quinta-feira, 27 de junho de 2013

O que se quer






As manifestações pelo país continuam. O Movimento Passe Livre de São Paulo, grupo que iniciou toda essa revolução, conseguiu atingir seu objetivo de não deixar aumentar o valor da passagem em 20 centavos e saiu oficialmente da briga. Entretanto, a multidão quer mais. Sem muito foco ou alvo definido, a população não organizada (uns dizem despolitizada) continua nas ruas protestando sobre uma infinidade de assuntos.
Confesso que a proximidade com os fatos, a falta de conhecimento e a intensidade com que tudo tem acontecido não me deixam ter uma opinião formada sobre o assunto. Uma hora falam de golpe dos fascistas e em ditadura, outra hora é a esquerda quem quer trocar o nome do país pra República Lulista Brasiliana. Complicado! Mas, pra não deixar passar em branco esse momento histórico pelo qual temos atravessado, vou tentar discorrer brevemente sobre minhas impressões.

A coisa mais importante nisso tudo, mesmo com os erros e exageros, é a manifestação popular homogênea. O que começou com um grupo pequeno e organizado acabou contagiando todas as classes e ideologias. Tem cartaz pedindo a cabeça do Feliciano, da Dilma e até do Lula, mesmo que este não exerça, oficialmente, o Poder (interessante, aqui em São Paulo, ver pouca gente detonando o Alckmin), gente pedindo o essencial – saúde, educação e segurança - e mais uma infinidade de demandas. 
A segunda coisa importante, que talvez até empate com a primeira, é ver a Presidenta e o Congresso se movendo. A máquina estatal, morosa e pesada pra dar qualquer benefício pra gente que é pobre, tem se movimentado com uma agilidade sueca. Dilma Fez um pronunciamento oficial convocando uma constituinte pra uma reforma política (o que achei exagerado), jogou a bomba no colo do Congresso quando pediu 100% dos royalties do petróleo pra educação, além de ter colocado o fator social acima do econômico. O Senado (esse mesmo do Renan Calheiros), inclusive, aprovou o projeto de lei que torna a corrupção como mais um dos crimes hediondos tipificados na lei. Quanta coisa, não? E pra quem dizia que esse barulho todo pelo Brasil era apenas arruaça, coisa de vagabundo: Chupa!
A terceira coisa que eu queria comentar é sobre a motivação popular para tamanha revolta. Pra isso vou usar a Copa e seus estádios. Esses dias, ouvi o Antero Greco, comentarista esportivo da ESPN, dizer algo interessante. O negócio não é que não queremos a Copa. A birra é saber que no orçamento o estádio vai custar, por exemplo, R$ 500 milhões e no final sair pelo triplo desse valor. A Globo vem e mostra o Maracanã dizendo como ficou lindo depois da “reforma”. Rapaz, pelo valor que foi gasto, ser lindo nem deveria causar espanto. É o mínimo!
E pior é não ver legado algum fora essas arenas (algumas fadadas a serem elefantes brancos). Mobilidade urbana, aeroportos, serviços públicos não mudaram. Nada aconteceu! E, bem sabemos, jogo de seleção é coisa pra playboy. Pobre quer mesmo é poder ir sentado no ônibus, levar sua esposa ao hospital sem o receio d'ela piorar por lá, saber que seu filho recebe na escola uma educação de qualidade, merenda de qualidade, oportunidades de qualidade. É isso o que se quer, pô!
Mais do que qualquer reforma política e econômica, espero mesmo é ver o brasileiro mudando alguns paradigmas, algumas manias torpes que ainda passeiam livres por aí. Como disse no meu último texto, temos que dar um jeito nesse nosso “jeitinho brasileiro” pra que o Brasil possa finalmente se ajeitar.

Márcio Antoniasi


PS: esse é nosso centésimo texto! Um blog que começou sem qualquer pretensão, mais como uma forma de poder opinar sobre as vicissitudes sociais, políticas, literárias, etc, consegue, ainda que em pequena escala, levar o debate e o pensamento crítico a um bom número de pessoas. Agradecemos a todos nossos leitores, nossos apoiadores e, claro, aos nossos opositores. É assim, com indagações, questionamentos e discussões que se semeiam revoluções e mudanças concretas como estas que vemos agora.
Faltou a Thaís Coelho! Temos que tirar uma foto juntos.


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