sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Paraísos artificiais


Durante as férias li dois livros que de alguma forma conversam entre si (ou não, tirem suas próprias conclusões): Homo Ludens, do filósofo Johan Huizinga e As portas da percepção de Aldous Huxley. O primeiro li para aprofundamento do referencial teórico da minha dissertação que versa sobre o tema de jogos e o segundo por interesse em ler algo diferente dos livros acadêmicos que leio ultimamente.
A obra de Huizinga é extremamente relevante quanto ao tema jogos, pois o autor está convicto de que é no jogo e pelo jogo que a civilização surge e se desenvolve. Ao apresentar o desenvolvimento das civilizações primitivas ele apresenta as competições como um fator importante para tal. No decorrer do livro, o filósofo apresenta características do jogo presentes na cultura, direito, guerra, arte e filosofia.
No livro de Huxley, o escritor apresenta um ensaio sobre o efeito da ingestão de drogas alucinógenas. Segundo ele o ser humano recorrentemente se faz uso de vários outros tipos de drogas como o cigarro, o álcool (drogas lícitas) para fugirem do seu próprio eu e de tudo ao redor.  Mas ao contrário desses tipos de drogas, a mescalina - droga que ele ingere sob controle médico - não causa terríveis consequências ao ser humano e às pessoas mais próximas. A mescalina e outros alucinógenos seriam então um paraíso artificial do qual as pessoas se refugiariam.
Tá, e o que uma coisa tem a ver com a outra?
Em determinada altura, Huxley traz que a arte e a religião, os carnavais e as  saturnais, a dança e apreciação da oratória tem servido, segundo H. G. Wells, como Portas na Muralha, ou seja, aquilo que Huizinga apresenta como um elemento do jogo: a realidade fictícia, sendo esta não atrelada à vida cotidiana.
Se Huxley afirma que é quase impossível que a humanidade passe sem paraísos artificiais pela vida e Huizinga diz que uma das características mais importantes do jogo é sua separação espacial da vida cotidiana, podemos perceber alguma relação entre os dois temas.
Quer ver um exemplo? Como bem sabemos, esse ano é ano de copa, e mais, será sediado em nosso país. Se quando os jogos da seleção brasileira ocorrem em outros países nosso país para, imagine aqui! Outro exemplo: o carnaval. O Brasil novamente se centra totalmente por vários dias nessa festa tradicional.
E a conclusão disso é que o ser humano precisa de algo lícito ou não para se desvencilhar da vida corriqueira: trabalho, contas, obrigações etc. Pensando aqui agora, percebo que não só por meio dos jogos, festas, cultos religiosos ou até mesmo a leitura de um livro,  pode trazer também exatamente isso.

Referências:
HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 6 ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.

HUXLEY, Aldous. As portas da percepção: Cèu e Inferno. 2 ed. São Paulo: Globo, 2002.


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