quinta-feira, 4 de julho de 2013

A gripe do espírito de porco



- Atchim!!!!!!!!!!
Calma, a minha não é a suína. Quer dizer, ao menos não deveria ser, afinal, fui vacinado. Ah, essa vacina... É dela que venho tagarelar hoje. Confesso que não sou nenhum expert em saúde pública e nem tenho muita moral para falar. Para ter uma ideia, eu tinha que arrancar dois dentes para por aparelho, mas só arranquei um e não voltei mais no dentista. Já se passaram seis meses... Entretanto, conheço bastante sobre ficção científica, gênero que, ao menos em Castilho, seria adequado para retratar alguns episódios da vacinação contra a h1n1.
Tudo começou incerto. Tomei conhecimento da gripe pela TV, sobre os casos registrados no país em grandes centros. Aos poucos as notícias eram de que ela já estava se instalando no interior. Depois na cidade em que trabalho. Depois em Castilho. Por fim, soube que se iniciara uma campanha de vacinação apenas com grupos de risco: gestantes, idosos com mais de 60 anos e crianças entre 6 meses e 2 anos, pessoas com doenças crônicas e funcionários da saúde (acho que eram esses). Como não me encaixava em nenhum dos listados, me tranquilizei, afinal, se não estou na faixa mais perigosa é porque, obviamente, não corro perigo.
Entretanto, a coisa começou a ficar estranha, parecendo o roteiro de continuação de um filme tipo Resident Evil. Algumas pessoas que também não estavam na faixa a ser vacinada vieram-me dizer que conseguiram tomar a vacina. Outra pessoa, de outra cidade e também fora do grupo, contou que uma enfermeira, conhecida dela, aplicou a vacina em sua casa. Cheguei a ir a um posto de vacinação, mas quase fui expulso a tapas por uma enfermeira, que dizia: “Não há vacina! Não há vacina em lugar nenhum”. Por fim, veio o falecimento do rapaz em Castilho que também não se enquadrava no grupo de vacinação. Aí começou a bater um princípio de desespero. Será que alguém soube de algo a mais sobre essa gripe e não quer revelar? Anunciaram esses grupos apenas como fachada por o país não ser capaz de comprar vacina para todos?

- Ai, meu Deus, não quero morrer!!!
            Para piorar, aconteceu aquela confusão no CIS, em que pessoas revoltadas com a falta de vacina, ao ver alguns privilegiados furando a fila e sendo vacinados, teriam iniciado um quebra-quebra. Em minha mente dramática, era o princípio de um apocalipse zumbi.
            De todo o insólito dessa atmosfera, quero destacar 3 pontos. Primeiro, que ficou claro a pouca confiança de todos nós (população) para com os nossos órgãos públicos. Mesmo com a orientação dos órgãos de saúde (se é que elas foram precisas e suficientes), as pessoas não pensaram duas vezes em optar pelo “salve-se quem puder”. Não entendi essa atitude, afinal, nosso sistema de saúde é tão eficiente e confiável, nunca faz acepção de pessoas, não é? O segundo ponto, ligado ao primeiro, é o fato de que nem mesmo as pessoas que participam dos órgãos gestores confiaram nas instruções. Quem se informou, ouviu que a confusão no CIS teria se desencadeado quando pessoas muito bem coordenadas, advogando em causa própria, apelaram para o “jeitinho brasileiro”, furando a fila pelos fundos. Pois é, é política do VIP, até pra vacina. Por último, está o fato de culparem o “assistencialismo” por tudo isso. Resumir toda essa agonia, esse medo de morrer, em uma suposta má educação do povo que, mal-acostumado, quer “ganhar” tudo de graça, inclusive a vacina. Porra: só um palavrão pode expressar o que penso desse tipo de argumento.

