, ou comprar casas já prontas e alugar "bem baratinho" para famílias que não fazem parte desse grupo reduzido, pessoas pobres que, diferentemente deles, não conseguem construir nem mesmo o seu lar.  É uma das formas mais puras de desenvolvimento do capital e aumento da desigualdade. Situação que lembra muito à dos grileiros no Mato Grosso ou à dos coronéis de um passado recente (e ainda presente) de nosso país.  Esse é o negócio “honesto” que garante escolas particulares para seus filhos,  banca o silicone de suas mulheres e as micaretas de suas filhas. Ah, claro, e garante também que eles comprem mais casas e aluguem, aumentando e garantindo a “subsistência”  de seu “limpo” negócio.

Mas é fato, também, que Joni não está de todo errado. A competência em relação à CDHU é, principalmente, do Estado, do sorridente Alckmin que esteve aí nos dando uns busões e tirando umas fotinhas com os camaradas. O que Joni propôs nas negociações é o seu limite: desapropriar terrenos e lutar para a liberação da construção de mais casas. Mais que isso, só a elaboração de um plano diretor e a implantação (utopia!) de um IPTU progressivo para imóveis que não cumprem sua função social, como é o caso de casas de aluguel que ficam fechadas até o início da safra de cana, para serem alugadas aos trabalhadores por preços absurdos. 
O que deveria ter sido mais debatido pelas lideranças do movimento era a obrigação da prefeitura em fiscalizar e garantir que a empresa cumpra o contrato, que, ao que parece, não houve. Faltou aos líderes cabeça fria para analisar a situação e conduzir as negociações com mais embasamento. Mesmo se tivessem se rendido aos argumentos de Joni e desocupado as casas, teriam, ao meu ver, saído como vencedores, realizando um protesto marcante que serviria de aviso aos nossos governantes.   
Agora estamos na iminência de um conflito. O fantasma da vinda Choque anda povoando as mentes fascistas de muitos. Esses dias vi uma pessoa publicando na página do Facebook de um dos líderes do movimento fotos de policiais do Choque e frases em tom ameaçador, idolatrando esse grupo militar e avisando sobre a possível “força” que será usada contra os manifestantes no momento em que houver a reintegração. Materialização da ideologia latifundiária conservadora, de que terra não se conquista, se compra, então, "pau neles!". Tem muito asno andando e falando em Castilho...
E por onde anda o nosso prefeito? Está fazendo história! Acaba de se tornar o primeiro prefeito da história de Castilho a tirar férias. Todo mundo merece umas férias, inclusive ele. Porém, não me parece um momento bom para isso. Quer dizer, depende do ângulo que se analisa...
Enfim, é fato que um conflito não é bom para ninguém. Não é bom para os manifestantes, pois sabemos como a polícia brasileira, em especial a paulista, gosta de tratar manifestantes. Não é bom para a imagem do atual governo municipal, já ridicularizado na região pela a atitude de alguns vereadores. Um conflito assim entraria para história e mancharia para sempre os atuais governantes. Não é bom para o Estado, para Alckimin, para o PSDB, já que 2014 é ano de eleição. Haja ônibus para ofuscar as consequências de um possível conflito. É preciso refletir.


Samuel Carlos Melo
* com a colaboração de Danilo Souza

Um comentário:

  1. o caso CDHU - O que começa errado não vai da certo nunca, invadir
    1. Entrar ou ocupar a força algum lugar.
    2. Ultrapassar o limite
    3. Alastrar, dominar
    sou a favor de mais moradias o programa habitacional em Castilho caminha a passos lentos , a politica habitacional precisa ser revista ... Entretanto não vejo o ato de invadir como solução , Invadir é um ato de violência e Violência Gera violência ... Dai vem o medo da tropa de choque , se o ato de invasão fosse legal o juiz não mandaria desocupar ... Daí a Cesar o que é de Cesar ...

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