terça-feira, 4 de junho de 2013

Neymar

     
       Gosto de futebol. Amo o São Paulo Futebol Clube. Assisto os jogos do meu time e ,raramente, um ou outro que me chame a atenção. Sou contra a futebolização de tudo. Nossa realidade, a vida são maiores do que 22 pessoas correndo atrás de uma bola. Contudo, há no esporte em geral e principalmente no futebol um lado humano interessante. Uma metáfora da nossa existência. Todo garoto sonha em ser jogador de futebol porque os gols em campo são bem mais fáceis de marcar do que os gols vida. Ser campeão é para poucos.
       A bola da vez é Neymar. O papo do dia é a sua transferência midiática para o Barcelona. Neymar, nosso melhor jogador desde Ronaldo Fenômeno. Neymar, o garoto-propaganda, o ídolo teen de estilo freak. Não me lembro de ver um jogador do status de Neymar jogando no Brasil. Isso porque os outros grandes nomes como os Ronaldos, Romário, Rivaldo saíram daqui bem menos reconhecidos mundialmente. Neymar não. Ele não é um desconhecido chegando na Europa. Ele já tem salário, futebol e valorização de jogador top. O Barcelona o recebeu como estrela e eu, vendo a cobertura da mídia brasileira sobre o assunto, resolvi, nos moldes de Renato Russo, celebrar.
     
      Celebrar o nosso espírito de cão vira-lata que transformará o cai-cai em gênio em questão de dias, afinal, tudo na Europa é maior e melhor.

        Celebrar a Rede Globo e sua grande cobertura da transferência, mas o completo desprezo pelos jogos do moleque para transmitir sempre Corinthians, Corinthians e Corinthians.

       Celebrar o Santos, que sempre foi conivente com a CBF liberando sem restrições seu melhor jogador pra qualquer pelada verde-amarela. No Barça, as coisas vão mudar.

        Celebrar cada jogo inútil contra o Mirassol.
      
      Celebrar a pequenez insistente da Vila Belmiro e a indigência de outros estádios pelos quais o craque passou.

      Celebrar o absurdo de ter que dizer que Neymar precisa ir pra Europa pra jogar num nível técnico e tático mais alto.

       Celebrar Muricy Ramalho.

      Celebrar o culto ao Bola de Ouro da Fifa, mesmo sabendo que se trata de um prêmio eurocêntrico feito para encantar nossos garotos.

    Celebrar o fato de que, apesar de toda a grandeza e torcida de Corinthians, Flamengo, São Paulo, Palmeiras... sempre quando se falar em grandes clubes do mundo, estará se falando em Real Madrid, Barcelona, Manchester United.

     Enfim, vamos celebrar o fato de que a transferência de Neymar não lhe será benéfica unicamente pelo lado financeiro (aqui ele já ganhava muito dinheiro), mas pelo fato de que o nosso futebol é pior do que o da Europa. Isso tudo mesmo o Brasil sendo um país gigantesco e mono esportivo.


     É isso. A transferência de Neymar não mudará em nada a nossa rotina. Mas, como eu disse, o futebol é a metáfora da vida. O futebol brasileiro representa bem o que é o Brasil: grande potencial, péssima gerência. Nossas falhas estruturais são gigantescas e geram desperdícios como no caso de Neymar. Por isso que todo brasileiro que tenha alguma lucidez tem dentro de si um sentimento de exílio, uma vontade de ir embora para um lugar onde as coisas funcionem um pouquinho melhor. O seu próprio Barcelona.

                                                                                    Juliano Cardoso

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