            É uma pena tudo isso não ter sido um roteiro de ficção. É uma pena ainda não terem inventado uma vacina para a gripe do espírito de porco. Essa é uma epidemia desde que o mundo está em órbita. É contagiosa, transmitida pelo discurso do ignorante e do mal-intencionado que vislumbra o chiqueiro da classe média. 

                                                                                                                                    Samuel Carlos Melo

PS: depois de toda a agonia, "fique sabendo" de um local em outra cidade em que estavam dando a vacina livremente, sem questionamentos e nem filas. Vi muitos castilhenses por lá.

3 comentários:

  1. Samuel, texto discreto e objetivo... e bem educado ao mencionar somente o "porra". Eu teria listado mais nomes... passei pelo constrangimento e humilhação de não ser vacinada aqui, a cidade em que eu moro, e ter que ouvir que cardiopatia e diabetes não são doenças graves e que haviam outras prioridades. O seu texto me esclareceu quais são essas "prioridades". Dizer que é falta de vergonha na cara, dessas pessoas que enganaram a população é muito pouco... precisei migrar para outra cidade para ter o meu direito e do meu marido respeitados. E engraçado, nessa outra cidade, toda a população que precisava realmente da vacina não enfrentou nenhum tipo de constrangimento. O problema vai além dos municípios, visto que o governo (?) dispôs uma quantidade insuficiente aos postos de vacinação... mas aí, ludibriar "pelos fundos" sem pertencer a grupos específicos... mereciam receber algo mais "nos fundos"!

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    1. pois é russa, ano passado eu tive que levar meu cachorro pra vacinar contra raiva em andradina, se eu preciso comprar algo e pagar o preço justo, eu tenho que ir em outra cidade, aqui em castilho a real é outra.... e ninguém, absolutamente ninguém ta afim de mudar essa realidade, a politica aqui é suja e interesseira e isso reflete no povo, no comércio e etc.

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  2. Caro Anônimo,

    Entendo a sua situação. A impressão que a administração pública passa a nós, munícipes, é de que sempre ficamos à margem dos planos de governo. Entra e sai governo e acontece a tal "transição", mas e o plano de governo?? Será que esses administradores precisam de 3 anos para planejar as prioridades da cidade? O trânsito aqui já é grande... visto a quantidade de veículos rodando no centro faz-se necessário que haja semáforos. Controle de cães soltos nas ruas não ocorre. Hospital PÚBLICO não existe... Posto de vacinas funciona? Atendimento de saúde de péssima qualidade... Transporte público municipal existe? (cabe salientar que a vizinha Ilha Solteira mantém ônibus circular gratuito e nós não temos)... Não há lugares na cidade para lazer: vejo os jovens "rodando" na praça, à noite porque é o único luga que eles têm para passear ou se reunirem. NUNCA consegui ser atendida com dignidade no pronto socorro municipal pelas vias do Sus... mas fui rapidamente atendida quando precisei de consulta de emergência e usei o meu plano de saúde. Buracos demais na avenida à margem dos loteamentos Novo Horizonte... Pavimenta-se a avenida de entrada da cidade, mas e o resto? Os bairros populares, como ficam as ruas? As pessoas carentes. idosas e deficientes são assistidas decentemente por algum órgão municipal?
    Colega, eu já telefonei inúmeras vezes para a vigilância sanitária procurando uma funcionária chamada Betinha para que pudesse intervir em situação de uma casa em minha rua que despeja esgoto na sarjeta. Há um ano espero essa pessoa. Já me prontifiquei a buscá-la com meu carro porque ela disse que não havia transporte para ela vir... e ainda assim, ela não podia. Então, se nem a vigilância sanitária tem um planejamento, quiçá o serviço de zoonoses para você poder dar segurança contra raiva ao seu cachorro!
    P.S.: eu levo a minha cachorra para tomar vacina em veterinário particular.
    Resumindo, o que falta, em tudo, nesta cidade que é uma maravilha, é planejamento e ação. Só isso... mas planejar para o POVO e não para quem detém o poder.

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