sexta-feira, 24 de maio de 2013

A greve e seus efeitos




Bando de vagabundos! Funcionário público fazendo greve?!
Como assim um serviço geral querer passear na praça de alimentação do shopping? Que audácia! Querer molhar o traseiro na água salgada do mar? Atrevidos! Andar de Adidas e cursar medicina só tem graça se for exclusividade.
Não sou lá o mais versado dos Opositores nessa área da luta de classes e afins. O pouco que sei aprendi debatendo (contra) com meus pares de blog ou nas aulas da licenciatura. Entretanto, essa situação de greve no funcionalismo castilhense fez cair a escama que tapava meus olhos. Tenho visto abertamente essa luta entre classes e o duelo pela manutenção do status quo social existente.
Ainda falando dos médicos, segundo as palavras do prefeito, a possibilidade de eles virem a parar, pedir as contas ou afastamentos foi o fator preponderante para a generosa bonificação de 40%. Ou seja, os médicos não se rebelaram, não argumentaram, não exigiram nada. Pro caso deles, de repente, assim, ficarem zangados, a prefeitura se adiantou e deu o aumento.  

Mas serviços gerais reclamando? Querendo ganhar como um doutor? Absurdo! Queimem na fogueira esse herege!!! É um bruxo querendo mudar a ordem das coisas, trazendo esses sortilégios pra desvirtuar a sociedade.
O que mais ouvi por aí nas minhas conversas com amigos foi que esse movimento grevista é balela. Funcionário público é tudo vagabundo e não salva quase ninguém! Vai trabalhar na Mabel!, gritam alguns mais exaltados. E eu fico sem saber o que pensar. Quer dizer que só porque a Mabel explora seus funcionários com jornadas absurdas e salários baixíssimos, os funcionários de outros setores têm de se contentar com qualquer trocado, acreditar em qualquer conversa fiada de que o limite do aumento é mesmo aquele que dizem? Vamos mesmo nivelar por baixo?
E o que dizer dos professores? Pouquíssimos aderiram. Por isso eu acho bom quando alguns do estado vão pra capital tomar borrachada e spray de pimenta na cara. Não sabem o valor da sua função na construção social. Crêem estar além da classe trabalhadora. E aqui em Castilho, porque ganham um pouco mais (e, diga-se, menos do que merecem) todos se acham diferenciados. Andar com gente que limpa o chão, que carrega carga, que anda de bicicleta? Jamais!
Parece que ninguém entendeu qual o motivo do levante. Se olhassem atentamente os rostos dos grevistas saberiam que ninguém ali quer quebrar as finanças da prefeitura. Todos sabem da responsabilidade que o prefeito tem perante a lei de responsabilidade fiscal e o TCE. O que todos anseiam, a sede popular é por IGUALDADE! Acreditem, formar uma revolução popular não é coisa simples de se conseguir, não. Se chegou ao ponto que está é coisa que já vem se arrastando há muito tempo.
O recorte social é esse. A luta entre as classes está aí, atuante como sempre. Claro, nem todos conseguem enxergar. Talvez por falta de empatia, talvez por falta de identificação, ou talvez porque querem as coisas como estão. O povão, sem sofisticação, sem sobrenome, sem ouvir Caetano, segue unido, forte, brigador. E nós aqui do blog seguimos sonhadores, idealistas, pregando um mundo onde não seja tão absurdo um doutor andar de carro popular e um serviço geral sonhar com um futuro melhor.

Opositores

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