terça-feira, 20 de novembro de 2012

SOBRE A VITIMIZAÇÃO DO OPRESSOR



As reações, contrárias e a favor, em resposta ao meu primeiro texto publicado no blogue, me animaram a escrever o atual. As questões continuam no mesmo âmbito: debater o cenário de intolerância que justifica a violência física, psicológica e/ou verbal. De algum modo, aproveito para mencionar algumas dessas repercussões, mais que para responder, para animar o debate.
Como pano de fundo, estou considerando dois eventos, amplamente, noticiados pela mídia. O primeiro deles é a entrevista concedida pelo pastor Silas Malafaia na qual afirma que não existe homofobia no Brasil. Segundo o religioso, essa ideia nasce com as entidades “LGBT” com o vil objetivo de angariar benefícios sociais. O segundo evento que cito é a mobilização de um grupo de catorze alunos “evangélicos”, de uma escola do interior do Amazonas, contra a “imposição” pedagógica da realização de uma feira cultural. No evento, seriam discutidos aspectos do continente africano.
No caso de Malafaia, uma das mentes mais poderosas do mundo gospel, cuja influência financeira vai do mercado editorial ao congresso brasileiro, afirmar que o homossexual pode ser beneficiado pela ideologia homofóbica é reverter, cruelmente, os papeis. Equivale a dizer que os heterossexuais, também, sofrem violência por serem heterossexuais ou que a situação dos negros, em nosso país, não precisa de qualquer reparo histórico. Os adeptos desse pensamento já esboçaram as camisetas de “100 por cento branco”, “100 por cento hetero”, entre outras.
O fato é que, mesmo “sem homofobia”, o Brasil é o país que mais mata homossexuais no mundo. Os métodos de extermínio são cada vez mais violentos. Quando um homossexual é alvejado em praça pública; espancado a chutes e pauladas; tem a sua cabeça esmagada por pedradas ou é esfaqueado no coração por grupos de defesa da conduta heteronormativa, aos olhos de uma plateia cristã, passiva e convivente, os direitos  do Homem e os preceitos mínimos da vida em sociedade são aviltados.
O caso dos alunos, representantes da maioria hegemônica religiosa, se aproxima daquilo que aventa o pastor. Ao questionarem as instruções pedagógicas e a realização da atividade escolar, organizando um motim, em nome de Cristo, para combater a manifestação que feria a sua crença, os mesmos tomam os lugares dos marginalizados (no caso, dos povos africanos e todas as suas manifestações culturais).
É preciso dizer muito sobre quem, de fato, é humilhado todos os dias em nossas escolas com a obrigatoriedade da reza ou oração do “Pai-Nosso”? Ou quando, ao portar o seu salário de fome, o adepto do candomblé, ou o sem religião, tenha que levar para casa a imposição de que “Deus seja louvado”? Nesse último caso, um alento é a medida do Ministério Público Federal para que o Estado retire o emblema que contradiz a laicidade do nosso país nas cédulas do real.
A reprodução da dualidade para explicar processos sociais complexos, aqui, é didática. Nos dois exemplos, o opressor reverte o jogo de marginalização e se utiliza dos discursos típicos daqueles que se encontram em posições subalternas. A intenção, deliberadamente, é invalidar lutas e conquistas históricas. A estratégia é muito boa, devemos reconhecer.


Luciano de Jesus Gonçalves, aquele cujo amigo teve o coração esfaqueado por um (não) homofóbico.

8 comentários:

  1. Adorei o texto. Continuem assim, imparciais, e trazendo a tona informações que metade da população vira a cara para não ter conhecimento da verdade. Abraços, já virei fã.

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  2. Muito bom! Continuem assim.

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  3. Não é de me surpreender! Como já esperava, brilhante análise mais uma vez!

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  4. Sou Cristão Católico e gosto e concordo com muito do texto acima.
    Acredito que ainda somos um país bem homofóbico e que não sabe respeitar a diferença do outro. Sobre os alunos evangélicos acho um exagero da parte deles.
    Quanto à "imposição" do "Deus seja louvado" é o mesmo que eu parar de assistir televisão porque toda hora que ligo e todo canal que coloco alguém fala: "Vai Curintia". Acho errado, pois sou são paulino e isso me coage demais. Nâo!!!??? rsrs.
    Só penso que falta mais respeito dos dois lados. O do que crê e o do que não crê.
    Ao autor: No seu último texto intitulado "Entre Idólatras e Monoteístas" acho que seu título te coloca em uma zona de conforto. Ou seja, para você, quem são os idólatras?, pois eles também, segundo a bíblia, não entrarão no céu. Não soa violento?. Sendo assim, acho que bom mesmo é estar “ENTRE”, né? Pois os primeiros vão pro inferno e os segundos são ignorantes por não acreditarem em outros Deuses.
    Enfim, o que quero dizer é que vejo duas coisas: Fanáticos, chatos pra caramba, que desejam que o outro seja como ele à força e Ateus que se acham no direito de anular a fé dos outros. É necessário mais respeito e equilíbrio entre os dois.

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  5. fui cheio de Deus conhecer a Canção Nova. Uma decepção!!! Chegando lá nunca vi tanta homofobia. Quem é gay não é de Deus, e o tempo todo isso na pregação. Agora me digam, como é que um homosexual pode se aproximar das igrejas evangélicas ou católicas? Ambas fazem o mesmo tipo de pregação. Acho que é por isso, que tem tanta gente que não consegue sair do armário, achando melhor encontrar o casamento como uma forma de dar satisfação a sociedade para poder ser aceito. E nem quero começar a citar casos de pedofilia, assim teríamos que passar anos e anos citando exemplos.

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  6. Gostei muito de sua análise das situações. Você escreve muito bem. Encontrei este blog, por acaso, e gostei muito. Leitora agora.

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    1. Muito obrigado pela leitura, Flor! Ficamos muito felizes! Abraços!

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